Fevereiro começou com a Forbes atualizando a lista das pessoas mais ricas do mundo e o nosso Tony Stark da vida real deixou o posto de pessoa mais rica do mundo: o novo homem mais rico do mundo é Bernard Arnault, do grupo de luxo LVMH, que ocupava a segunda posição no ranking desde junho do ano passado.
Enquanto as ações da Tesla acumularam uma queda de dois dígitos em janeiro (fruto, principalmente, da desaceleração nas vendas e na crescente competição com os carros elétricos chineses), a LVMH de Bernard Arnault anunciou um aumento de 9% na receita de 2023, para US$ 94 bilhões.
Claro que a lista da Forbes não é uma medida exata das pessoas mais ricas do mundo: tem muita gente (especialmente políticos oligarcas) que querem passar bem longe dos holofotes e utilizam diversos veículos jurídicos e tributários para dispersar seu patrimônio. Porém, analisar os segmentos de onde vem esses bilionários diz muito sobre o cenário econômico e de investimentos.
Bernard Arnault: “Look at me, i'm the captain now”
A LVMH – formada pelas fusões dos grupos Moët et Chandon (produtora de champagne) e Hennessy (produtora de conhaque) e, posteriormente, do grupo resultante com a Louis Vuitton (vestuário) – é detentora de marcas como TAG Heuer e Hublot (relógios), Sephora, Rimowa (artigos de viagem), Loro Piana (vestuário – marca que é o epítome do quiet luxury) e Veuve Clicquot (bebidas).
No mundo luxo, a LVMH nada de braçada e junto com outro conglomerado francês, o Kering – dono de marcas como Balenciaga e Gucci, fundado por François Pinault e hoje comandado pelos filhos de Pinault em uma pegada estilo Succession – dominam o mercado de luxo mundial. Os franceses realmente entendem de luxo.
Acontece que: desde a pandemia, o setor de luxo mundial aumentou constantemente e tem mostrado resiliência. De acordo com especialistas no tema, no pós-covid, a reabertura da economia chinesa e de outros grandes países do mercado asiático, como o Japão, contribuiu para os excelentes resultados do segmento.
Mas não tem sido só a China e mercados emergentes que têm grande apetite por produtos de luxo: morando na casa dos pais e vivendo de salário em salário, os millennials (aqueles nascidos entre os anos 80 e a metade dos anos de 1990) e geração Z (aqueles nascidos na metade dos anos de 1990 e 2010) de países desenvolvidos têm sido grandes consumidores de produtos de luxo.
É bem conhecido o fenômeno do consumo de produtos de luxo por pessoas de países emergentes: produtos de luxo dão um status social que reforçam uma hierarquia econômico-social de países tradicionalmente desiguais. Ostentar marcas é coisa de emergente.
Mas o que explica essa nova geração de jovens de países desenvolvidos – em especial, americanos – que mal têm dinheiro para dar entrada em uma casa (o famoso sonho da classe média americana até alguns anos atrás) mas que gastam milhares de dólares em uma bolsa de luxo?
Bem, os especialistas ainda não chegaram a um consenso, mas há alguns indícios.
Primeiro é que esses jovens estão acostumados com a “uberização” de bens. Enquanto os pais (geração X) e os avós (baby boomers) prezavam pela aquisição de bens duráveis (uma casa no subúrbio, um carro utilitário, etc), os jovens têm cada vez mais optado pelo modelo de uso compartilhado e pela utilização do serviços (em oposição à posse do bem): você não precisa ter um carro para transporte, basta chamar um uber. Da mesma forma, não precisa ter uma casa de praia, só fazer uma reserva pelo AirBnB.
Segundo ponto é o aumento do custo de vida: o custo de vida nos países desenvolvidos aumentou nos últimos anos. A inflação nos países desenvolvidos – em especial, nos EUA – tem dado as caras e afetado o consumo das famílias. Uma inflação de 3~4% ao ano, nada comparada a inflação que países emergentes que costuma chegar a dois dígitos – mas quem não tem costume de ver o preço do mercado subindo, uma subida de preços assusta. Isso sem falar do contingente de jovens presos a débitos estudantis e o custo crescente das hipotécas.
O último, e mais controverso, são as redes sociais: o TikTok é a rede social que os americanos mais gastam dinheiro e são influenciados. E por lá, tem rolado um culto às marcas e ao universo de luxo. O tal do marketing digital e do efeito rede.
A consequência disso tudo? Os jovens de países desenvolvidos continuam a morar com os pais para economizar no aluguel e gastam seu salário com itens supérfluos e produtos de luxo, já que não tem perspectiva (e nem mais o sonho) de comprar uma casa própria e não vão andar a pé porque tem uber.
Os jovens (milennials e geração Z) tem sido ávidos consumidores de produtos de luxo. Fonte: Rakuten e Vogue Business
No final, quem está ganhando com tudo isso é Bernard Arnault, o empreiteiro francês que resolveu se arriscar no mundo do luxo e através de uma estratégia agressiva de aquisições, construiu um império de luxo com quase uma centena de marcas e faturou 86.2 bilhões de euros apenas em 2023.
Receita da LVMH por região em 2023
E sobre o título desse texto, sobre como a lista da Forbes pode te ajudar a investir? Bem, se essa dinâmica de consumo intergeracional se manter, é provável que daqui alguns anos a lista das empresas e segmentos mais valiosos do mundo mude. Os baby boomers não consomem da mesma forma que os millennials e isso vai impactar as receitas das empresas. É ficar de olho e fazer suas apostas!
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