Há poucos dias, o banco UBS anunciou que Sylvia Coutinho será a CEO do UBS no Brasil e na América Latina para os negócios do banco, após a aquisição global que o banco fez do Credit Suisse, que tinha operações no Brasil. O CEO do Credit Suisse no Brasil, Marcello Chilov, vai comandar a gestão global de patrimônio do UBS na América Latina. Embora tenha passado batido por muitos, essas movimentações são mais uma página de uma era do mercado financeiro: a era Garantia.
Nós explicamos: se a semente dos bancos comerciais está nos bancos de lavoura, a semente do mercado financeiro brasileiro como conhecemos hoje está no banco Garantia, fundado em 1971 por Jorge Paulo Lemann e outros sócios de peso, e incorporado ao Credit Suisse no Brasil em 1998.
Dessa grande “escola” que foi o Garantia, surgiram figurões do mercado financeiro como o Pactual, o BTG, a Ambev (afinal, “a Ambev é um banco que vende cerveja”), a 3G (dona de marcas como Kraft Heinz e Burger King) e uma série de gestoras e pessoas que contribuíram para que o mercado financeiro brasileiro se tornasse mais desenvolvido e complexo e passasse a integrar o sistema financeiro mundial.
O Garantia
O Garantia. Ah, o Garantia. Alma Mater de nomes do mercado financeiro brasileiro (e mundial, inclusive), o banco de investimento fundado em 1971 no Rio de Janeiro por Jorge Paulo Lemann (JPL), Adolfo Campelo Gentil, Luiz Cezar Fernandes, entre outros.
Iniciou suas operações focado em fornecer serviços de câmbio e assessoria financeira e desde cedo mostrou-se líder em inovação e na oferta de produtos estruturados no mercado financeiro brasileiro. A cultura de trabalho duro (incluindo noite e noites viradas no escritório), audácia e faca nos dentes fez com que a imprensa apelidasse o Garantia de “a Goldman Sachs brasileira”, em referência ao lendário banco global de origem americana. Como uma grande escola de formação de profissionais de finanças, dali surgiram figurões como Marcel Telles, Beto Sicupira, André Esteves, entre outros grandes nomes atuais do mercado brasileiro.
O Garantia conseguiu sobreviver ao choque do petróleo, aos planos econômicos fracassados e à hiperinflação dos anos 70 e 80 e no início dos anos 90. Quando já estabelecido os produtos de investimento e câmbio (como derivativos e títulos em dólares, o que ajudou a atrair investidores estrangeiros para o mercado brasileiro), passou a atuar no segmento de fusões e aquisições.
A mais famosa dessas aquisições foi das Lojas Americanas, em 1982. O boato na época era que a compra das lojas se deu principalmente devido ao grande número de lojas físicas da empresa, e não tanto pelo negócio em si. Além disso, acredita-se que devido à má gestão da empresa, seu valor era baixo, e se não gerasse lucro, a venda dos imóveis das lojas poderia cobrir o valor da aquisição. Verdade ou não, os executivos do Garantia visitaram pessoalmente Sam Walton, o bilionário americano dono do Walmart para pegar insights de negócios e aplicar no Brasil.
Depois das Americanas, teve outra compra emblemática: a cervejaria Brahma. Dizem que essa foi uma compra que os sócios só ficaram sabendo depois da compra, que JPL chegou no Garantia e deu um aviso no estilo “Aí galera, comprei uma cerveja pra gente gerir”. O racional da compra? Olharam a lista dos bilionários sul-americanos e todos tinham uma característica em comum: serem donos de cervejarias.
O Garantia E O CSFB
Embora as operações de fusões e aquisições iam de vento em popa no Garantia, o banco não passou ileso pelas grandes crises financeiras que aconteceram no final dos ano 90, e em 1998 o banco passou a enfrentar problema de liquidez e pressões financeiras relacionadas a perdas causadas em operações derivativos e câmbio. É aquele ditado: inflação aleija, câmbio mata. Nesse cenário, a sobrevivência do Garantia se deu pela venda aos suíços: o banco Garantia foi adquirido pelo Credit Suisse-First Boston (CSFB), depois de uma briga travada com a Goldman Sachs para ver quem levava o figurão brasileiro. Talvez o fato de Lemann ter ascendência suíça e ter estagiado no Credit Suisse tenha jogado à favor do CSFB no deal, vai saber.
A aquisição pelo CSFB permitiu a continuidade das operações do banco sob a nova gestão. Mesmo mantendo o espólio, a cultura e muitas pessoas, a aquisição do Garantia pelo CSFB marcou o fim de uma era no mercado financeiro brasileiro.
As Dissidências do Garantia
A escola Garantia, nessas quase 3 décadas de história, formou uma quantidade enorme de profissionais que se espalharam pelo mercado e criaram instituição à la sua alma mater.
O mais famoso de todos, talvez, seja o banco Pactual, que surgiu de uma dissidência de sócios do Garantia, capitaneado por Luiz Cezar Fernandes, André Jacurski e Paulo Guedes em 1983. O Pactual iniciou com uma proposta de serviços e uma cultura parecida com o Garantia, e em poucos anos tornou-se uma das instituições financeiras mais competitivas do mercado brasileiro, que culminou com a abertura de capital na Bolsa brasileira em 2006 e a sua venda bilionária aos suíços do UBS (olha eles aí de novo) no mesmo ano.
Em 2008, durante a crise mundial, André Esteves liderou um grupo de executivos e investidores que comprou o controle do Banco Pactual de volta do UBS. Após a recompra, o banco retomou sua independência e se tornou conhecido como BTG Pactual. A lenda do mercado é que BTG significa “Back to The Game”, embora oficialmente digam que signifique Banking and Trading Group. E na recompra do Pactual ainda operaram os gringos do UBS: o banco foi vendido a US$3,1 bilhões de dezembro de 2006 e recomprado a US$2,5 bilhões em maio de 2009 . Skills.
Além do Pactual e do BTG Pactual, da Ambev e da 3G, outras dissidências do Garantia incluem gestoras como JGP (fundada por Paulo Guedes e André Jakurski), SPX (fundada pelo ex-Garantia Rogério Xavier), Gávea Investimentos (de Armínio Fraga), entre outros.
A Alma do Garantia No Mercado Brasileiro
E o que tinha o Garantia de tão especial, a ponto de marcar tão fortemente a trajetória do mercado financeiro brasileiro, concorrer de igual pra igual com grandes players gringos e criar talentos que fundaram outras instituições de ponta? Diversos fatores, mas o principal era a cultura.
O Garantia tinha uma cultura única dentro do cenário empresarial brasileiro: em uma cultura paternalista, o Garantia não permitia que familiares fossem empregados no banco. Além disso, o sobrenome não importava se você não tivesse gás: o banco gostava de PSDs – poor, smart and desperate to get money. E produzia um incentivo que dava certo: pagava salários abaixo do mercado, mas com bônus que podia chegar a múltiplas vezes o salário se os funcionários batessem sua meta. A recíproca também era verdadeira, e o Garantia não tinha dó de mandar para casa quem por muito tempo não batesse as metas. Partnership também era uma estrutura de incentivo muito utilizada: os melhores funcionários, além do bônus, passavam a ser sócios (donos) do banco, em um modelo inspirado na Goldman Sachs. Além disso, a cultura de inovação e ousadia foi essencial: no país da renda fixa, o Garantia passo a ofertar produtos de câmbio e renda variável que abriram novas possibilidades de investimento, tanto para gringa investir no Brasil, quanto para empresas brasileiras atuarem na gringa.
O lendário banco também teve papel essencial no desenvolvimento do Condado: nos anos 90, enquanto as empresas do mercado financeiro se dividiam entre São Paulo e Rio de Janeiro, os escritórios de São Paulo estavam majoritariamente localizados na Avenida Paulista (após a migração vinda do Centro da cidade). O Itaim e Faria Lima ainda era um bairro provinciano, que acabara de ser beneficiado pela multiplicação das faixas de trânsito e urbanização feita por Paulo Maluf, quando o Garantia resolveu se mudar para a região devido aos aluguéis mais baratos. A vinda do Garantia para a Faria Lima logo foi acompanhada por outras instituições financeiras, vindas tanto do centro de SP e da Avenida Paulista quanto do Rio de Janeiro, dando essa cara de distrito financeiro que conhecemos hoje.
O FL3064: diz a lenda que se você passar em frente e disser “Garantia” três vezes, seu bônus é abençoado
O Garantia ficava no 3064 da Faria Lima, e por alguns anos o Credit Suisse funcionou por ali, até se mudar para o Edifício Infinity (o famoso Bucetower), no 700 da Leopoldo. Ali no FL 3064 também funcionavam outros bancos de investimentos, como o HSBC, e eram famosas as rixas entre os funcionários do Garantia com os outros bancos, do tipo deixar bilhetinho no carro do outro no estacionamento do prédio, zoando a performance do banco rival. Sobre carros, ainda é famosa a história da cegonha com uma leva de carros importados que foi estacionada na frente do prédio para entregar os carros encomendados pelos funcionários após um ano de bônus bom. Bons tempos.
A xerifona SEC e o Mercado Americano
Nos EUA, a SEC está indo pra cima das corretoras de moedas digitais. Fim desse mercado? Só se você acreditar que exista vácuo de dinheiro (e de poder)… Saem alguns tubarões, entram outros.
Para quem não acompanhou, nas últimas semanas a CVM americana colocou em prática grandes investigações sobre corretoras de criptomoedas. Em questão de dias, duas grandes exchanges passaram por verdadeiros terremotos.
Como acontece toda vez que alguma notícia afeta esse universo, os preços de diversas moedas digitais recuaram. Dessa vez, porém, com uma diferença: o recuo durou pouco tempo. E não foi porque “quando cai é hora de comprar”: a diferença foi quem entrou…
JPMorgan, BlackRock, Fidelity, Goldman Sachs, Citadel e Charles Schwab são alguns dos grandes nomes do mercado que, diante dessa queda, ampliaram os projetos que já estavam em operação em tecnologias cripto e blockchain.
Existem duas grandes explicações para essa movimentação: (1) demanda pelas tecnologias e pelas próprias moedas digitais por grandes players institucionais e (2) o rastro regulatório que vem sendo deixado pela SEC, que assustou as exchanges de um lado, mas animou as tradicionais baleias de Wall Street.
Essas duas explicações tem um ponto em comum: tokenização.
Bancos e grandes corretoras dos EUA estão buscando converter ativos do mundo real em tokens digitais com a tecnologia blockchain, para ganhar eficiência e reduzir custos. O negócio parece dar trilhão: de acordo um estudo do Citigroup, até 2030 haverá cerca de US$ trilhões de títulos do setor privado tokenizados, abrangendo desde dívida corporativa e garantias até ativos alternativos. Fora o que vai ser emitido em moedas digitais emitidas por bancos centrais.
Esse tipo de oportunidade mostra por quais motivos gente tão graúda não deixou essa peteca cair - na verdade, muitos devem até ter comemorado essa queda.
Se apenas entidades reguladas podem atuar, as entidades já reguladas estão em vantagem.
Essa tendência não fica só na gringa: a Foxbit oferece diversos serviços B2B em rede blockchain, para aumentar a eficiência dos negócios.
Tem também o Foxbit Pay, que é um jeito mais barato, rápido e confiável de pagar e receber pagamentos digitais. Permite que empresas e lojas on-line possam receber seus pagamentos em criptomoedas, seja em bitcoins ou em qualquer uma das mais de 78 moedas listadas na exchange da Foxbit. Acesse o site da Foxbit e aprenda mais.
Muitos Erros. Andre Esteves nunca foi Garantia. Não foi fundador do Pactual. Fundadores JGP estão errados...Luis Fernando Figueiredo nunca foi JGP (Jakurski, Guedes and Partners).
E as inovações trazidas pela TI do Garantia também contribuíram para trazer produtividade, eficiência e segurança ao exigente mercado financeiro