Agosto de Deus - CondadoView
Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa de almoço.
China - brincando com fogo
Já estamos ficando cansados de esperar sentado os estímulos de verdade do governo chinês. Vai se criando a percepção de que a turma não está tão realmente preocupada com a desaceleração em vigor no curto prazo, principalmente depois da grande frustração com os dados econômicos nessa semana. O setor industrial cresceu bem menos que o esperado, enquanto a contração do setor imobiliário vai ficando ainda mais evidente, ganhando uma percepção de risco de crédito mais agudo e afetando até outros setores. Mas mais importante do que isso, a contração das vendas no varejo em julho foi o que mais preocupou os participantes do mercado, que agora pode ver uma China realmente tendo contração de consumo doméstico e com um dos importantes motores falhando no curto prazo. Não dá mais para esperar uma recuperação séria do setor imobiliário, e principalmente de demanda por aço, até porque o estoque de aço voltou a subir e não deve normalizar tão cedo. Infelizmente, China continuará sendo um vento negativo para o Brasil por mais tempo do que antecipado.
EUA - Fed parou? mercado corrigindo?
O mês de agosto está se provando mais doloroso do que qualquer investidor esperava, com queda nos índices acionários e também no mercado de renda fixa, com as taxas abrindo de maneira expressiva e mesmo sem grandes novidades de política monetária. E vocês aí achando que Brasília e COPOM é realmente o que importa para cenário de risco. Esquece, se lá fora não estiver bom, aqui não vai ir em direção oposta, até porque o local está olhando para fora e ajustando risco em função do apetite e dos ventos que vem de lá. Brasília é uma grande cereja do bolo que vai intensificar ou não os movimentos.
A economia americana segue muito forte, com resultados acima do esperado para varejo e indústria e a percepção de que não vai parar por aí. O cenário de não recessão já foi incorporado até pelo Fed e só falta a curva de juros corrigir essa precificação, o que pode ocorrer em breve. A ata do Fed mostrou que o pessoal ainda vê espaço para novo aperto monetário, mas agora está ainda mais dependente dos dados nos próximos meses. E a doleta vai ganhando força no meio disso tudo, com aversão ao risco nos mercados, no mesmo momento em que todo mundo está projetando um crescimento mais forte do que anteriormente. Cenário de dólar forte voltando para o radar e o Real brasileiro apenas respondeu a isso, independente do que aconteça no ambiente doméstico.
Brasil - o fiscal subiu no telhado?
Ainda nem aprovamos o novo arcabouço fiscal e o temor de que o governo, nem chegue perto da meta em 2024 é crescente. Claramente não tem da onde tirar dinheiro para atingir o primário de 0% do PIB no próximo ano, e o governo segue correndo atrás de receita, enquanto algumas pancadarias ocorrem em paralelo (tipo o ministro da fazenda e o presidente da câmara). O mercado sabe fazer conta e já entendeu que a meta não será cumprida. Isso está ok, agora queremos saber qual o total de esforço que o governo irá promover para chegar o mais perto possível, especialmente sinalizando isso pelo orçamento e pelas propostas posteriores. A reforma tributária vai ser rodada no meio tempo, e já começa a virar moeda de disputa, inclusive, entre as casas do Congresso. Passaremos o segundo semestre todo torcendo pelo corte de juros e chorando mais uma vez pelo fiscal. Se os EUA resolverem ajudar no último trimestre, ainda conseguiremos surfar num bull market. Até lá, seguiremos apenas sonhando.
Frase da semana
“A educação gratuita é abundante, por toda a Internet. É o desejo de aprender que é escasso””
Naval Ravikant