AI: As Duas Letras que Mudaram o Mundo
Já percebeu que agora um monte de coisa que tem a ver com internet ou software vem acompanhado da palavra ".ai"? É como se essas duas letrinhas fossem um tempero especial, que ao colocar na receita de uma empresa faz com que ela valha pelo menos 3x.
Talvez, seja por isso mesmo, que alguns analistas de mercado têm apontado que pode estar acontecendo uma certa bolha de ativos neste segmento, algo parecido com a bolha do dot.com.
Mas, será mesmo? Bem, à parte dos numerosos estudos de evolução e correlação de preços entre o movimento atual das empresas tech e o movimento que se passou ao final dos anos 1990 com a bolha do dot.com, um estudo recente do governo americano encontrou alguns achados que podem esclarecer essa pergunta.
Relembrando: Bolha do dot.com
A bolha do dot.com surgiu no final dos anos 1990, durante um período de entusiasmo generalizado em torno do potencial da internet para transformar os negócios e a economia. O crescimento acelerado da web e a criação de novos modelos de negócios online geraram expectativas muito altas entre investidores.
Esse otimismo foi alimentado por um ambiente de mercado caracterizado por baixas taxas de juros e alta liquidez, facilitando o fluxo de capital para startups de tecnologia. Os analistas da época frequentemente justificavam os preços exorbitantes das ações com previsões de crescimento futuro extraordinário e a promessa de que a internet revolucionaria diversos setores.
De fato, a internet acabou revolucionando a vida moderna, mas muitos investidores negligenciavam os fundamentos financeiros tradicionais, como lucros e receitas, apostando no potencial disruptivo de algumas empresas que, com o tempo, viram que não era tudo isso que se pensava.
E foi justamente aí que a realidade começou a se impor: quando os investidores perceberam que muitas das startups não tinham modelos de negócios sustentáveis e que suas avaliações eram baseadas em especulações exageradas. Fatores como quebra de empresas (startups) de tecnologia e a subida de juros nos EUA e recessão no Japão são alguns dos elementos que os analistas apontam como o gatilho para o estouro da bolha.Isso levou a uma venda maciça de ações, causando um colapso no valor de mercado dessas empresas.
Um gráfico bonito e complicado, pra te mostrar o descolamento entre o índice acionário e a lucratividade das empresas durante a bolha do dot.com
Apesar disso, nem todas as empresas do período eram bolhas. Algumas, como Amazon e eBay, possuíam fundamentos sólidos e modelos de negócios viáveis. Essas empresas sobreviveram ao estouro da bolha e se tornaram líderes em seus respectivos setores, demonstrando que, embora a especulação tenha inflacionado o valor de muitas empresas, havia verdadeiras oportunidades de inovação e crescimento sustentável na era da internet.
A grande sacada ali era separar o joio do trigo e identificar quais empresas teriam um futuro e quais eram apenas fogo de palha. Easier said than done.
A Tal da AI
Ok, você vê essas duas letrinhas em todos os lugares, mas sabe exatamente o que significa e pra que serve? Ou acha tudo é um grande chat GPT?
A inteligência artificial (IA) é, basicamente, um campo da ciência da computação que visa criar sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana. Isso inclui habilidades como aprendizado, reconhecimento de padrões, tomada de decisão e compreensão de linguagem natural. Na área de ciência da computação, o termo "linguagem natural" é frequentemente usado em conjunto com "Processamento de Linguagem Natural" (PLN ou NLP, em inglês), que é um subcampo da inteligência artificial. O PLN envolve o desenvolvimento de algoritmos e sistemas que permitem que as máquinas compreendam, interpretem e respondam à linguagem humana de forma significativa. Exemplos práticos de aplicações de PLN incluem assistentes virtuais como Siri e Alexa, tradutores automáticos, chatbots, análise de sentimentos em mídias sociais, e sistemas de reconhecimento de fala.
A IA pode ser dividida em duas categorias principais: IA estreita (ou fraca), que é projetada para realizar uma tarefa específica, como reconhecimento facial ou recomendação de produtos; e IA geral (ou forte), que seria capaz de realizar qualquer tarefa cognitiva que um humano possa fazer. Embora a IA geral ainda seja um conceito teórico, a IA estreita já é amplamente utilizada em diversas áreas (mais sobre isso na próxima sessão).
Os usos práticos da inteligência artificial são vastos e incluem setores como saúde, onde é utilizada para diagnósticos e tratamento personalizados; finanças, para análise de risco e detecção de fraudes; transporte, com o desenvolvimento de veículos autônomos; e atendimento ao cliente, através de chatbots e assistentes virtuais. Os principais usuários da IA são empresas de tecnologia como Google, Microsoft e IBM, que desenvolvem e implementam soluções de IA em seus produtos e serviços. Além disso, setores como a indústria automotiva, financeira, de saúde e comércio eletrônico são grandes usuários de tecnologias de IA, visando aumentar a eficiência, melhorar a experiência do cliente e inovar em suas operações.
AI: É Pavê ou Pacumê?
Ok, muito bonito na teoria. Mas e a prática?
Bem, foi isso que os funcionários do IBGE americano (o Census Bureau) fizeram. Em uma pesquisa recente conduzida por Kathryn Bonney e colegas, os pesquisadores olharam as respostas de um formulário que o governo americano manda para as empresas responderem, o Business Trends and Outlook Survey (BTOS), que contém perguntas que medem as condições dos negócios e fornece informações sobre o estado da economia com dados sobre as principais medidas econômicas e empresariais quinzenalmente.
E no relatório havia perguntas sobre a utilização de AI pelas empresas, tanto de tecnologia quanto as de não tecnologia.
Os achados foram:
(1) A taxa de utilização de IA pelas empresas na produção de bens e serviços está aumentando, com uma taxa de utilização de cerca de 3,7% no último trimestre de 2023, para cerca de 5,4% em fevereiro de 2024 e espera-se que aumente para cerca de 6,6% no 4T2024. A taxa de utilização de IA em uma base ponderada pelo emprego é mais elevada e espera-se que aumente para cerca de 12% até o 4T2024, um número alto e que aponta a aceleração na adoção da tecnologia..
(2) A utilização da IA apresenta variações substanciais entre setores e estados. O setor da informação lidera a taxa de utilização com 18,1% atualmente e espera-se que suba para 21,5% nos próximos seis meses. Isto contrasta com o setor da Construção Civil, com uma taxa de utilização atual de 1,4% e 2,2% nos próximos seis meses.
(3) A utilização da IA, embora especialmente elevada nas maiores empresas, apresenta um padrão em forma de U no que diz respeito ao tamanho da empresa: a utilização da IA diminui com a idade da empresa numa base pondera e tem uma relação em forma de U numa base ponderada pelo emprego, para utilização atual e futura. Estes padrões em conjunto sugerem que algumas aplicações de IA (por exemplo, IA generativa) podem ser tecnologias de uso geral que não envolvem grandes custos fixos, tornando-as mais atraentes para empresas jovens e pequenas.
(4) Embora a utilização da IA pareça ser geralmente persistente ao nível da empresa, cerca de um em cada sete utilizadores de IA não espera continuar a utilizar a IA num futuro próximo, o que indica potencialmente algum grau de experimentação contínua ou utilização temporária que pode resultar em desvalorização.
(5) A automação de marketing, os agentes virtuais, o processamento de linguagem natural e a análise de dados/texto parecem ser as aplicações de IA mais utilizadas pelas empresas, e a sua utilização aumentará num futuro próximo.
(6) Embora muitas empresas utilizem a IA para substituir as tarefas dos trabalhadores e os equipamentos/softwares existentes, há poucas evidências de que o uso da IA esteja associado a um declínio no emprego empresarial. Na verdade, um aumento no emprego como resultado do uso da IA é mais comum do que uma diminuição. Embora se espere que ambos os tipos de alterações (aumento e diminuição) se tornem mais comuns num futuro próximo, a incidência destas alterações permanecerá baixa em relação à ausência de alterações. Da mesma forma, uma fração substancial das empresas que utilizam a IA para substituir as tarefas dos trabalhadores utiliza-a para substituir apenas um pequeno número de tarefas dos trabalhadores – um padrão que se espera que permaneça praticamente o mesmo num futuro próximo.
(7) As empresas que utilizam IA geralmente têm um desempenho melhor do que os não utilizadores e esperam fazê-lo no futuro. Eles também experimentam mais comumente expansões de emprego do que contrações em comparação com os não usuários.
(8) As mudanças organizacionais mais comuns para acomodar a IA são a formação dos trabalhadores existentes, o desenvolvimento de novos fluxos de trabalho, a aquisição de serviços/armazenamento em nuvem e a alteração das práticas de gestão/recolha de dados.
(9) A principal razão pela qual as empresas não esperam utilizar a IA num futuro próximo é a inaplicabilidade da tecnologia a uma empresa. A falta de conhecimento sobre as capacidades da IA é a segunda razão, mas muito menos comum.
É Bolha Ou Não é Bolha?
Pela pesquisa inicial de Bonney e a equipe do Census Bureau, a IA tem sido, aos poucos, adotada pelas empresas americanas de diversos setores. Isso indicaria que há fundamentos robustos na área.
Na bolha do Dot.Com, muitas empresas sumiram, muitas outras se provaram robustas
Porém – e é aí que reside a mágica – isso não quer dizer que todas empresas que se dizem fornecedoras destes serviços (sejam empresas B2B ou B2C) são a nova mina de ouro do século XXI e que você deveria comprá-las a qualquer preço. Também, de modo oposto, não quer dizer que todas as empresas de tecnologia e/ou inteligência artificial estão sobreavaliadas e caras.
Assim como foi ao final dos anos 90, é agora: saber escolher. Há empresas boas e há empresas ruins. Seu papel é diferenciar uma das outras, como faziam os maias e os astecas, ou como faziam Ben Graham e Charlie Munger. Boa sorte!
Gostou desse conteúdo? Ele foi viabilizado pela nossa parceria com a Avenue, a maior e melhor corretora brasileira para te dar acesso ao mercado financeiro dos EUA, permitindo investir em ações, títulos de renda fixa, ETFs, fundos de investimento e demais ativos do maior e mais dinâmico mercado financeiro do mundo. Na Avenue é bem simples acessar o mercado financeiro americano: além dos ativos tradicionais de renda variável (ações, ETFs de bolsa, etc) e renda fixa (bonds, fundos e ETFs), dá pra alugar suas ações, ETFs, REITs e ADRs em carteira, possibilitando uma renda extra em dólar. Entre no site da Avenue e conheça mais a empresa, os serviços de investimento disponíveis, o mercado americano e encontre materiais que ajudam a guiar suas decisões de investimentos.
DISCLAIMER: essa newsletter não é recomendação de investimentos e os insights aqui contidos são de cunho educacional.