Bolha de Inteligência Artificial?
Mercado financeiro vive a farejar novidades, tentando encontrar qual será o novo segmento que irá “disruptar” a atividade econômica e produzir mudanças que impactaram a vida das pessoas e, consequentemente, o preço dos ativos. Há poucos anos, os olhos (e dinheiro) estavam no metaverso, mas a adesão das pessoas à essa tecnologia foi menor do que o esperado, levando a uma revisão das expectativas e da valuation dos ativos – META talvez seja o melhor termômetro para esse refugo. Mas isso não acaba com as esperanças por novidades do mercado, não. Agora, a febre é Inteligência Artificial.
Desde o lançamento do ChatGPT pela OpenAI no final de 2022, os olhos se voltaram para a inteligência artificial e empresas do segmento. Só para ter uma ideia, As referências à IA e termos relacionados durante teleconferências com investidores aumentaram 77% em relação ao ano anterior, segundo a Bloomberg. Agora é só “Artificial Inteligence” pra cá, “Machine Learning” pra lá, e um batalhão de analistas acompanhando os últimos acontecimentos no setor – que incluem até os conflitos geopolíticos entre EUA e China por Taiwan, sede da maior produtora de chips do mundo, item essencial para o desenvolvimento desse segmento. E essa corrida já fez um grande vencedor (e um grande bilionário): a Nvidia, fabricante de chips gráficos com alta capacidade de processamento.
Se o(a) leitor(a) foi um adolescente normal dos anos 90-00, é provável que já a conheça. Os mimilennials que frequentavam lan houses e depois passaram a jogar Counter Strike em casa costumavam montar PC gamer sabiam que precisavam de uma boa placa de vídeo para rodar o jogo e a melhor opção eram as placas da Nvidia. Games estão, inclusive, na fundação da Nvidia por Jensen Huang, atual CEO da empresa.
No início da década de 90, os jogos eram em 2D. Jensen, o taiwanês que passou a infância na Tailândia e depois se mudou para os EUA e estudou em Stanford, apostava que o segmento cresceria muito, criou uma empresa que desenvolve chips específicos para acelerar processamento de gráficos. “Acelerar” e “gráficos” são palavras importantes e que ajudam a explicar a relevância da empresa.
Existem dois tipos principais de chips: CPU (Central Processing Unity) e GPU (Graphic Processing Unity). A CPU é o “cérebro” do computador, que processa diversas de forma sequencial, ou seja, um comando de cada vez. Já o GPU é um chip que ajuda a CPU a realizar tarefas de forma mais rápida ao assumir e rodar em paralelo algumas tarefas, deixando a CPU focada em tarefas principais (rodar o sistema operacional, por exemplo). A GPU funciona como um acelerador computacional: ao assumir tarefas da CPU (que roda sequencialmente) e realizá-las de forma paralela, permite que grandes tarefas computacionais sejam realizadas de forma mais rápida (como, por exemplo, analisar uma base de dados gigantesca e transformá-la em imagens ou relatórios estatísticos).
Era por isso que você comprava a placa de vídeo Geforce da Nvidia pra jogar Counter Strike: enquanto o chip da Intel rodava o sistema operacional (Windows, por exemplo), o chip da placa de vídeo rodava em paralelo melhorando a qualidade da imagem do jogo.
A Nvidia é líder em design de chips no mundo, mas quem o produz é TSMC (Fonte: twitter/invesquotes)
Acontece que a Nvidia sacou que só games não seria suficiente e passou a oferecer soluções para outros para outros segmentos, em especial para o processamento rápido de dados. Fez isso ao produzir chips que vinham com um sistema operacional embutido, o CUDA, software grátis (mas de arquitetura fechada) que vinha com uma biblioteca de códigos, debuggers e APIs. Assim, as empresas que compravam seus chips conseguiam programá-los conforme a necessidade de seu negócio. Isso lá nos anos 90.
Daí que Microsoft, Google e outras gigantes adotaram os chips da Nvidia como acelerador computacional para processamento de dados e otimização de processos.A computação acelerada numa escala de data center, combinada com machine learning, conseguiu acelerar a computação em um milhão de vezes. A computação acelerada viabiliza modelos de Inteligência Artificial como os da OpenAI, que desenvolveu o ChatGPT.
O CUDA deu a Nvidia um pioneirismo que a coloca hoje em um patamar muito a frente das concorrentes, sendo muito mais do que uma simples produtora de chips (na verdade, ela faz o design, quem manufatura mesmo é a TSMC – uma velha conhecida de quem acompanha essa encíclica) para uma plataforma computacional utilizada por gigantes da tecnologia, justificando o grande buzz ao redor da ação.
Só para se ter uma ideia: a ação da Nvidia está com a melhor performance no ano, acumulando uma alta de 166% no ano (até 26 de maio), o que puxou o Nasdaq 100 (indicador de alta tecnologia do mercado acionário americano) para ao redor do 30% de ganho no ano. E o resultado poderia ser maior, se não fosse a proibição lançada pelo governo americano no final do ano passado que impede a empresa de vender produtos de alta tecnologia para a China. A perda de receita estimada, segundo a empresa, é de cerca de US$ 400 milhões por trimestre. Mas isso não parece desanimar a empresa: nas palavras do CEO na última conferência de resultados, a empresa espera que as receitas geradas com as vendas de equipamentos para sistemas de inteligência cresçam de “uma pequena fração”, na casa de 1 dígito, para uma participação “bastante grande” nos próximos 12 meses.
Há quem comece a apostar, porém, que talvez estejamos vendo o início de uma nova bolha, a bolha dos chips semicondutores. Pelo menos, é o que o Bank of America falou esses dias ao apontar que talvez estejamos vendo o início de uma bolha da Inteligência Artificial, que poderia ser estourada pela subida de juros americanos.
Fonte: Bank of America via Bloomberg
Enquanto isso, outra discussão que rola é o papel da AI na substituição de mão-de-obra e seu impacto no mercado de trabalho. Esse assunto, porém, vale uma carta inteira sobre o tema: cenas dos próximos capítulos.
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Frase da semana
Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só.
Maquiavel
Economia em dia
O mercado realizou que o fed não está para brincadeira e que não só não vai cortar juros, como também pode continuar subindo juros. O mais curioso é que a trend de tecnologia é tão forte que está ignorando os movimentos da curva de juros. Aliás, tecnologia é o novo mercado emergente.
A China, o que todo mundo está esperando é que o Banco Central abra a torneira do estimulo, mas há uma grande preocupação com a margem dos bancos e a estabilidade financeira. Não espere um rebound do minério de ferro tãocedo.
No Brasil, tudo está dando certo ao mesmo tempo. Inflação desacelerando, pautas aprovadas, juros caindo e programas malucos - mas dentro de algo que o mercado consegue ignorar. Vamos ver até quando, mas teremos algum tempo para curtir a tendência e colocar algum no bolso. Claro, no Brasil, você precisa saber onde está a saída de emergência das festas.