Briga de Comadres - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Semaninha mais curta, mas nem por isso o mercado deixou de entregar entretenimento de qualidade para quem ganha a vida tentando dar sentido ao movimento dos preços.
Jerome Powell, presidente do FED, reconheceu que as tarifas têm potencial para pressionar a inflação, mesmo que de forma temporária. Também apontou o que muitos preferem ignorar: os aumentos anunciados até agora são maiores do que o esperado, e não há experiência recente lidando com tarifas desse porte. Alguém discorda disso?
Sim, alguém discorda. E esse alguém é ninguém menos que Donald Trump - o semi-chefe de Powell - que não gostou nem um pouco das declarações. Aliás, já deixou claro que prefere um presidente do FED mais obediente e, se possível, alinhado com sua visão nada ortodoxa de política monetária. Presidente populista ameaçando independência do FED? Temos.
Não precisou de muito mais do que isso para que o presidente Donald Trump partisse para críticas duras, tanto ao FED quanto a Jerome Powell. O mercado até tentou manter a compostura na quinta-feira (17): o S&P 500 ficou praticamente estável e os juros (yields) dos Treasuries subiram só 5 bps. Mas o caldo começou a engrossar de verdade quando Kevin Hassett, assessor econômico de Trump, sugeriu que a Casa Branca ainda estudava a possibilidade de se livrar do “intrometido” banqueiro central. Aí não teve mais sangue frio que segurasse. Na segunda-feira (21), o S&P 500 afundou -2,36% e o dólar (DXY) caiu -1,10%.
A essa altura do campeonato, o mercado já estava especulando as chances de Trump demitir Powell, mesmo após o presidente negar que faria isso. Mas, sinceramente, não parece plausível que ele leve essa ideia adiante. Não porque ele disse que não faria - sabemos como isso funciona -, mas porque os efeitos de minar a independência do Banco Central poderiam corroer seu próprio poder político. Vale lembrar que há eleições no meio do mandato, e esse tipo de desgaste pode custar caro: perder a Câmara ou o Senado.
Além disso, o mercado já deu seu recado: só a menção dessa possibilidade foi suficiente para provocar quedas generalizadas. Tudo despencando - reflexo dos choques de mercado com avaliações de ações permanentemente mais baixas e term premiums mais altos nos títulos. Em outras palavras, preços de ações e títulos mais baixos, ceteris paribus. E isso teria pouquíssima relação com o que o próximo presidente do Fed viesse a fazer, já que a volatilidade esperada da inflação e das taxas aumentariam. A simples ameaça já causou estragos, com o dólar atingindo mínimas de três anos e o S&P 500 acumulando uma queda de mais de 12% desde o pico de fevereiro.
Fonte: TrandingView
Fonte: Google
Caso Trump realmente decidisse levar adiante a ideia de demitir Powell, a troca seria clara: tentar impor uma política monetária “melhor”, aos olhos dele, em troca de um belo choque de mercado. Nada barato.
Enquanto isso, o nosso Brasilzão vai colhendo os frutos dessa confusão global. O enfraquecimento do dólar tem dado um empurrão nos preços das commodities, principalmente o petróleo, que ainda conta com o suporte de um crescimento chinês mais favorável no primeiro trimestre e os acenos da Opep com propostas de ajustes na produção no meio da semana. Um alinhamento raro e benéfico para quem exporta.
Dados de Mercado
Data-base: 23 de abril de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“Muitos são teimosos na busca do caminho que escolheram, poucos na busca do objetivo.” - Friedrich Nietzsche
Curiosidade da semana
As esponjas de vidro podem viver 15.000 anos. Isso as torna um dos organismos com maior longevidade na Terra . A água-viva imortal, no entanto, poderia teoricamente viver para sempre (mas os cientistas não têm certeza).