Rinha de galo, jogo do bicho ou máquina caça-níquel: experiências de entretenimento que o brasileiro conhece bem e não abre mão, mesmo com todas as proibições. Isso explica, provavelmente, a febre das apostas esportivas que tomaram conta do Brasil nos últimos tempos e mostrou sua força com os jogos da Copa. Uma evidência anedótica dessa força: basta checar as redes sociais de influencers ou de ex-jogadores de destaque para ver que todos eles estão fazendo propaganda de alguma casa de apostas. Isso sem contar os patrocinadores do brasileirão ou da Libertadores. Apostas esportivas são o novo day-trading? Só o futuro dirá, mas o público-alvo parece ser similar...
Apesar de ser um business bem estabelecido em países como Inglaterra e Estados Unidos, o mercado de apostas – principalmente, o de apostas esportivas – está apenas na sua infância em Terra Brasilis. Em 1946 foi estabelecida a proibição de jogos de azar no país e só na última década começou a haver leis no sentido de afrouxar a proibição. Mas, bem... O hábito de apostas e jogos de azar se manteve no espírito e no cotidiano do brasileiro. Inclusive, a proibição não foi fator que inibiu o brasileiro de participar do mercado de apostas: segundo uma pesquisa do jornal O Globo, 36% das pessoas no Brasil são praticantes de alguma modalidade de aposta. Quem se beneficiou muito dessas proibições foram os sites gringos de aposta, que seguiam a legislação dos países que estavam estabelecidos mas permitiam a estrangeiros apostar.
O grande crescimento no número de casas de apostas parece indicar ser um negócio lucrativo, mas não é tão fácil assim: para começar um negócio de apostas, além da licença para jogos de azar, são necessários um software especializado, conta de comerciante e um servidor dedicado. Além, claro, de um bom sistema de gestão de caixa: isso porque casas de apostas trabalham com jogos levemente viesados para si (i.e., em todas as apostas a casa é a contraparte e as probabilidades devem ser favoráveis à banca – mesmo que pequena – para que o business siga saudável) e operam com fluxos de receitas altas, mas que podem ser facilmente perdidas se não calibrar bem quais apostas poderão ser feitas.
Da parte do público que participa desse mercado, um estudo interessante (Kumar, 2009) mostrou o seguinte: pessoas que gostam de apostar também tendem a investir no mercado em ações que se assemelham a bilhetes de loteria, e vice-versa. Os bilhetes de loteria têm preços muito baixos em relação ao maior retorno potencial (ou seja, o tamanho do prêmio principal), têm retornos esperados negativos, seus pagamentos são muito arriscados (ou seja, a distribuição do prêmio tem uma variação extremamente alta) e têm uma variação extremamente probabilidade pequena de uma recompensa muito alta, ou seja, eles têm retornos assimétricos positivos. O estudo supôs que os investidores são mais propensos a perceber as ações de preços mais baixos (penny stocks) com potencial muito pequeno, mas positivo, para altos retornos como loterias. Ações com maior variância (ou maior volatilidade idiossincrática ou grandes retornos extremos) e retornos com assimetria positivos provavelmente serão percebidas como ações com alto potencial de retorno pelos investidores que gostam de apostar.
A conclusão foi interessante: investidores pessoa física investem desproporcionalmente mais em ações que se parecem com bilhetes de loteria (de maior volatilidade idiossincrática, maior assimetria e preços mais baixos, embora essas ações tenham retornos médios mais baixos). Em contraste, os investidores institucionais preferem ações com retornos médios mais altos, menor volatilidade idiossincrática, menor assimetria e preços mais altos. Além disso, a demanda de investidores individuais por ações do tipo loteria aumenta quando a economia as condições são ruins e essas mudanças de demanda influenciam os retornos das ações do tipo loteria.
E se esse estilo de investimento é rentável? Bem, aparentemente, não: de acordo com o autor, que utilizou dados do mercado americano, o desempenho da carteira de investidores que investem em ações do tipo loteria, têm um desempenho anual menor do que aqueles que não tem esse estilo de investimento, com uma performance inferior que é de aproximadamente 5% da renda familiar anual dos investidores. O mais importante: investidores pobres são os que mais estão suscetíveis a esse estilo de investimento.
Os motivos para que os investidores adotem uma postura de apostadores na Bolsa – em contraposição a uma postura mais fundamentalista e de foco no longo prazo – podem ser muitos, mas a literatura aponta a busca por sensações como um fator fundamental. Explicamos: as loterias dão às pessoas, especialmente às mais pobres, a esperança de uma vida melhor – por um custo muito baixo, eles podem sonhar em ficar ricas. Essas pessoas podem estar totalmente cientes de que as loterias têm retornos esperados negativos (ou que suas chances de vitória são muito baixas), mas, mesmo assim, podem exibir uma preferência por loterias porque uma chance remota de ganhar é percebida como melhor do que nenhuma chance de ganhar. Além dessa ilusão, também pode haver um elemento de “emoção” envolvido nas compras de loterias (aquele friozinho na barriga e a descarga de adrenalina decorrentes desse “perigo atraente”).
Como Markowitz bem apontou: alguns investidores podem “correr grandes chances de uma pequena perda por uma pequena chance de um grande ganho”.
Novas Possibilidades Para Sua Carteira
Para quem busca mais previsibilidade nos retornos em dólar e uma diversificação de riscos, a Avenue agora permite negociar bonds e outros ativos de renda fixa do mercado americano.
Ser o maior, mais complexo e mais dinâmico mercado financeiro do mundo tem o porquê: existe uma infinidade de investimentos que vão além de ações, como ETFs e fundos de renda fixa e bonds corporativos, esse último um mercado que nos EUA só é menor que o mercado imobiliário. Só não dar bola fora: não é por que é renda fixa que não varia.
Frase da semana
Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros.
Grouxo Marx
Economia e Mercado
Semana que antecede FOMC foi bem parada. Nada mais parece afetar mercado como deveria. Demanda mais forte em novembro, PPI acima do esperado e ainda assim a turma colocando 50 bps de corte de juros no 2H23. Quanto mais o mercado afrouxar as condições financeiras, mais a bigorna do Fed vai precisar bater. Claro, por outro lado, se Powel, não tirar o martelo do Thor na próxima quarta, fica difícil ficar na frente do Mr.Market. 50 bps de alta de juros, sem piscar para 25 bps em fevereiro, e projeção mediana do comitê em 5%. Semana decisiva e o Brasil é só passageiro.
Europa não fede nem cheira. Semana de frio está chegando e a França está avançando na Copa. BCE deve subir juros em 50 bps e abrir caixa de ferramenta do aperto quantitativo para reduzir o balanço do banco. Não sei o que vai rolar com os países de alta dívida, tipo Espanha e Itália, que não terão mais um grande comprador de títulos. Vai ficar mais barato viajar para Roma dado a crise que chega na Europa.
Já a China continua reabrindo. Ficou claro que a economia afundou em novembro e o governo agora jogou a boia. A reabertura vai gerar uma explosão de casos e a imunidade de rebanho vai comer solto. Todo mundo vai querer comprar China, mas eu tomaria uma dose de cautela por enquanto. Mais fácil ter ativos que vão surfar o momento, mas que não sejam diretamente chineses.
Já o Brasa é tiro porrada e bomba. Acabou o amor. O Ministro Haddad foi anunciado e já sabemos mais ou menos o que teremos nos próximos 4 anos. Além disso, Mercadante já está aquecendo do lado do campo esperando o professor passar a instrução para entrar. Voltamos para os anos 2011. Pelo menos já sabemos todo o playbook. Inflação, commodity, large caps, liquidez e ficar perto da porta. Dormir com um olho fechado e outro aberto. Voltamos a fase em que você acorda com uma barata voadora que ninguém sabe de onde veio, mas o diário oficial mostrou. Vamos que vamos e, sobre a Copa, faz parte. Daqui 4 anos a meninada volta e arrebenta.
Como é bom ler algo racional, fundamentado e bem escrito!
Obrigado pelo tempo investido e pela qualidade do material.