Cadê o Bull Market? - CondadoView
Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa de almoço.
China - voltou a faltar dinheiro?
Novas empresas chinesas têm enfrentado dificuldades para honrar os juros dos bonds offshore, conhecido como "dar calote em estrangeiros". Não estou certo se isso é uma estratégia, agora que o governo decidiu adotar uma postura mais pró-crescimento e busca melhorar o ânimo e o cenário de crescimento chinês.
No entanto, o fato é que isso levantou outra bandeira após o mercado começar a demonstrar frustração com o volume de anúncios e estímulos implementados. Não parece que haverá uma reversão significativa, mas todos ainda permanecem na expectativa.
E é exatamente isso: expectativa. Não há palavra melhor para descrever. Enquanto as pessoas por lá não voltarem a comprar casas e impulsionar essa demanda, o que é inclusive importante para a arrecadação do governo, parece que o motor ficará meio enfraquecido. Algo que está preocupando os analistas brasileiros é que o governo ordenou às cidades que reduzam a produção de aço, inclusive para um patamar abaixo de 2022, o que pode complicar ainda mais o cenário para o minério de ferro.
Apesar das adversidades, sabemos como o mercado está atento à situação na China e qualquer notícia positiva ou dados surpreendentes podem causar uma reação forte e uma corrida para cobrir posições em descoberto (o famoso "short-covering"). A China não precisa acelerar para o Brasil ter um bom desempenho; basta parar de piorar que isso já será de grande ajuda.
EUA - inflação voltando a ficar baixa
Após a volatilidade da semana passada, há um certo alívio no movimento negativo do mercado. A inflação ao consumidor (CPI) registrou novamente uma baixa no último mês (0,17% m/m), o que alimenta duas expectativas: i) o Fed pode ter interrompido o ciclo de aumento das taxas de juros; ii) devido à melhora das condições financeiras, há um crescimento na expectativa de que a economia não entrará em recessão. Se a recessão for evitada, tanto o mercado de trabalho quanto o consumo devem continuar robustos, o que também sustenta as expectativas de lucros projetados para 2024, os quais já excedem os 12%.
As empresas terão um longo caminho pela frente para entregar esses resultados, considerando que as expectativas estão elevadas e há pouco espaço para erros. No entanto, o simples fato de haver um clima mais positivo no mercado é bastante significativo. Adicionalmente, as frustrações de curto prazo podem ser ignoradas caso as orientações (guidance) sejam positivas e incluam termos como "IA" (inteligência artificial).
O Tesouro continua realizando leilões em grande escala. Mesmo com o aumento da dívida pública e o rebaixamento pela agência de classificação Fitch, há uma notável facilidade em absorver ativos sem risco com taxas de juros de 4% a 5%. Isso é especialmente relevante para investidores como fundos de pensão japoneses que enfrentam taxas de juros negativas em seu país e baixa produtividade.
A temporada de resultados está chegando ao fim e em breve veremos um nome mais frequente na mídia: o aguardado evento "Jackson Hole" e os discursos do presidente do Fed, J-Powell. Essas falas podem influenciar não apenas a reunião do Fed em setembro, mas também moldar as perspectivas do banco central para 2024. A emoção ainda não chegou ao fim e o espetáculo só termina quando tudo se encerra.
Brasil - Copom tentando evitar uma corrido do mercado aos 75 bps
A ata do Copom apresentou as razões por trás da divisão dentro do comitê na última semana, com os membros que compõem o corpo técnico mostrando um desejo contínuo por mais sinais positivos de desaceleração da inflação de serviços e de um crescimento econômico não tão expressivo. No entanto, além disso, o que o mercado percebeu foi uma abordagem menos "vinculante" por parte desses membros, em contraste com a postura aparentemente mais decisiva apresentada no comunicado da semana anterior.
Isso não significa que eles estivessem irredutíveis quanto a uma aceleração para 75 bps, mas sim que gostariam de ver novos dados que apontassem nessa direção. É evidente que adotar uma postura mais enfática de que os próximos aumentos serão de 50 bps em cada reunião é uma forma de impedir que o mercado salte diretamente para 75 bps no dia seguinte. O mercado já está testando a marca de 60 bps na curva de juros, até mesmo para evitar um endurecimento prematuro das condições financeiras no futuro, caso as circunstâncias não evoluam conforme o esperado.
Quanto aos indicadores de atividade econômica, o setor varejista surpreendeu novamente, em parte devido a fatores não recorrentes, como as vendas de carros impulsionadas pelos benefícios governamentais (curiosamente, o governo parece ter esperado que eu comprasse meu novo carro para depois reduzir os impostos). No entanto, também houve um desempenho notável nos supermercados e no varejo mais tradicional, o que indica que as pessoas ainda têm apetite para o consumo.
A inflação já apresentou uma desaceleração significativa, o mercado de trabalho continua estável e o cálculo dos juros não se baseia apenas na taxa Selic, mas também nas parcelas que são compatíveis com o orçamento das pessoas. O Brasil está seguindo um caminho relativamente positivo temporariamente, embora o cenário externo precise começar a oferecer suporte novamente.
Frase da semana
“Preço é o que você paga. Valor é o que você leva.”
Warren Buffett