Carnavol - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Você passou o Carnaval longe do noticiário, achando que a única ressaca seria da folia. Mas aí, com a leveza de quem só queria dar uma espiadinha no mercado, abre o broker - provavelmente foi no app ‘Stocks’ do seu iphone - e… pancada! Ativos de risco desabando, Treasuries derretendo, um verdadeiro bloco da liquidação desfilando na sua tela. O que aconteceu enquanto você estava distraído entre confetes e caipirinhas? Calma, eu vou explicar.
Perdeu a conversa do Trump declarando que a história de que os EUA vai ter reservas estratégicas em criptomoedas no início da semana. Você não leu errado, em criptomoedas, o Bitcoin até iniciou um rali, mas a divisão da torta com outras criptomoedas fez ele devolver parte dos ganhos ao longo da semana.
Fonte: Google Finanças
A terça-feira de Carnaval ganhou um apelido carinhoso em Wall Street: Tariff Tuesday. Referindo-se ao dia em que as tarifas entrariam em vigor, gerando volatilidade nos mercados financeiros e incertezas sobre os desdobramentos da política comercial dos EUA. Sem rodeios, como prometido há um mês, a martelada veio pesada: 25% sobre importações do México e do Canadá, e 10% para a China. Sem negociação, sem conversa.
Tá, mas o que tem de tão danoso em taxar seus vizinhos (dentre outros)? Preocupações sobre as tarifas reduzirem o crescimento - para mim essa é a grande preocupação. É senso comum que a política tarifária do Trump é positiva para o dólar - porque reduz as importações e consequentemente a moeda estrangeira usada para comprar esses bens.
Mas o que estaria puxando o dólar para baixo então? Expectativas de crescimento mais fraco. Se os investidores acreditam que o crescimento econômico dos EUA vai desacelerar, eles podem reduzir sua demanda por ativos denominados em dólares, o que enfraquece a moeda.
Fonte: European Central Bank
Viemos da semana passada com alguns dados macroeconômicos começando a levantar dúvidas sobre a pujança da economia americana. Inclusive o FED ganha mais margem para uma postura mais dovish, reduzindo as chances de novos aumentos de juros – hipóteses de cortes de juros do FED começam a ser ventiladas. O que, por tabela, torna o dólar menos atraente. E olhando mais no detalhe o comportamento dos mercados, dá pra ver que o dinheiro que sai de setores de crescimento (Tech) está indo para setores mais defensivos, sinalizando que o investidor está tentando se proteger de toda essa insegurança política.
O argumento agora é que o maior problema agora não é a inflação, e sim um crescimento mais fraco em parte motivado pelas incertezas de uma política econômica educadamente classificada como errática. Isso ajuda a explicar a recente queda do dólar, já que os investidores começam a ajustar as apostas para um cenário de menor crescimento e possíveis mudanças na política monetária.
O mercado vive das expectativas e mesmo que seja um esforço jogado no lixo tentar prever as ações do Trump, me parece muito pouco provável que ele pare por aí. Na fila tem a União Europeia, que juntamente com México e Canadá representaram quase dois terços das importações dos EUA em 2024.
As tarifas incentivam a criatividade dos parceiros também. Por exemplo, durante a primeira presidência de Donald Trump, os embates tarifários com a China resultaram em uma reconfiguração no comércio global de soja. Em 2016, os Estados Unidos respondiam por 40% da soja importada pela China. No entanto, nos primeiros 11 meses de 2024, essa participação caiu para 18%, enquanto a do Brasil aumentou de 46% para 74%.
O resultado disso foi o investidor fugindo do risco no geral, depois do Trump bradar aos quatro ventos que iria realmente taxar seus vizinhos e a China.
E se você está se perguntando por que a Nvidia também sofreu nesse movimento, a resposta provavelmente está na percepção de que o setor de tecnologia está esticado. Vira alvo em um dia de forte aversão ao risco. Já a liquidação no setor de energia parece estar mais relacionada aos aumentos de produção anunciados pela OPEP, reduzindo os preços do petróleo, do que aos impactos diretos das tarifas comerciais.
Por aqui, a troca no comando da Secretaria de Relações Institucionais era um movimento esperado e confirma a tentativa do governo de fortalecer sua articulação política. Gleisi Hoffmann assume no lugar de Alexandre Padilha, o que pode indicar uma postura mais alinhada à base ideológica do PT. Mas se já estava difícil aprovar pautas econômicas no Congresso antes, imagine agora.
Dados de Mercado
Frase do dia
"O problema com as tarifas, para ser sucinto, é que elas aumentam os preços, desaceleram o crescimento econômico, reduzem os lucros, aumentam o desemprego, pioram a desigualdade, diminuem a produtividade e elevam as tensões globais. Fora isso, elas são ótimas." - David Kelly
Curiosidade da Semana
Os tijolos LEGO suportam melhor a compressão do que o concreto . Um tijolo LEGO de plástico comum é capaz de suportar o peso de 375.000 outros tijolos antes de quebrar. Isso, teoricamente, permitiria que você construísse uma torre de quase 3,5 km de altura. Escalar isso para tijolos do tamanho de uma casa, no entanto, custaria muito mais.