Comunicado do Copom, versão “sincera”
É, meus amigos, o clima essa semana esquentou por terra Brasilis. Ao menos no que se diz respeito aos indicadores financeiros, a coisa não está muito bonita, não. O dólar essa semana resolveu bater valores que não se viam desde meados de 2022 (leia-se "período eleitoral", sempre repleto de volatilidade).
No meio disso tudo, ainda teve a reunião de condomînio mais importante do país, a reunião do Copom: estava todo mundo querendo saber se a taxa Selic ia ser mantida ou não (afinal, o cenário de stress financeiro não daria margem para uma queda de juros "saudável") e se teríamos consenso entre os votos (haja vista que na última reunião não teve e isso gerou um certo bafafá).
Pois bem, rolou um "manteu" na taxa básica de juros com consenso e logo depois rolou o tradicional comunicado do Copom sobre a decisão. Sabendo que esses comunicado é institucional, a carta dessa semana resolveu traduzir o comunidade e trazê-la em sua versão sem filtros, vamos a ela:
"O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes." : "É o seguinte: os EUA não cortarão juros tão cedo e enquanto não cortar de lá, fica complicado cortar de cá. Ninguém ainda conseguiu explicar porque diachos a inflação por lá não cai, e se vocês querem ver juros baixos por aqui, podem começar a pensar em rezar pra inflação na gringa ceder".
"Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.": "Por aqui a inflação até que tá caindo, mas se prestar bem atenção, não tá caindo tanto assim e algumas composições do índice mostram que, na verdade, a inflação está subindo. Desgraça pouca é bobagem, viu".
"As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente.": : "A meta de inflação é de 3,0%a.a. e estamos bem longe dela. Mas, tudo certo, a meta tem banda de tolerância de + ou - 1,5% e a gente sabe que a meta verdadeira é a banda superior então esses 4% tão mais que ótimos".
"As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.": "Rodamos vários modelos de projeção de inflação e todos eles dizem que vamos cumprir a meta, então fiquem na paz do Senhor, meus consagrados."
"O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.": "O Comitê ressalta que: a nossa parte estamos fazendo, tá achando ruim reclama com Deus e pede pra ele baixar a inflação lá fora. Aproveita e pede também pra não rolar nenhuma grande crise por lá pra não atrapalhar a gente."
"O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.": "Enrolei o texto inteiro pra poder chegar onde eu queria chegar: o fiscal tem que me ajudar a ajudá-lo. Esse disse-me-disse dos últimos dias pioraram o cenário e adicionaram mais incerteza no caldo. Não dá pra baixar juros nessa situação. Abraços!"
"Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.": "Manteu, galera."
"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.": "A inflação tá baixando mas as expectativas estão desancoradas e vamos ficar de olho nisso aí".
"O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.": "O manteu foi unânime e já avisamos que: pra cortar mais, vai ter que inflação baixar e as expectativas ancorarem".
"Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.": "De resto, "siacalmem" que dessa vez todo mundo concordou com a decisão."