Lóng foi um dos quatro animais sagrados convocados pelo deus criador, Pan Ku, para participar da criação do mundo, de acordo com a mitologia chinesa. É um dragão, mas esse dragão chinês é diferente do que conhecemos pela banda do Ocidente: tem olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, chifres de veado, orelhas de boi e bigodes de carpa. Nada de um animal quadrúpede e com fogo saindo pelas ventas.
Lóng é uma criatura semelhante a uma serpente de quatro patas, que apesar de não ter asas, tem a capacidade de voar.
O dragão chinês – a China – foi muito poderoso há muitos séculos, quando antes da Europa se desenvolver como potência, o país asiático estava anos-luz à frente dos pares em termos de tecnologia e desenvolvimento. Mas, por uma escolha nacional, optaram por voltar-se para dentro e permanecer nas formas tradicionais de produção, enquanto os colegas europeus resolveram explorar o mundo, fomentar o comércio e tornar-se a área mais rica do mundo – os EUA são os herdeiros históricos do crescimento europeu.
Acontece que há cerca de 5 décadas, por volta dos anos 70, os chineses resolveram acordar Lóng, fizeram reformas liberais que permitiram o dragão renascer e tomar um lugar de destaque no mundo. Em cada pata de Lóng veio um elemento para dar propulsão ao crescimento do gigante, permitindo ao corpo serpentear a dar ao volta ao redor do mundo todo, deixando marcas por onde passa.
A primeira pata de Lóng: O Comércio
Uma das bases do renascimento chinês foi a abertura comercial e a liberalização do comércio com o mundo. Os produtos made in China dominaram o mundo, na mesma medida que a presença (e o poder) chinês crescia. Do Oriente ao Ocidente, a China foi construindo laços comerciais de compra e venda de produtos, que permitiu inserir o país no cenário mundial e garantir mercado consumidor para seus produtos. Aqui, até os países excluídos do comércio mundial por violar os direitos humanos não foram deixados de fora dos acordos chineses.
Tanto teve efeito essa política que hoje os chineses tomaram o posto dos Estados Unidos como maior parceiros comerciais de muitos países do mundo, inclusive no Brasil.
E os chineses foram espertos: venderam mais do que compraram, alcançando um superávit comercial que significou mais dinheiro no bolso do país. Dinheiro que foi devidamente convertido em títulos de dívida americanos, que fazem os asiáticos serem um dos maiores credores do yankees.
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A segunda pata de Long: A População
Mas o crescimento do comércio não seria possível se não tivessem pessoas para produzir, e aqui a China tinha uma vantagem: uma grande população. E uma população pobre, que por poucos centavos por hora, produzia bens que seriam revendidos para outras partes do mundo. E, para completar a obra, leis trabalhistas fracas, que permitiam longas horas de trabalho e em condições que permitiam aos trabalhadores morar dentro da fábrica (literalmente).
Com esse custo de mão-de-obra baixo, os produtos chineses acabavam saindo mais barato que os produzidos nas diversas partes do mundo, e por isso acabaram conquistando o comércio mundial também.
Mas, como acontece com os ciclos de crescimento, algo esperado aconteceu: com o dinheiro entrando e o país crescendo, a população foi crescendo junto e os salários subiram. A consequência é uma só: custos de produção pra cima – os made in China já não são mais tão baratos quanto eram antes.
Por isso, uma das discussões na China hoje é como deixar o modelo de crescimento via preços baixos com custos de produção baixos, para um modelo de maior tecnologia e valor agregado.
Nesse meio tempo, outro calo começa a aparecer nesta pata: a população urbana começa a questionar a decisão do governo centralizado daquele país, que só permite a atuação de um partido político e reprime minorias étnicas e pensamentos dissidentes. Esse é um calo que todos ficam de olho, pois tem potencial de incomodar o gigante chinês.
A Terceira Pata: A Infraestrutura
O governo chinês aproveitou para modernizar a infraestrutura do país e adicionar mais um motor ao seu crescimento: grandes obras de infraestrutura como rodovias, hidrelétricas, aeroportos e prédios foram construídos nas últimas décadas.
A terceira pata auxilia o dragão na medida em que facilita o transporte de mercadorias produzidas nos rincões longínquos do país até os portos onde são exportados para o mundo todo, impulsionando a eficiência e o crescimento.
Como uma linha auxiliar, também cresceu a infraestrutura urbana motivada pelo crescimento das indústrias e da renda das pessoas, mas essa linha tem sido conduzida pela iniciativa privada daquele país (sim, de comunista a China só tem o nome e o sistema de partido único e controle da informação). Aqui, inclusive, há um nome que você já deve ter ouvido por aí: Evergrande.
A Evergrande é a segunda maior empresa imobiliária da China e esteve nos noticiários no início do ano, após sofrer um ataque especulativo acerca de uma possível crise de liquidez. Isso porque, desde 2021, sabe-se que a empresa está enfrentando um número recorde de processos movidos por empreiteiros nos tribunais chineses, o que adiciona um fator de risco adicional ao passivo de mais de US$300 bilhões de passivo, com mais de US$ 100 bilhões de dívida. A dúvida é sobre a capacidade de honrar os compromissos de dívida firmado – caso a Evergrande não consiga, teríamos (verbo no plural, porque seria um problema mundial) uma versão chinesa da crise imobiliária americana de 2008. Ao menos, é isso que estão especulando.
A Quarta Pata: O Endividamento
Mas a Evergrande não foi a única: um dos instrumentos utilizados para financiar o crescimento da China, além dos saldos comerciais positivos, foi o endividamento. Afinal, quem não gosta de uma parcelinha, não é mesmo?
E a China não foi diferente e utilizou de diversos instrumentos de dívida para financiar seu crescimento: incentivaram os bancos do país a emprestarem para as empresas e pessoas, aumentando o endividamento privado; utilizaram os bancos estatais para financiar as obras públicas; emitiram títulos de dívida para captar dinheiro, financiar projetos específicos e cobrir déficits no orçamento do país; além de tomaram empréstimos externos como forma de levantar recursos para seu projeto de crescimento.
Se por um lado era dinheiro na mão para fazer o que queriam, de outro tem os juros e a capacidade de pagamento. Quem tem credor, tem dor.
Embora o endividamento possa ter impulsionado o crescimento econômico da China, agora preocupações têm sido levantadas sobre sustentabilidade da dívida a longo prazo e a capacidade do país de administrar os riscos associados a níveis elevados de endividamento. Em anos recentes, houve um aumento do foco no controle da dívida e na gestão dos riscos financeiros para garantir um crescimento econômico mais estável e sustentável, mas isso não tem sido suficiente para deixar as pessoas tranquilas acerca da capacidade da China de honrar seus compromissos.
E, para piorar, o país está crescendo menos: com menor crescimento, entra menos dinheiro no bolso para pagar contas. A consequência? Especulações sobre a capacidade de pagamento do país. Nesse cenário, parece que a Evergrande é o Lehmann Brothers chinês, a proxy de uma possível “crise de 2008” versão asiática.
Quanto disso de fato é problema sério e quanto é medo, não dá pra saber. Por isso mesmo, na festa do dragão chinês, já tem gente aproveitando a música enquanto a banda toca, mas de olho na porta de saída. Fiquemos de olho.