Deflação - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
É, meus amigos, vivemos tempos de aversão a risco, e não poderia ser diferente. O presidente da maior economia do mundo é uma bomba-relógio, e o grande problema disso é que ninguém sabe quando, onde e se vai explodir. Essa incerteza é o combustível de boa parte da turbulência que estamos vendo no mercado.
O papo das tarifas continua mais quente do que nunca e ganhou novos capítulos. Enquanto Trump elogia o governo mexicano por sua colaboração (e dá uma afrouxada no prazo das temidas tarifas), ele simplesmente dobra a dose para seus outros vizinhos, o Canadá. Na visão dele, os canadenses estão menos colaborativos e, portanto, não merecem a mesma consideração.
E chegou o dia em que o termo ‘guerra tarifária’ deixou de ser um fantasma e virou realidade. O governo canadense, claro, retaliou. O anúncio foi de uma tarifa extra de 25% sobre 29,8 bilhões de dólares canadenses em produtos americanos. O que parece claro é que as tarifas são um mecanismo de negociação do presidente dos EUA, a maior parte da incerteza parece derivar da dúvida a respeito de como vão ser as reações a isso, quem vai ceder e quem o governo americano vai acabar alienando do seu círculo de influência.
A gente até viu os dados do payroll virem um pouco abaixo do esperado, com 151 mil empregos criados frente aos 160 mil projetados pelos economistas, e o CPI também ficou abaixo (0,2%). Mas, com o início oficial da guerra tarifária, como o FED pode garantir que as coisas continuarão no mesmo rumo? A resposta é simples: não pode. Tarifa significa aumento de custo de produção - neste caso, para os setores automotivo e de construção (aço e alumínio). Aumento de custo significa demissão e menos investimento. Isso esfria a economia, o que até ajudaria na trajetória de corte de juros, mas… mas… mas… quem pode prever o que se passa na cabeça do Trump?
Não dá para confiar que ele seguirá com essa estratégia. Bom, Powell disse que está tudo sob controle. Veremos.
Por aqui, vivemos à sombra das incertezas externas e da nossa velha conhecida inflação. Um movimento que destoou do cenário global foi o nosso Ibovespa, que finalmente bateu a marca dos 125 mil pontos. A Opep+ anunciou aumento nas cotas de produção, e a Petrobras soube aproveitar o embalo, subindo 1,36% na segunda-feira (07).
Mas a mesma commodity que ajudou a impulsionar o índice também o derrubou ao longo da semana. Não só a Petrobras, mas também a Vale teve seu caldo azedado. Já vínhamos de dados desanimadores sobre a balança comercial chinesa: exportações cresceram apenas 2,3% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as importações despencaram 8,4%. Isso já indicava fraqueza no comércio chinês. Para piorar, a inflação chinesa caiu -0,7% (09), em relação ao ano anterior. O temor sobre a fragilidade da economia chinesa, somado à incerteza na economia americana, formou o combo perfeito para a desconfiança. Claro que a marca dos 125 mil pontos virou história.
Outro dado que preocupou os mercados foi o PIB abaixo do esperado: alta de apenas 0,2%, contra a projeção de 0,4%. É, não tem consumo das famílias (caiu -1%) que aguente inflação pulsante. Isso acende o alerta sobre o esgotamento dos estímulos fiscais. Já tem gente perguntando: ainda há espaço para subir os juros em mais 1% na próxima reunião?
Os dados do IPCA chegaram na hora certa para ajudar nessa discussão. Se depender da inflação, espaço para alta tem. Em fevereiro, a inflação subiu 1,31%, o maior patamar para o mês em 22 anos.
Dados de Mercado
Frase do dia
“É muito mais fácil descobrir se algo é frágil do que prever a ocorrência de um evento que pode prejudicá-lo.” – Nassim Taleb
Curiosidade da semana
Espelhos voltados um para o outro não produzem reflexos infinitos . Cada reflexo será mais escuro que o anterior e eventualmente desaparecerá na invisibilidade . Os espelhos absorvem uma fração da energia da luz que os atinge. O número total de reflexos que os espelhos podem produzir? Algumas centenas.