DNA de trader
Então você se acha um grande investidor(a), com grande capacidade de suportar os altos e baixos da bolsa e como uma boa visão do desenrolar dos eventos de mercado?
Então você se acha um grande investidor(a), com grande capacidade de suportar os altos e baixos da bolsa e como uma boa visão do desenrolar dos eventos de mercado? Ou, ao contrário, abriu a Carta do Condado para aprender um pouco mais e, quem sabe, se sentir mais confiante para tomar mais risco no mercado?
Pois é, a Carta do Condado desse final de semana veio pra te contar que, na verdade, muito dessa sua atitude é por causa dos genes, do seu DNA. Isso mesmo, já está escrito no seu “código-chave” se participará ou não do mercado de ações, a proporção dos investimentos em renda variável, bem como você se comporta frente ao risco e à incerteza. Ao menos, é o que dizem alguns pesquisadores americanos.
Já foi apontado, por exemplo, o papel que a testosterona no pré-natal tem na participação no mercado de renda variável, assim como indivíduos mais altos têm maior propensão a estar na bolsa de valores. Pensando nisso, Richard Sias, Laura Stark e Harry Turtle cruzaram os dados de um banco genético dos EUA e forneceram evidências que o material genético (a dotação genética) associado à cognição, personalidade, saúde e forma do corpo predizem a participação no mercado de ações.
Essas dotações, estabelecidas há pelo menos 50 anos (pois todos indivíduos tinham 50 anos de idade e o material genético é definido no nascimento), também preveem os dois fatores que a teoria sugere desempenhar o papel central na determinação das diferenças na exposição de ações: aversão ao risco e crenças sobre a distribuição dos retornos das ações (o “otimismo” ou “pessimismo”, de forma mais simplificada).
Os pesquisadores se concentraram em oito dotações genéticas relacionadas à cognição (Realização Educacional e Cognição Geral), personalidade (Neuroticismo e Sintomas Depressivos), saúde (Infartos do Miocárdio e Doença Arterial Coronária) e tipo corporal (Altura e IMC) e examinaram como essas dotações ajudam a moldar as diferenças observadas nas decisões financeiras.
A hipótese dos pesquisadores era que os indivíduos com dotações genéticas mais altas associadas a escolaridade, cognição geral e altura seriam mais propensos a investir em mercados de ações (além disso, investir uma fração maior de sua riqueza em ativos de risco), enquanto indivíduos com pontuações genéticas mais altas associadas com neuroticismo (tendência maior a experimentar emoções negativas), sintomas depressivos, infarto do miocárdio, doença arterial coronariana e IMC apresentam menor participação no mercado acionário.
As relações do estudo foram intuitivas e consistentes com a hipótese. Por exemplo, a participação no mercado de ações está positivamente relacionada a dotações genéticas associadas a escolaridade, cognição geral e altura e inversamente relacionada a dotações genéticas associadas a neuroticismo, sintomas depressivos, infarto do miocárdio, doença coronariana e IMC.
Além disso, as dotações genéticas associadas à cognição, personalidade, saúde e forma do corpo preveem a participação no mercado de ações, mesmo quando controla-se a aversão ao risco e as crenças sobre o mercado.
Esses resultados sugerem que (1) as dotações genéticas capturam dimensões de aversão ao risco e crenças que não são capturadas pelo que as pessoas dizem ou (2) as dotações capturam diferenças individuais além da aversão ao risco e crenças de mercado que influenciam as decisões de participação no mercado de ações.
Para entender melhor os canais que ligam as dotações genéticas dos indivíduos à sua participação no mercado de ações, foram examinadas as 11 características do investidor para explicar a participação no mercado de ações (isto é, como as características se relacionam entre si e como que, para um mesmo nível de uma das variáveis, as outras respondem).
Foi estabelecido que muitas dessas características parecem influenciar a participação no mercado de ações porque estão associadas tanto à aversão ao risco quanto à crença no retorno das ações.
Por exemplo, a dotação genética para Altura não está mais significativamente associada à participação no mercado de ações, uma vez que controlamos a altura verdadeira de um indivíduo. Em outros casos, porém, os autores não conseguiram identificar um canal específico ligando a dotação genética ao resultado econômico: a dotação genética para neuroticismo, por exemplo, continua a prever variações na aversão ao risco, mesmo quando se controla qualquer uma das 11 características do investidor.
Por fim, os autores estimaram a importância relativa das dotações genéticas associadas à cognição, personalidade, saúde e forma do corpo ao vincular a participação no mercado de ações à aversão/crenças ao risco e as 11 características do investidor.
Os autores estimaram que essas dotações genéticas podem explicar 32% da relação entre participação no mercado de ações e aversão/crenças ao risco.
Nas 11 características do investidor, as oito dotações genéticas explicam, em média, 38% da relação entre a característica e se um investidor participa de mercados de ações, 20% da relação entre a característica e a aversão ao risco e mais de um terço da relação entre a característica e as crenças sobre a distribuição dos retornos patrimoniais.
Em suma, as bases nitrogenadas em nosso DNA preveem nossa participação no mercado de ações, nossa aversão ao risco e nossas crenças em relação à distribuição dos retornos das ações. A hereditariedade da participação no mercado de ações surge, pelo menos em parte, porque os marcadores genéticos moleculares associados à cognição, personalidade, saúde e forma do corpo prevêem (1) variação na aversão ao risco e crenças e (2) variação nas características do investidor.
A evidência revela fortes evidências de como e por que a participação no mercado de ações, a aversão ao risco e as crenças sobre a distribuição dos retornos das ações são hereditárias.
Os autores advertem, porém, que de forma análoga às evidências que ligam as pontuações genéticas ao nível educacional, não estariam sugerindo que existe um “gene de participação no mercado de ações” assim como não existe um gene que faz com que os indivíduos se formem do colégio.
Em vez disso, propõem que as dotações genéticas individuais prevêem a participação no mercado de ações, pelo menos em parte, por meio de influências genéticas na tolerância ao risco, percepções da distribuição dos retornos das ações e características do investidor. Essas influências podem ser diretas ou indiretas - as dotações genéticas podem impactar diretamente a aversão ao risco ou podem interagir com o ambiente para impactar a aversão ao risco.
Da próxima vez que for se vangloriar dos resultados que obteve do mês, pense duas vezes e agradeça aos seus pais pelo material genético que eles lhe transmitiram.
Molecular Genetics, Risk Aversion, Return Perceptions, and Stock Market Participation, Richard Sias, Laura Starks, and H. J. Turtle