E provando, mais uma vez, que o Planeta Terra não tem um dia sequer de paz, essa semana fomos “agraciados” com um exercício militar nas águas que dividem a China de Taiwan. Segundo as autoridades chinesas, foi apenas uma “atividade de rotina”. Mas, uma atividade de rotina bem no dia que a presidente da câmara dos deputados americanos, Nancy Pelosi visitava a ilha vizinha rival…
Aqui, dois pontos: primeiro, que não é a primeira vez que Pelosi resolve dar o ar da graça em territórios tensos. Em março, foi a vez da deputada dar um pulinho em Kiev e encontrar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em meio ao confronto aberto entre Rússia e Ucrânia. Feliz é que o presidente russo, Vladimir Putin não deve ter ficado. Mas, no meio dessa querela toda, o petróleo russo segue sendo negociado com o mundo todo, porque “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Segundo: “ilha vizinha rival” pois a China não reconhece formalmente a soberania de Taiwan. Há tempos o gigante asiático olha para a pequena ilha como uma irmã rebelde que a qualquer momento pode tomar posse – talvez, por isso mesmo, não o faça. Enquanto isso, Taiwan e seus cidadãos desfrutam de uma liberdade civil e econômica que os coloca entre os maiores IDH e PIBs per capita do mundo e um grande fornecedor de produtos para a indústria de tecnologia, especialmente de semicondutores.
Mas, além das tensões militares e da pretensa “defesa da democracia” por parte da deputada americana, os dois conflitos afetam diretamente dois produtos importantes para a economia mundial: petróleo (no caso da Rússia) e semicondutores (no caso de Taiwan).
Sobre petróleo já escrevemos bastante nesta nossa encíclica do Condado. Mas e os semicondutores?
Primeiro, uma definição: semicondutores são, grosso modo, “chips”. Os fabricantes de automóveis, por exemplo, há décadas usam chips para funções básicas, como frenagem, mas nos últimos anos, sua dependência de chips aumentou à medida que ofereceram recursos mais sofisticados, incluindo controle de navegação, sistemas de infoentretenimento e sistemas de detecção de colisão. E nesse meio tempo, surgiu um pequeno aparelho chamado “celular”, que passou a ser item básico de sobrevivência no século XXI. Isso sem contar a necessidade de chips para aviões, foguetes, e uma infinidade de outros produtos militares. Daí, só juntar 1 mais 1 para entender a importância dessas pequenas placas..
Acontece que: Taiwan domina a produção mundial de semicondutores. Tudo começou na década de 70, quando a pequena ilha chinesa convenceu a empresa americana RCA a instalar uma planta naquelas bandas. De lá para cá, a ilha investiu maciçamente no setor e na formação de cientistas especializados em semicondutores (sim, basicamente foi isso).
E a consequência? Uma superioridade tecnológica taiwanesa que coloca o avanço tecnológico do mundo dependente do que ocorre na pequena ilha de 37 mil quilômetros quadrados no mar da China.
Chips são o escudo de defesa tecnológico de Taiwan contra a China
Claro que não é só Taiwan que produz chips, mas a ilha produz mais da metade da oferta mundial, concentrada nos poucos quilômetros ao redor da gigante mundial TSMC e da UMC – só as duas correspondem a quase 60% da receita mundial no setor.
E, também, claro que os países estão vendo isso e tentando fazer algo a respeito. A China, por exemplo, investe em seu programa de semicondutores e tem na SMIC uma das maiores empresas no setor (embora com apenas 5% do market share mundial). Mas, aparentemente, a questão do know-how faz com que o avanço da indústria não seja na velocidade com que as autoridades chinesas esperam. Aqui, inclusive, o presidente da TSMC comentou o seguinte, sobre o programa chinês de semicondutores ser efetivo: “eles podem, mas alguns anos mais tarde que nós”.
Taiwan sabe que tem uma vantagem no know-how e que os chips são seu “escudo” tecnológico contra o gigante asiático: uma invasão à ilha seria uma parada operacional na produção, já que a retomada não seria fácil pelo seguinte ponto: os não saberiam como operar as máquinas nem como dar continuidade ao processo…
Do lado americano, também esforços para reduzir a dependência da pequena ilha asiática. Os Estados Unidos, por exemplo, durante o governo Trump, passaram a exercer uma pressão maior para que empresas de chips transfiram suas plantas para os EUA. A TSMC, que já possuía um centro de pesquisa no Texas está construindo uma planta no Arizona no intuito de fornecer chips para as gigantes do vale do Silício. Nos últimos tempos, também foi aprovado um pacote bilionário para o chamado “CHIPS and Science Act”, com o objetivo de fomentar a indústria nacional americana de semicondutores.
Agora, se esses programas vão ser tão bem sucedidos quanto o programa taiwanês, isso só o futuro dirá. Vai ser interessante ver esse movimento de “volta” das fábricas de tecnologia, em movimento oposto ao que aconteceu nos anos 60, com a transferência da manufatura para a Ásia, criando o famosos “Tigres Asiático”. A ver.
E se você se interessou por essa Guerra Fria 2.0, agora no campo dos semicondutores, saiba que empresas taiwanesas de semicondutores tem capital aberto e é negociada na NYSE. Você pode investir nesse setor (faça mais pesquisas primeiro!) ou outras grandes empresas através da Avenue, a corretora brasileira que é pioneira em acesso ao sistema financeiro americano para brasileiros, com mais de 600 mil clientes e que além de oferecer acesso direto ao maior mercado de acionário do mundo, ainda oferece aos seus clientes serviços de banking, como conta bancária e cartão de débito internacional.
Frase da Semana
"As pessoas estão acostumadas a ouvir mentiras, pois a sinceridade demais choca e faz com que você pareça arrogante"
Eterno Jô Soares.
5 Tópicos de Economia e Mercado
É meus amigos. A vida de quem acha que a economia está em recessão está cada vez mais difícil. Os caras conseguiram criar 528 mil empregos (payroll) mesmo já tendo esgotado todos os estímulos monetários, fiscais e até a poupança excessiva. A economia americana continua pegando fogo e só tem um extintor que apaga: Federal Reserve. Tem uma turma que ainda não entendeu o que está acontecendo, mesmo depois de 6 meses de porradaria no mercado. O chamado wishful thinking é o maior perigo do mercado, cega os experientes e limita os novatos. O mercado ainda está jogando num esquema em que o Fed joga a corda para socorrer no primeiro semestre do próximo ano, mesmo com os caras falando grosso. 528 mil de payroll meus amigos, é de deixar o cabelo do Powell em pé
Quem está sofrendo com isso todo é o petróleo. O Mercado está desembarcando de commodities e agora procura três coisas: 1) dólar; 2) títulos americanos; 3) com maior volatilidade, pulam no mercado acionário, mas ficam perto da porta. O WTI chegou a tocar os US$ 89/barril na sexta, uma queda de módicos 10% menor na semana. O consumo de gasolina nos EUA está sendo afetado, mesmo com uma oferta restrita. O fato do petróleo está caindo tem sido usado de desculpa para acreditar que o problema inflacionário acabou. Só quem não olha os números direito acha que o combustível, um item tão volátil, é o verdadeiro desafio do processo inflacionário global neste momento. O mercado é forward looking, tenta antecipar movimentos de 12 meses à frente, ou mais, mas o que fazer quando parece que o binóculo está quebrado?
Aliás, essa semana foi muito doida. Ficamos mais uma vez perto da terceira guerra mundial, tudo porque uma senhora resolveu visitar Taiwan. Pelosi, presidente da House americana foi fazer barulho na vizinhança da China, que não gostou nada da situação. Para quem não entende de história, assim como nós do FLE, tudo o que podemos saber é: essa briga entre Taiwan & EUA vs China dura algumas décadas e deve eclodir em algum momento nos próximos anos, dado que os chineses apontam a ilha como terra deles. Esse é aquele tipo de risco de cauda que você sabe que existe, não vai se proteger dele e quando acontecer, 40% da sua carteira vai sofrer muito. Enfim, assim é a vida do investidor.
Já no Brasil, o COPOM subiu os juros (+50 bps) pedindo desculpas, com a taxa indo para 13,75% e deixando uma barra bem alta para novas altas de juros. Claro, não há nada de errado em parar para olhar, mas uma coisa ficou claro: o Brasil é a terra da exceção. Primeiro, no teto dos gastos, descobrimos que algumas despesas são melhores que as outras, por isso podem ir para fora do teto. No caso da inflação, descobrimos que alguns choques são mais importantes que os outros, por isso vale esticar o horizonte relevante de inflação para o começo de 2024. Ué, mas tem efeito tributário? Nossa, mas não é para isso que temos uma banda de inflação? É capaz do BC voltar a subir juros depois da eleição. A ver.
Quanto à eleição, todos já sabemos como será o segundo turno. Outros nomes não importam. Ou melhor, importam quando servem para atrapalhar os dois líderes das pesquisas. Essa é uma coisa curiosa, o mercado de juros está negociando muito mais eleição do que os demais mercados. Ainda assim, a barulheira que vem do ambiente global está cada vez mais bagunçando a interpretação do que é sinal e o que é ruído no mercado, mas uma coisa é certa: todo mundo está preocupado com o novo regime fiscal em 2023.
Muito melhor esse layout para quem lê no PC!