Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Podemos abrir uma champagne enquanto o preço das bebidas alcoólicas ainda não foi atingido pelo caos tarifário e suas taxas de 200%? O Ibovespa finalmente cruzou a marca psicológica dos 130 mil pontos. Parabéns ao investidor de renda variável no Brasil, que segue firme mesmo com a Selic em recém atingidos 14,25% ao ano.
O investidor de risco brasileiro está hipnotizado pela possibilidade de que a guerra tarifária acabe favorecendo o Brasil, abrindo espaço para o país ganhar mais relevância nas importações chinesas. Mas não foi só isso que espalhou o bom humor pelo mercado. A China anunciou novos estímulos ao consumo, impulsionada por dados de produção industrial e vendas no varejo bem acima das expectativas. As vendas no varejo cresceram 5,9%, superando a projeção de 5,4%, enquanto a produção industrial avançou 4%, frente à expectativa de 3,5%. Quanto tempo pro pessoal começar a falar sobre Excepcionalismo Chinês?
E não é só isso, o que vem empurrando o Ibovespa para essa semana gloriosa não para por aí. Um bom desempenho do principal índice de ações brasileiras quase sempre passa pelas commodities.
Comecemos pela Vale. Nem preciso dizer que os dados positivos da China são um presente para a mineradora, né? O minério de ferro se valorizou no mercado internacional. Como se não bastasse, a empresa contou ainda com uma decisão favorável do CARF, que a livrou de parte de uma multa bilionária.
A Petrobras não ficou de fora. O petróleo seguiu forte, e os rumores sobre um cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia (ou pelo menos uma pausa de 30 dias) ajudaram a sustentar o otimismo em torno da petroleira.
Antes de entender o que está acontecendo com o USD/BRL, vale olhar primeiro para o dólar no cenário global (DXY). Na semana passada, os principais índices de ações dos EUA registraram perdas próximas a -4%. Essa queda expressiva parece ter sido motivada por um velho conhecido: o temor de enfraquecimento da economia americana. Em teoria, isso deveria ter arrastado o dólar para baixo, certo? Mas não foi o que aconteceu — o dólar fechou a semana passada praticamente no mesmo patamar em que começou.
O fato é que a valorização do dólar no período eleitoral de Trump e o rali das ações contavam com a crença de que suas políticas impulsionariam crescimento e inflação. Esse cenário foi superestimado. Com o Fed sinalizando uma pausa no ciclo de cortes e o resto do mundo reduzindo taxas de juros, o diferencial de juros entre os EUA e outros países permaneceu alto, sustentando o dólar.
A queda do dólar no início do mês aconteceu, em partes, porque os investidores começaram a perder a fé nas políticas de Trump voltadas para o crescimento. Ao mesmo tempo, os dados econômicos americanos começaram a esfriar, reduzindo expectativas.
Já a “estabilidade” vista na última semana pode ser interpretada sob dois ângulos: 1) Os mercados cambiais reagiram mais rápido à incerteza tarifária do que os mercados acionários, e esse efeito já se refletiu antes na moeda; 2) O mercado não está apenas preocupado com um crescimento mais fraco nos EUA, mas também com a inflação e o risco de estagflação. Enquanto uma desaceleração sugere um dólar mais fraco, uma inflação mais alta fortalece a moeda. Sem uma direção clara, ele ficou de lado.
Fonte: TradingView
E por que estamos falando tanto de dólar (DXY)? Porque até agora as moedas têm sido os melhores termômetros para as políticas tarifárias de Trump. E isso acaba afetando o USD/BRL também.
Então... Leva entre 4 e 7 meses para que uma subida do dólar resulte no aumento de preços no supermercado no Brasil: o aumento do dólar encarece os bens importados que vão servir de base para produção dos bens que você consome no seu dia a dia. E quando essa subida do dólar se reflete em aumento dos preços aqui dentro, o poder de compra do brasileiro reduz entre 16-18%, segundo a FGV.
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Ainda, os dados desta semana reforçaram a tese de enfraquecimento da economia americana: as vendas no varejo cresceram apenas 0,2%, bem abaixo da projeção de 0,6%, e o índice de atividade industrial (Empire State) voltou a cair. Mas nem tudo é tão preto no branco. Olhando mais de perto, o cenário não parece tão desanimador assim — o núcleo mais relevante para o consumo no PIB avançou 1%, apagando por completo a queda de -1% registrada em janeiro.
Diante desse quadro misto, o FED decidiu manter inalterada a taxa básica de juros americana.
Esse enfraquecimento do dólar de modo geral foi um presente para o real, que soube aproveitar bem os ventos externos. Além disso, o Banco Central brasileiro manteve o tom duro e reafirmou o guidance de subir os juros em 0,1 bps, levando a Selic para 14,25% — o que acabou se concretizando. Isso atraiu mais fluxo estrangeiro para o Brasil e ajudou a reforçar a valorização da moeda.
Nem mesmo o anúncio de Lula sobre a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil foi capaz de esfriar os ânimos. O projeto ainda precisa passar pelo Congresso e, se aprovado, deve gerar uma perda de arrecadação de aproximadamente R$ 25,84 bilhões até 2026. A ideia é compensar esse custo taxando quem ganha mais de R$ 600 mil no ano, e dividendos entram na conta. Será que agora vai? Vamos abandonar a Estônia e a Letônia?
Também no front fiscal, a boa notícia é que o governo sinalizou reajuste zero para o Bolsa Família. Quando mesmo sai a próxima pesquisa de popularidade?
Dados de Mercado
Data-base: 19 de março de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
Há uma limitação desconcertante de nossa mente: nossa confiança excessiva no que acreditamos saber, e nossa aparente incapacidade de admitir a verdadeira extensão da nossa ignorância e a incerteza do mundo em que vivemos - Daniel Kahneman
Curiosidade da semana
A maior borboleta do mundo tem uma envergadura de 31 cm . Ela pertence à borboleta Queen Alexandra's Birdwing, que você pode encontrar nas florestas da Província de Oro, no leste de Papua Nova Guiné.