Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa de almoço.
China - o que está ruim pode ficar pior?
Como diria um dirigente flamenguista: acabou o dinheiro. Brincadeiras a parte, a situação da China não é tão ruim quanto os jornais pintam, nem tão boa quanto os investidores brasileiros sempre torcem para ser. O setor imobiliário vai demorar muito mais tempo para sair do buraco, que está se revelando mais profundo do que imaginado, mas que felizmente tem menos impacto em outros setores, como o caso do setor financeiro. Não estamos perto de uma crise de 2008 chinesa, até porque ainda há muito espaço para a recuperação do consumo, mas vai ser algo mais tímido. Falta uma fagulha ou uma capacidade do governo retomar a confiança das famílias, para destravem os gastos e retirarem o volume expressivo de depósitos parados nos bancos. Pelo menos essa semana parou de surgir noticias mais negativas, obviamente não sabemos se o governo está sendo mais “cuidadoso” com o que vaza, mas o fato é que deu uma estabilizada, o que dá espaço para o mercado tomar algum risco no curto prazo. Logo mais teremos os PMIs de agosto e um pouco mais de clareza sobre a capacidade de crescimento da economia no curtíssimo prazo. Não parece nada animador, mas é preciso conferir.
EUA - a economia que não para
O assunto nos EUA continua sendo o mesmo, a economia continua surpreendendo para cima, com crescimento acima do que todo o aperto de condições financeiras teria sugerido até o mais otimista. O mais curioso é que vários índices de confiança e sentimento não estão conseguindo pegar esse movimento. Por exemplo, enquanto índices como PMIs surpreenderem para baixo, os resultados reais do varejo, produção industrial e consumo das famílias continua avançando mais do que o esperado. Os modelos estão claramente bugando por conta dessa divergência. Esse cenário tem feito o mercado se questionar da capacidade do Fed de reduzir juros tão claramente no próximo ano, ou se realmente entramos num novo normal onde os juros ficarão nesse patamar elevado por ainda mais tempo. Meio difícil enxergar isso, principalmente com uma dívida tão elevada e num mundo cheio de custos novos. Por isso a inteligência artificial tem aparecido como o menos feio no meio de um mundo mais feio. Vamos escutar o que Powell tem para falar em Jackson Hole e o que o dado de inflação e o payroll vão relevar na próxima semana. Parece que o ciclo de alta de juros já acabou, mas agora começar a discutir cortes vai levar bem mais tempo.
Brasil - finalmente habemus arcabouço
Mais uma novela finalmente acabou no Brasil, com a aprovação efetiva do arcabouço fiscal na Câmara. Agora, realmente, o Orçamento tem que ser construído com essa nova regra do jogo e, como brasileiros, odiamos seguir as regras do jogo. Por conta disso, vamos debutar a utilização do Arcabouço já furando a meta de 2024, dado que a capacidade de encontrar receita debaixo de pedra ou em cima de árvore está mais difícil do que o governo imaginava. Tudo bem, isso vai ser importante somente até o mercado lá fora voltar a andar e o BC voltar a cortar juros, depois voltamos para o nosso mood otimista e comprador. Agora o jogo é continuar torcendo para a inflação permanecer baixa, além das expectativas do Focus continuarem melhorando, além de torcer para a China ficar um pouco mais quieta. Não precisa nem melhorar, mas só de parar de piorar, já temos um avanço. Precisamos olhar também o que vai ser essa tal de reforma ministerial, não pelos nomes em si, pois os ministérios são irrelevantes, mas qual partido vai tomar, qual cadeira, pois isso pode reforçar a base do governo e mostrar novas alianças. Agora hora de olhar com mais cuidado na reforma tributária e qual alíquota que podemos lidar para os próximos anos. Esse vai ser um tema muito mais duradouro e não consensual nos próximos meses, mas é um assunto que está tantos anos na mesa, que agora finalmente há uma luz no final do túnel.
Frase da semana
“A maior virtude, a maior qualidade necessária a um presidente de um Banco Central é a coragem”
Paul Volcker, ex-presidente do Fed
"Precisamos olhar também o que vai ser essa tal de reforma ministerial, não pelos nomes em si, pois os ministérios são irrelevantes, mas qual partido vai tomar, qual cadeira, pois isso pode reforçar a base do governo e mostrar novas alianças."
A que ponto voltamos/chegamos. Se o ministro é bom ou ruim, se vai roubar ou fazer alguma coisa não importa... é só dinheiro público mesmo.