Já escolheu seu indicador favorito do momento? - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
BR - Quem veio primeiro, o Dólar ou a SELIC?
Desde 2008 ficou muito claro que, muito como no seu casamento, além de tecnicamente correto, o Banco Central precisa saber se comunicar bem. Do mesmo jeito que um gaguejo pode transformar uma pergunta inocente em uma DR gigantesca, uma mensagem truncada, uma votação dividida, ou até um titubeio por parte de quem porta a voz do BC pode ser determinante para a tomada de decisão alvoroçada por parte dos agentes do mercado. E, ainda tal qual seu casamento, em um piscar de olhos você agora tem metade de tudo que tinha. É por isso que a ata do COPOM da terça-feira passada (6) foi tão relevante e ainda repercutiu durante essa semana.
Embora na sexta-feira (9) o IPCA de julho tenha vindo um pouco acima das expectativas (0,38% vs. 0,35%), a inflação corrente não ocupa diretamente a primeira posição nas preocupações da autoridade monetária. Quem faz as vezes é a âncora da humildade dos nossos colegas economistas: o dólar. A moeda é um importante driver de inflação, e uma parte relevante do fluxo financeiro estrangeiro no nosso país é influenciado pelo diferencial entre as taxas básicas de juros de países desenvolvidos e a nossa. Se você cruzou com qualquer análise de mercado financeiro na última semana você provavelmente foi informada sobre a relevância do Carry Trade e todas as suas intrincadas dinâmicas.
Ou seja, além de estimular a economia facilitando empréstimos (pressão inflacionária) uma taxa básica de juros mais baixa também contribui com a desvalorização do Real (pressão inflacionária). Por isso que a ata foi tão importante ao sinalizar o compromisso do BC com a estabilidade da moeda, mesmo que isso implique em aumentar juros nas próximas reuniões.
É possível que o COPOM esteja se valendo da estratégia milenar de apresentar o chinelo para obter o comportamento desejado sem precisar infligir o dano de fato. Afinal, o sonho de toda autoridade parental (ou monetária) não-perversa é ser benevolente (dovish), embora a criança (Brasil) insista em dar motivos para ser tratado de forma dura (hawkish).
Naturalmente que a César o que é de César, afinal, o dólar em comparação com o resto do mundo também enfraqueceu na semana passada.
EUA - Panic at the VIX
Desde o sustinho da semana passada os VIXes (USA e BR, para quem não sabia que existe um VIX do IBOV) retornaram dos níveis extremos que observamos na sexta (9) passada, e estão gradualmente voltando aos patamares anteriores.
O principal indicador da semana nos EUA foi o CPI, que veio em linha com as expectativas (0,20%) na quarta-feira (14).
Que a economia americana está desaquecendo parece não haver mais dúvidas, as dúvidas agora são sobre o quanto, e se a inflação vai continuar caindo também, convergindo para próximo o suficiente da meta. Lembrando sempre que o maior risco de todos é a arqui-inimiga da Goldilocks (crescimento econômico sem inflação) que é a Estagflação (inflação sem crescimento econômico).
Aí, como em todo cenário de incerteza, você faz como os homenageados da semana, parabéns aos economistas pelo seu dia (13), e escolhe a métrica que mais corrobora suas mais recentes manifestações na sua rede social favorita. Hoje temos uma bela seleção: para arautos do caos temos o Índice de Atividade Industrial de agosto surpreendendo para baixo em -7% contra expectativas de +5%; e para as Polianas de plantão, as vendas no varejo subindo 0,4% ante o 0,1% esperado pelo mercado.
Outro detalhe relevante, na medida em que a inflação vai deixando de pautar o mercado, a dinâmica entre Treasuries e Equities nos EUA volta a ser aquela que forjou a geração atual de experts do mercado financeiro: a descorrelação. Estamos chegando lá.
Fonte: Verdad Cap
Você certamente notou isso porque seu portfólio é muito diversificado e tem exposição a renda fixa e variável internacionais, não apenas àquelas ações que acabaram de entrar na carteira de longo prazo da última semana e que está todo mundo se fiando na boleta emitida pelo seu home broker para desovar.
Fonte: TradingView
Um destaque também para o silêncio sepulcral da turminha que não resiste à tentação de soar mais inteligente do que todo mundo e profere as quatro palavras mais perigosas do mercado financeiro: “dessa vez é diferente”. Qualquer menção a “ao contrário de antes, juros altos estão causando inflação” ou “dessa vez a taxa neutra de juros nos EUA é diferente” foi relegada à segunda página de resultados do Google, e todo mundo virou ortodoxo de carteirinha.
E se o mercado é bipolar, eu também posso: convoco nossos estimados leitores a uma pausa para apreciar a beleza que é o processo dos agentes do mercado financeiro lutando para decifrar o próximo rumo das coisas. Todo mundo erra o tempo todo, ninguém acerta constantemente, todo mundo continua tentando. É bonito ver a mente coletiva se esforçando para decifrar o futuro, votando com seus dinheiros (ou com o dos outros) no que vai acontecer, é um processo louvável e importante. E embora muito divertido, a principal verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer, o jogo no final das contas são três coisas:
1) sobreviver
2) estar atento para oportunidades óbvias e, principalmente,
3) para mudanças significativas de paradigma que exijam alterações nas alocações de sua carteira.
Felizmente essa última é rara.
Dados de Mercado
Data-base: 14 de agosto de 2024.
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
As melhores decisões são muitas vezes tomadas com base em dados e evidências, e não apenas em instintos. - Jim Simons
Curiosidade da semana
A cor média do Universo é chamada de 'latte cósmico'. Em um estudo de 2002, astrônomos descobriram que a luz vinda das galáxias tinha uma cor bege próxima do branco.
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