Migração Sazonal do Faria Limer
Voltamos, caros leitores! Seja bem-vindo à primeira encíclica condense de 2023, a fonte semanal de conhecimento e entretenimento mais famosa do Condado da Faria Lima!
Voltamos, depois de 2 semanas off (pero no mucho) e depois de realizar a migração sazonal mais famosa do hemisfério sul: a de Faria Limers em direção às praias do Nordeste. Não pense, porém, que foi somente sol, água de côco e música eletrônica. Não…! Teve muito perrengue e muito trabalho nesse período, acredite!
Primeiro que, à rigor, ninguém tirou duas semanas off: ou folgou na semana do Natal, ou folgou na semana do Ano Novo. Essas são as duas semanas mais disputadas na escala de férias dos times, podendo inclusive ser considerado como um benefício do cargo (valiosíssimo, diga-se de passagem) poder tirar as duas semanas de férias (melhor falar baixo pra não dar ideia pro RH das startups).
A regra informal é a seguinte: casados folgam na semana do Natal, solteiros na semana do Ano Novo. O racional é claro: casados querem curtir o tempo em família e nada mais família que Natal; e os solteiros "têm tempo extra” e “não tem filhos”, então mais um feriadinho trabalhando não é nada perto do benefício das festas de Ano Novo em algum paraíso brasileiro.
Mas deu pra fazer do limão uma limonada: o advento do home office permitiu que, de fato, o escritório estivesse vazio e todos trabalhassem remotamente de onde quisessem. Estávamos até com saudade das pérolas: era criança chorando, mulher enrolada em toalha de banho passando no fundo do vídeo, homem de camisa social e bermuda de pijama levantando pra pegar um copo de água e voltando correndo pra desligar a câmera, cachorro latindo no meio da reunião… Isso sem contar que foi que nem aquele bate-bola no meio de campo no final de jogo: a gente só queria que acabasse.
Faria Lima nesse período deu até pra ouvir os passarinhos cantando, cruzar a avenida de ponta a ponta em menos de 10 minutos (versus os 30 a 40 minutos on season). Quem ficou lotado até as tampas foram outros: Guarulhos e Congonhas. Era um tal de coletinho pra cá, coletinho pra lá, “corre que se não a gente perde o vôo”, “putz, esqueci meu copo Stanley”.
As salas VIP lotadas, fila pra entrar, gente sentada no chão. Constatamos o óbvio: todo mundo é VIP. E se todo mundo é, ninguém é. Mas acha que isso desanima o Faria Limer? Jamais. A passagem de ano em águas cristalinas do Nordeste é um dos momentos mais esperados pelo Faria Limer e o que motiva durante as milhares de horas extras e dias exaustivos no escritório.
E depois que pega o vôo, só alegria né? É fotinha da janela do avião, sonequinha restauradora (talvez a mais longa nesses dias todos de festa), ler 2 páginas de um dos 5 livros que levou, para acabar assistindo aos filmes do Shrek… Ah, como a vida é boa!
A aterrissagem em terras nordestinas dá a sensação de chegada na Terra Prometida, fazendo com que nem o chacoalhar do carro depois de horas de aeroporto e horas de vôos incomodam. A primeira vista da praia de destino é que nem a visão do paraíso perfeito: passa em câmera lenta aos olhos do Faria Limer.
Quando coloca o pé na areia (areia de verdade, não a que é transplantada nos beach tennis de São Paulo), ocorre até uma descarga elétrica, com a mãe-Terra absorvendo uma descarga de tensão e ansiedade. Imagina que Gostoso! Réveillon de Milagres! Sorria, você está na Bahia!
E dá pra se enquadrar em mais de um dos grupos
E as festas nem se falam, né mêo? De primeira, parece com qualquer festa de SP, só que no Nordeste: aquele DJ estrelado que tá no top50 do Spotify, as subcelebridades que a gente sempre encontra nos restaurantes do Itaim, os amigos de faculdade que trabalham pela ZO. Mas parece que o gin por aqui é mais legal e Innerbloom bate diferente, como se fosse a primeira vez ouvindo.
Fora as festas, tem também esportes ao ar livre. Momento do Faria Limer colocar em prática todas as aulas de surf que fez na piscina artificial ou nas descidas pra praia nos (poucos) finais de semana livre do ano.
Fora o kitesurf, stand up paddle… Aqui, um festival de quedas que poderiam facilmente ir parar no Cassetadas do Faustão (isso ainda existe?). E se você acha que calça cáqui com camisa pastel ou jeans e camisa preta é padrão, é porque não viu o desfile de Villabrequin e Havaianas. As meninas ainda dão uma variada nos biquínis da Shein, mas te falar que a falar que a marca francesa faz dinheiro por aqui, viu?
O Faria Limer no Nordeste é constituído basicamente de tapioca, casquinha de siri, água de coco e gin. Nada mais, nada menos. Então a rotina diária fica assim: dormir às 6 da manhã (depois de assistir o amanhecer na praia, virado da balada), acordar às 11, tomar um brunch rapidão e correr pra praia. Praia é um revezamento entre praticar um esporte aquático, tirar uma sonequinha e se refrescar no mar. 17 horas é o momento em que as meninas desaparecem das areias e vão se arrumar para a próxima festa.
E a próxima festa é que nem uma festa no Tetto ou no Varanda Estaiada, só que no Nordeste. Dali, é a noite toda no vape, no gin e no eletrônico. Amanhece e dê replay na rotina.
Dê replay na rotina até que cheguem os fogos do Ano Novo, com o(a) cantor(a) top10 no Spotify fazendo a contagem regressiva… 3,2,1..! Feliz 2023! Todo mundo ao seu redor menos você dá um beijo no(a) parceiro(a) e algum casal rouba a cena com um pedido de casamento. Chuva de flash de todo lado, pra registrar o momento mais esperado da viagem. Toca Innerbloom pela quadragésima vez e vamos para o primeiro amanhecer de 2023.
E, dessa vez, o primeiro de janeiro cai em um domingo, o que significa que começaremos o ano com uma sexta-feira 13. Preocupados? “Ah, isso é superstição!”, diz o Faria Limer que pula sete ondinhas e guarda semente de romã na carteira para ter dinheiro e sorte no ano novo que se inicia.
Diz isso enquanto arruma as malas em tom melancólico: é hora de partir, porque, se dia 13 é sexta-feira, dia 2 é segunda-feira e muita gente precisa trabalhar. Aqui, sorte ou revés: alguns puderam continuar em terra nordestinas, trabalhando de home office; outros não foram tão sortudos, pegaram aeroporto lotado ainda no dia 1, para bater ponto no dia 2. Ê vida bandida! Mas valeu a pena…
Do lado de cá, não sabemos como será o ano de 2023, mas sabemos da nossa disposição em estar sempre presentes, seja mercado de alta ou mercado de baixa. Um Feliz 2023 a todos vocês!
Frase da semana
O poder despreza aqueles que não sabem ocupá-lo.
Charles-Maurice de Talleyrand, diplomata francês.
Economia e Mercado
Demorou, mas estamos de volta. Felizmente sabemos que vocês não passaram esse tempo no tédio, pois Brasília já pega fogo, mas voltaremos nisso depois.
Para quem estava com saudade, essa foi uma semana bem agitada nos EUA. A ata do FOMC mais uma vez mostrou um Fed querendo trucar o mercado e avisar que vai ter mais juros do que estão esperando. Por outro lado, ta difícil trazer muita novidade e o mercado está louco para performar. Vamos ter pequenos rallys e correções ao longo do ano. O próprio resultado do payroll foi uma proxy disso, com o mercado gostando dos dados de salários mostrando menos pressão. A única coisa que dá para garantir é que a volatilidade externa não acabou e, dado os desafios do Brasil, ainda deve ser um ano difícil.
Já na Europa, o inverno tem sido bem mais quente, uma vantagem para quem aproveitou para viajar. Por outro lado, a inflação continua preocupando, principalmente no setor de serviços, com salários. O BCE já botou na mesa e falou grosso, dizendo que as próximas duas ou três reuniões é 50 bps na lata e que esse ano é ano de ganhar o campeonato - o que sabemos, não irá ocorrer. A hora que o primeiro país tiver problema com a dívida, tipo uma Itália ou Espanha da vida, o jogo muda rapidinho. Pelo menos estão com energia para tomar banho quente nesse momento, mas a guerra e a situação não deve ser mais fácil nesse ano.
Na China, a imunidade de Covid tem sido conquistada na base da porrada, com explosão de número de casos que ninguém sabe exatamente o número. O governo realmente virou a mão no caso da política de Covid Zero e já declarou vitória contra a pandemia, colocando o vírus como algo brando e que a economia aguenta o tranco. Janeiro vai ser marcado pelo ápice dos casos e talvez o país entre na normalidade, como já ocorre no Ocidente, nos próximos meses. Com algum atraso, mas deve chegar lá. Dessa forma, a pressão de demanda que a economia chinesa pode gerar no mundo ainda não está contabilizada e a capacidade de subestimar o resultado é muito grande.
Já no Brasil, a troca de governo veio acompanhada de todas as ideias heterodoxas possíveis e já estamos falando, ainda que de forma muito especulativa, em rever até a reforma da previdência. Que o teto dos gastos morreu a gente já sabe. Que a reforma trabalhista está na mira, também já é de nosso conhecimento. Agora o jeito do investidor brasileiro dormir é com um olho em algum noticiário e outro meio aberto e meio fechado. Não sabemos onde isso vai parar, mas devemos estar preparados para um ano bem agitado e que só está começando. Lembrem-se que precisamos aprovar algo no lugar do teto dos gastos até o final do ano, então tem muita emoção contratada e ideias ruins para serem discutidas.