Momentos Cômicos das Eleições
Domingo de eleições e esse título, mas não se engane: o Faria Limer Elevator não se candidatou a nenhum cargo político e também não quer influenciar o voto de ninguém. Muito pelo contrário, a Carta desse final de semana é sobre bizarrices eleitorais, eventos que aconteceram há muito ou há pouco tempo mas que marcaram a memória de nosso país. Afinal, não há divisão política que nos faça nosso espírito HUE BR, reis de rir da sua própria vida e potência mundial na produção de memes.
Acho que isso vem de hoje? Nada. Desde sempre conseguimos encontrar graça em momentos sérios. O último foi o padre Kelson.. não, Kelvin. Ou Kelmon? Kellen? Ah, o candidato padre! De trajes religiosos e uma língua que não levava desaforo pra casa, chegou a ser chamado de “padre de festa junina” e ser questionado se não tinha medo de ir para o inferno. Isso nos lembrou das eleições passadas, com o saudoso Cabo Daciolo, que com aquele semblante gospel e inicialmente sério, com cinco minutos de debate já mostrava aquela ginga carioca e seu potencial forte na produção de memes. Deu resultado: o candidato ficou em sexto lugar no primeiro turno, alcançando mais de 1,35 milhões de votos, muito acima do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e da veterana Marina Silva, com 1,28 e 1,06 milhões de votos, respectivamente. Voto de protesto? Pode ser. Nós temos uma tradição nisso.
Por isso mesmo, resolvemos trazer nessa sua encíclica semanal chamada Carta do Condado, os top 3 momentos mais cômicos das eleições, na nossa opinião. Escolha difícil, num país que já tem/teve candidatos como: Paulo B0st4 ("o empresário de m4rd4"), a Arlequina Cosplay, o Wolverine do Tik Tok e o Bin Laden Gari. Mas elencamos aqueles que foram destaque a nível nacional. São eles:
Rinoceronte Cacareco
Embora o nome engana, Cacareco era uma rinoceronte fêmea, emprestada pelo zoológico do Rio de Janeiro ao Zoológico de São Paulo para sua inauguração, em 1958. Nas eleições municipais de 1959, um jornalista teve a ideia de lançar o animal como candidata ao pleito municipal de 1959, uma forma de protesto contra a baixa qualidade dos candidatos.
E Cacareco teve cabos eleitorais: muros foram pichados com nome de Cacareco, bem como santinhos do animal foram impressos e até um jingle da candidatura rolou: “Cansados de tanto sofrer / E de levar peteleco / Vamos agora responder / Votando no Cacareco".
E o resultado foi positivo: naquela época, cerca de 100 mil pessoas escreveram o nome “Cacareco” nas cédulas eleitorais, consagrando a rinoceronte o candidato mais votado daquelas eleições. Só para se ter uma ideia, o segundo candidato recebeu cerca de 95 mil votos. Além disso, o eleitorado de São Paulo naquela época era de pouco mais de um milhão de eleitores, fazendo com que os votos em Cacareco representassem 10% dos votos válidos do pleito. Número expressivo até para os dias de hoje.
Mas “o sistema é f0d4, parceiro”: na verdade, poucos dias antes das eleições de 1959, Cacareco foi devolvida ao Zoológico do Rio de Janeiro. Um esquema contra nossa jovem representando do mundo animal? Quem sabe. Talvez
O Macaco Tião
Ainda no reino animal, tivemos o macaco Tião, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 1998 e que recebeu cerca de 400 mil votos, ficando entre os 3 candidatos mais votados daquela eleição.
O contexto: Tião, que levava esse nome em homenagem ao padroeiro do Rio de Janeiro, era um animal muito querido pelas crianças no zoológico carioca. Seu tratador dedicava cuidados especiais ao animal, de forma que ele aprendeu a andar de maneira ereta e fazer caretas. Com isso, acabou sendo uma das atrações principais do zoo carioca. Com o tempo, porém, Tião foi ficando agressivo e passou a atirar excrementos nas pessoas, de forma que precisou ser encarcerado em uma jaula. Segundo a Globo,isso foi justificado por ele ser um animal de “hábitos especiais, estilo e intenções diabólicas que a gente nota pelo jeito de olhar”. A Globo, sempre ela….
Acontece que um dos atingidos por esses excrementos foi o prefeito do Rio de Janeiro na época, Júlio Coutinho, no dia da inauguração da jaula.
Nas eleições para prefeito de 1988, o pessoal do genial (e saudoso) Casseta & Planeta lançou a ideia: as pessoas deveriam escrever “Macaco Tião” na cédula de votação a prefeito, uma forma de voto de protesto contra o cenário político. Os slogans de Tião incluíam: “Macaco Tião, o único político que já esteve preso”, “Macaco Tião, tudo pela evolução”. Tião teve até um show de lançamento de sua candidatura: um show no Circo Voador onde muitos famosos da época compareceram.
Como adiantamos ali em cima, a estratégia teve sucesso: Tião obteve cerca de 400 mil votos e chegou a ser o terceiro mais votado no pleito municipal de 1988
Jânio e sua Vassourinha
Quebrando a série de membros do reino animal, encerra nosso top 3 de momentos inusitados das eleições, o ex-prefeito de São Paulo e presidente do Brasil, Jânio Quadros.
Jânio, em si, era uma figura um tanto quanto excêntrica: nos livros de história, aparece sempre com aqueles óculos de armações grossas e um bigode que era sua marca registrada. Porém, Jânio entregou muito mais que isso: entregou jingles chicletes e cenas memoráveis.
Começou como vereador na cidade de São Paulo em 1947, depois deputado estadual, prefeito e, por fim, governador, Jânio sempre adotou a vassoura como sua aliada de campanha: a vassoura simboliza a luta contra a corrupção (como o leitor pode perceber, uma luta bem antiga) e Jânio era quem faria a limpeza. Seu jingle chiclete era o “varre, varre, varre, varre vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado”.
Mas Jânio foi além, entregou memes: em 1986, quando eleito prefeito da capital paulista, Jânio quebrou todos os protocolos, tirando do bolso uma lata de inseticida e “desinfetando” a cadeira de prefeito. O motivo? Fernando Henrique Cardoso, que um dia antes da eleição, pousou na cadeira de prefeito da cidade. (Bem que dizem que não é bom comemorar antes da hora). Jânio ainda lançou a braba: “gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram [...] porque o senhor Henrique Cardoso nunca teria o direito de sentar-se cá e o fez, de forma abusiva. Por isso desinfeto a poltrona”.
Acham que parou por aí? Não! Após a eleições, Jânio ainda nos entregou o memorável “fi-lo porque qui-lo”, proibições contra o supra-sumo de Brasil( proibição de maiôs e biquínis nos concursos de miss, proibição de lança-perfume em bailes de carnaval e, mais importante, proibição da grande indústria nacional de rinha de galo) e até mesmo um plano de anexar a Guiana Francesa, território ultramarino francês. Seu mandato também foi encerrado de forma teatral: uma renúncia, 7 meses após o início do mandato de presidente do Brasil.
Frase da Semana
"Ministro da Fazenda só é popular se estiver fazendo algo errado."
Mario Henrique Simonsen, economista e ex-MF.
Tópicos de Economia e Mercado
Chegou o grande dia. As eleições no Brasil são esperadas desde o dia 1 de janeiro e foram temas em 11 de 10 conversas sobre investimentos nos últimos 6 meses. Tudo era baseado no resultado da eleição. Claro, enquanto isso o Fed fez a curva de juros abrir em 4 meses o que o novo presidente precisaria de um ano de políticas ruins para conseguir, mas isso é outro detalhe. Bom, o fato é que já está bem consolidado que, independente do vencedor, o fiscal vai ser mudado. O teto dos gastos já é um rooftop com DJ e drinks em cima. A grande pergunta é: quão ruim é a nova regra, se existir? Não teremos mais as commodities no mesmo nível que esse ano para gerar uma receita extraordinária. O mundo estará em recessão e a política monetária também deve jogar a economia para baixo por aqui. Qual será a reação do novo governo? Tantas perguntas e ainda poucas respostas. O jogo só está começando. Independente de quem você vote, eu discordo.
Já nos EUA, a porradaria ainda come solta no mercado, com mais um dado de inflação acima do esperado e os membros do Fed desceram com o porrete na mão, questionando o mercado e falando que os juros vão ficar altos por muito mais tempo do que imaginamos. Não há muito mais amor na terra do Tio Sam. Ainda assim, não desafiem o poder do mighty dollar.
Na Europa, a situação vai de mal a pior. Até bomba em gasoduto estão explodindo. A percepção é generalizada de que o Reino Unido se tornou um país zoneado da América Latina e que a inflação na Zona do Euro vai ficar alta por muito mais tempo. Agora tem toda a discussão da solvência de um banco suiço que vocês conhecem muito bem e que poderia gerar um efeito dominó em uma situação já fragilizada. A única coisa que posso dizer é que o euro ficará barato por mais tempo.
Por fim, na China, nada de novo. Todo mundo esperando a reunião do partido dia 16 e tentando ver se a turma vai afrouxar a mão nas políticas de Covid-zero. Esse talvez é o maior upside para o Brasil, vindo de fora, com uma melhora do cenário de China. Eles estão fazendo de tudo para não deixar o setor imobiliário colapsar, o que é um guidance importante. Agora falta consumir os estoques de aço e minério de ferro, que continuam elevados, para voltarem a bater com força nas nossas portas.