Não é normal o que está acontecendo - Condado View
Brasil - Dólar na última semana
Semana após semana comentamos por aqui sobre o impacto do descontrole fiscal na economia. Desta vez não vai ser diferente, focando no que passou calor - o dólar-, seja bem-vindo(a).
Não vou reclamar, pelo menos a montanha-russa da economia brasileira nos permite contar essas histórias com essa riqueza de atualizações semanais.
Na quinta-feira (28), nossa moeda teve um leve suspiro, fechando em R$5,50 contra o dólar, após o Lula sinalizar espaço para corte de gastos nos subsídios e isenções tributárias – foco no "sinalizar". Eu não diria que o dólar a R$5,50 por si só é motivo de comemoração. Além disso, não quero parecer engenheiro de obra pronta – já sendo –, mas palavras o vento leva.
E levou! Na segunda-feira (01), vimos o dólar bater R$5,68 na máxima do dia. E, como um bom déjà vu filosófico, Sartre volta a fazer sua aparição nesse cenário. Sim, para o governo, o problema da nossa moeda derretendo é uma reação descabida do mercado – claro, a culpa é sempre dos outros. Vou fazer meia culpa e admitir que os nossos vizinhos da América Latina também não tiveram um bom dia na segunda-feira (01).
Mas na terça-feira (02) não teve desculpa que salvasse o troféu da gente. Enquanto os nossos pares da América Latina ganharam cerca de 0,5% contra o dólar, nós estávamos flertando com os R$5,70, fechando em R$5,67. Nem dava para culpar a curva de juros americana, que recuou, ou as commodities, que subiram. Era um prato cheio para a nossa moeda ter um respiro, mas adivinha só, não foi o que aconteceu. Nesse cenário, fica difícil negar que os problemas internos contribuíram negativamente para o câmbio brasileiro.
Talvez essa fala do Lula tenha ajudado um pouquinho a jogar mais lenha nessa fogueira: “Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real nesse país. Não é normal o que está acontecendo”.
Mesmo com o Roberto Campos Neto tentando afastar a possibilidade de alta nos juros, o mercado já está confabulando sobre essa possibilidade. Esse câmbio nas alturas só contribui para essa narrativa. Já estouramos a marca dos R$5,30, o que deixaria a inflação estimada pelo Banco Central para 2025 em 3,4% – perceba que isso já é acima dos 3% da meta. Com toda essa desvalorização do real, o papo de desancoragem das expectativas de inflação ganha ainda mais força. Lembra daquele prêmio na curva de juros que muitos acreditavam ser exagerado? Pois é, em um cenário de dólar nesses patamares parece menos exagerado.
Mas aí você dorme e acorda, e a conversa já é outra. Na quarta-feira (03), chegou o nosso momento: finalmente, os ativos brasileiros conseguiram aproveitar a onda positiva do mercado externo. Isso veio graças à moderação no tom dos nossos governantes e a uma repentina consciência sobre as despesas também – de novo.
A frase "responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso" – declaração do Lula – ressoou no mercado como aquele abraço de mãe dizendo que vai ficar tudo bem. Como ela sabe? A verdade é que não sabe, mas é bom de ouvir. Ainda na quarta-feira (03), o nosso querido ministro Haddad fez questão de repetir a frase tão bem recebida pelo mercado e acrescentou promessas de preservação do arcabouço fiscal. Resultado: o real valorizou mais de 2% na quarta-feira (03) e voltou à marca dos R$5,55. Os coachs que acreditam no poder das palavras nunca estiveram tão contentes.
Mundo - guilhotina
Nos EUA, a bolsa bateu outro recorde, com o S&P 500 chegando à marca de 5.500 pontos. E qual foi o motivo dessa euforia? A Tesla disparou 10% na terça-feira (02), graças a vendas acima do esperado.
Para ajudar ainda mais, o setor de serviços contraiu no ritmo mais rápido dos últimos quatro anos. E embora as folhas de pagamento do setor privado tenham aumentado, foi em um ritmo mais moderado. Além disso, os pedidos de auxílio-desemprego aumentaram pela nona semana consecutiva. Em resumo, a atividade econômica americana está mostrando sinais de enfraquecimento. Outro recorde para conta das bolsas americanas na quarta-feira (03).
Tivemos as declarações de Jerome Powell no ECB Forum on Central Banking 2024, em Sintra - Portugal, onde ele declarou que na visão dele a economia americana voltou para a trajetória de desinflação. Isso sinaliza uma abertura para a discussão sobre corte de juros e também contribuiu para a festa.
Na França, Macron e seu partido mais ao centro já estão sentindo o gosto da guilhotina política. Parece que a moda agora é apostar nos candidatos extremistas – um recorde de comparecimento nas urnas confirma isso. Para te dar um pouco mais de contexto, essa eleição foi para definir a versão francesa da câmara dos deputados, a Assembleia Nacional. No primeiro turno, a extrema-direita abocanhou 34% dos votos, enquanto a extrema esquerda ficou com 29%. E o segundo turno acontece no próximo fim de semana. A galera mais anti-euro está chegando?
Dados de mercado
Data-base: 03 de julho 2024.
Fonte: Yahoo Finance
Frase do dia
“A capacidade de concentrar nossa atenção em coisas importantes é uma característica definidora da inteligência.” - Robert Shiller
Curiosidade da semana
O som pode ser de menos decibéis . O lugar mais silencioso da Terra é a câmara anecóica da Microsoft em Redmond, WA, EUA, com -20,6 decibéis. Essas câmaras anecóicas são construídas com concreto pesado e tijolos e são montadas em molas para impedir que as vibrações entrem pelo chão.
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