Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - Ruim com ele, pior sem ele?
O mercado financeiro está com aquele gostinho amargo que parece que nunca vai embora. Já faz um bom tempo que estamos todos com esse hálito mais azedo. Talvez seja melhor se acostumar.
Na última sexta-feira (7), finalmente tivemos a divulgação dos dados do mercado de trabalho americano. Vamos fazer uma pausa aqui para lembrar que os relatórios preliminares estão errando mais do que economistas - ah, espera, são os próprios economistas. Enfim, esses dados vieram para dar uma rasteira nos mercados e acabar com qualquer esperança de um corte nas taxas de juros americanas num futuro próximo, certo? Calma, já já falo mais sobre o Payroll.
Ainda na sexta-feira (7), após um evento a portas não tão fechadas assim, alguma maria fifi repassou supostas declarações do Haddad que foram um verdadeiro banho de água fria no mercado - que já estava meio cambaleante diante da rasteira que tomou do payroll. Como o evento foi privado, ninguém sabe ao certo o que ele disse, mas dá para adivinhar o temor do mercado: preocupações fiscais, claro.
O pobre arcabouço fiscal, que além de nascer morto, vive em constante agonia, agora tem como principais preocupações a regra de reajuste do salário mínimo, o piso das despesas com saúde e educação, e o caos sobre o Pis/Cofins.
Resumindo o drama: o reajuste do salário mínimo afeta 40% do orçamento e já garante um aumento robusto perto dos 3% (em termos reais) para 2025 - lembra que o "combinado" era inflação mais 2,5% ao ano? O piso das despesas com saúde e educação foi reindexado às receitas, e junto com a parte do salário mínimo, reduz significativamente o espaço para qualquer ajuste fiscal. E ainda teve a solução mágica do governo para o reajuste de Pis/Cofins que foi recebida com uma bela reação negativa do setor empresarial.
E o mercado, diante de tantas incertezas no cenário político, passou a demonstrar um carinho repentino pelo Haddad no melhor modo "ruim com ele, pior sem ele".
Diante disso tudo, o dólar passa calor e acaba fechando em R$5,40, o maior patamar desde o começo do ano passado - eu sei, eu sei, fiquei impactado cedo demais com os R$5,30 na semana passada. O Ibovespa perdeu a marca psicológica de 120 mil pontos, fechando em 119.936 e os juros longos subiram 25 pontos base, tudo isso na quarta-feira (12) - viva o amor.
Olhando o histórico do Ibovespa na semana da para ver um fechamento positivo em meio ao mar vermelho de resultados ruins. Ali na terça-feira (11), o índice acabou se descolando da sangria do dólar, graças a algumas notícias positivas. Primeiro, mais um recorde do S&P500 e recordes nas exportações de proteína e carne bovina. As exportações de produtos in natura e processados foram a segunda maior da nossa história. E teve também o recuo em relação à MP do Pis/Cofins, com Randolfe Rodrigues abrindo espaço para conversas.
Para completar ainda tivemos a divulgação do índice de inflação, o IPCA subiu de 0,46% em maio, um pouco acima do esperado (0,42%). A taxa acumulada nos últimos 12 meses ficou em 3,39% e no acumulado até maio está em 2,27%. E os culpados da vez são: preço de alimentos e bebidas que avançaram 0,62% na comparação com abril.
Fonte: Valor Econômico
O lado bom é que se o caos precificado nos ativos de mercado se concretizar o seu FGTS pode ser corrigido pela inflação.
Climinha gostoso para os enamorados pelo trade always bet against Brazil.
EUA - Nesse vai e vem, a gente se dá bem, a gente se atrapalha
Mais uma vez nenhuma surpresa emocionante na decisão sobre a política monetária americana. Como deve ser. O FED, em uma exibição invejável de previsibilidade, manteve a taxa de juros em 5,25% a 5,50% pela sétima reunião consecutiva. A vol da treasury agradece.
Enquanto o maior risco econômico for a inflação, a gente continua vivendo no mundo do ao contrário. Antes de sexta-feira (7), estava todo mundo feliz com o desaquecimento da economia, tinha até live de wealth falando em risco de desaquecimento excessivo. Aí enquanto você se preparava para tomar uma cervejinha no almoço, vem o payroll com a pior notícia boa que ele poderia trazer: um monte de emprego novo. Foram criadas 272 mil vagas em maio, enquanto os otimistas do LSEG estavam prevendo apenas 185 mil. Surpresa e 12 bps de abertura da treasury. Final de semana azedo e se seu passivo é em real, pior ainda (ver acima).
A gente até tenta construir uma sequência linear de fatos, mas a realidade dos dados econômicos não está muito preocupada com isso.
Na terça-feira (11) o leilão do Tesouro Americano apresentou a maior demanda desde o início do ciclo de alta da taxa básica de juros por lá (quase US$ 40Bi). Na quarta-feira (12), o CPI veio levemente abaixo das expectativas, se mantendo estável em relação a abril, e nos últimos 12 meses o índice avançou 3,3% contra os 3,4% no mês anterior. Já dá para vislumbrar a meta?
E pra terminar, dados de deflação no Índice de Preços ao Produtor (PPI), que foram divulgados hoje (13) - caiu 0,2% no mês passado -, e agora?
As taxas de juros longas já estão mais baixas que quinta-feira passada, e quem vive de prever o mercado está passando dificuldades.
No meio de tudo isso, a indústria de tecnologia segue alheia ao caos macroeconômico. Os preços dos principais índices de ações continuam sendo salvos heroicamente por esse setor.
Nesta semana foi a vez da Apple fazer o papel de super-heroi. O rebranding de AI para Apple Intelligence fez as ações saltarem mais de 7% após o evento de desenvolvedores (WWDC), onde a empresa oficializou a sua entrada na hype do momento. Com isso, o S&P 500 e o Índice Nasdaq bateram recordes de fechamento, em 5.375,32 e 17.343,55 pontos, respectivamente, na terça-feira (11). Tech é pop.
Dados de mercado
Data-base: Fechamento de ontem
Fonte: Yahoo Finance
Frase do dia
"Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo, e todas as pessoas por algum tempo, mas não pode enganar todas as pessoas o tempo todo." - Abraham Lincoln
Curiosidade da semana
Um raio é cinco vezes mais quente que a superfície do Sol . A carga transportada por um raio é tão intensa que atinge uma temperatura de 30.000°C (54.000°F).
E a china comprando ouro como se não houvesse amanhã. Mas será que terá?