Natimorto Arcabouço Fiscal - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
EUA - Azedou o caldo
Uma onda de pessimismo disparou sobre os mercados essa semana e essa virada de chave tem muita relação com os dados de inflação americana (CPI) divulgados na quarta-feira passada (10), falamos mais nesse view.
No fechamento da quinta-feira (11) as taxas longas, Treasuries de 10 anos, subiram 20 pontos-base - o pessoal se assustou mesmo com o CPI.
Nem a divulgação de um PPI (Inflação ao produtor), uma espécie de índice de inflação do atacado divulgado na quinta-feira (11), melhor do que o esperado foi capaz cumprir o papel de um chá de camomila nos ânimos do mercado. O índice subiu 0,2% em março, desacelerando em comparação aos 0,6% de fevereiro. O consenso esperado pelo LSEG de analistas previa um aumento de 0,3%.
Há quem diga que o PPI dando sinais de melhora ajuda a pintar um quadro mais favorável para o PCE que sai no próximo dia 26, mas não foi bem assim que o mercado enxergou não.
Pra completar, ainda teve um pula-pirata no fim de semana. O Irã decidiu sacudir o tabuleiro geopolítico com um ataque a Israel no último sábado. O primeiro pensamento que paira pela mente é de que o mercado vai se proteger na renda fixa americana, mas havia uma divulgação das vendas do varejo no meio do caminho.
Os resultados das vendas do varejo vieram em 0,7%, enquanto o esperado era de 0,3%, mais altas do que o esperado, portanto. A tampa do caixão do início dos cortes em junho estava quase fechada e esse dado veio para contribuir com o fim dessa expectativa. Nem com a fuga de capital de risco depois do ataque as Treasuries deram um respiro, vide as mesmas avançando cerca de 9 pontos base na segunda-feira (15).
Falando em renda fixa, por que ela está apanhando tanto? Simples, porque a pujança da economia americana está levando a uma nova precificação dos juros pelo mundo. Não me espantaria em ver “higher for longer" nos trending topics. Taxa de desconto também bate na bolsa, que sofreu essa semana, mas lembre-se que, por outro lado, uma economia mais forte é positiva para as empresas (bolsa).
Diante desse cenário, o início dos cortes na taxa de juros americana tá parecido com aquele encontro com seus amigos da escola. Segundo CME Group, o mercado já respondeu ao “vou ver e te aviso” e começou a cogitar somente dois cortes para esse ano, com o início somente em setembro. Powell sinalizou perda de confiança na desinflação também.
Brasil - O inferno são os outros?
A pauta em terras tupiniquins é observar e seguir o que está acontecendo nos EUA. No equilíbrio instável entre uma política fiscal expansionista e uma política monetária restritiva por mais tempo, parece que o dólar está levando a melhor (por pouco tempo, dirá seu podcast alarmista favorito). Vimos o dólar disparar de R$ 5 para R$ 5,26 em alguns dias por aqui.
fonte: g1
Ao contrário da “recomendação” de Sartre, não dá para colocar toda a culpa nos outros (EUA e conflito no Oriente Médio). A tríade se fecha com a mudança na projeção fiscal do Brasil.
O Haddad anunciou uma nova previsão de déficit zero para 2025, modificando o que antes foi anunciado como superávit de 0,5% do PIB. O natimorto arcabouço fiscal, pelo menos a primeira versão dele, teve depois de tantas mudanças, outro afrouxamento ainda no segundo ano de existência.
Memes a parte, é por isso que estão ouvindo falar sobre juros mais altos por aí.
Mundo - Ninguém compra casa na China
Os aficionados por teoria dos jogos estão de prontidão, dissecando a abordagem "tit for tat" (eu coopero, se você cooperar) que Israel e Irã parecem ter adotado. Desde o início deste tumulto no Oriente Médio, a possibilidade do Irã entrar no conflito deixava todos os olhos abertos. Mas agora, especula-se que talvez esteja sendo "apenas" uma resposta ao ataque anterior de Israel a Damasco. As reações do mercado agora estão ancoradas nas próximas jogadas de Israel.
O Banco Central Chinês decidiu, mais uma vez, que era hora de brincar de desvalorização com o Yuan, oferecendo uma "flexibilidade" que ninguém pediu. A cereja no topo do bolo? O PIB da China cresceu um pouco mais (5,3%), o que seria ótimo, não fosse por um detalhezinho: tanto a produção industrial quanto as vendas no varejo ficam abaixo das expectativas, em 4,5% e 3,1% respectivamente. E não podemos esquecer das vendas de casas novas, que despencaram 27,6% no primeiro trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano passado. Claramente, a China não está no clima de acalmar os nervos do mercado.
Frase do dia
"Produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo." - Paul Krugman
Curiosidade da semana - O cemitério é silencioso
O viés da sobrevivência é um conceito estatístico que descreve o erro de julgamento que ocorre quando as análises são baseadas apenas em dados de casos que "sobreviveram" ou foram bem-sucedidos, ignorando aqueles que falharam. Esse conceito foi amplamente discutido pelo Nassim Nicholas Taleb em seu trabalho sobre incerteza e probabilidade. Um exemplo clássico desse viés vem da Segunda Guerra Mundial, referente ao reforço dos aviões. Os engenheiros observavam os aviões que retornavam de missões e notavam pontos frequentes de dano por bala. A princípio, pensaram em reforçar essas áreas, mas a análise mais profunda revelou que deveriam reforçar as áreas que não mostravam dano, pois os aviões atingidos nessas áreas não estavam retornando.