“Ninguém tem mais responsabilidade fiscal que eu” - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Enquanto você já estava organizando os panetones e pensando nas promessas de ano novo (que não vai cumprir), o mercado está animado nessa finaleira de ano. Com animado leia-se: investidor com cash fazendo a festa comprando Tesouro IPCA+ 2045 a 7,2%.
Como bem manda o princípio fundamental da democracia representativa, nosso parlamento nos representa com perfeição: deixa tudo pra última hora. Igualzinho você entregando o Imposto de Renda no 45 do segundo tempo. Estamos em dezembro, e ainda tem pauta fiscal importante pendurada esperando votação.
Tem Pacote de Ajuste Fiscal, tem PEC sobre Cortes, tem Reforma Tributária, fora as medidas provisórias pendentes e os vetos presidenciais. O mercado está achando que não vai dar tempo e não tem água com açúcar que acalma.
Falando nisso, não está pegando muito bem o judiciário elucubrando sobre mudanças no trecho da PEC do Pacote de Ajuste Fiscal, mais especificamente os que combatem às exceções ao teto remuneratório do funcionalismo público. Tão querendo fazer um puxadinho criando um segundo teto específico para essas indenizações.
Até porque, a quinta edição do relatório de projeções fiscais trouxe um alerta claro de que os gastos obrigatórios estão crescendo além do que o arcabouço fiscal permite. Pela regra, o avanço das despesas reais está limitado a 2,5%, mas com as contas obrigatórias extrapolando, sobra pouco espaço para despesas institucionais. Em outras palavras, o governo vai ter que fazer mágica para manter tudo funcionando nos próximos 10 anos sem estourar o orçamento.
Sobre a Reforma Tributária teve uma notícia boa e outra ruim. Foi aprovada pelo Senado, mas vai ter que voltar para Câmara porque está cheio de modificações.
Teve o governo federal e sua equipe econômica fechando um acordo com as Forças Armadas para implementar medidas de ajuste fiscal que visam economizar R$ 2 bilhões anuais nas contas públicas. Entre as mudanças acordadas, destaca-se a introdução progressiva de uma idade mínima de 55 anos para que militares possam passar à reserva remunerada, com transição prevista até 2032.
Como se o enredo tupiniquim já não fosse dramático o suficiente, o núcleo internacional resolveu dar uma pitada de tempero agridoce. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, voltou à cena com declarações sobre aumentar tarifas para produtos estrangeiros, Brasil incluso, num clássico "se me taxam, eu taxo de volta".
O mercado não demorou para sentir o baque de mais essa. Depois disso vimos as taxas de juros por aqui renovando máximas, com os DIs superando o 15% de prêmio, Ibovespa caindo abaixo dos 124 mil pontos, no menor patamar desde junho e o dólar fechando em alta de 1,03% em cima do real na terça-feira (17).
Parte da escalada do dólar também pode ser creditada aos discursos do Jerome Powell. O DXY, índice que mede o dólar frente a uma cesta de moedas fortes, subiu 1,15%, refletindo o peso das palavras do presidente do Fed. Powell veio a público reforçar sua preocupação com a inflação, dizendo que o trabalho contra ela está longe de acabar e que pode levar dois anos ou mais para atingir a meta de 2%. E, claro, deixou no ar a possibilidade de uma nova alta de juros em 2025. Para os mercados emergentes, já é ruim. Para os emergentes com o fiscal capenga, como o Brasil, é um lembrete de que o aperto pode ficar ainda mais doloroso.
Você está vendo uns leilão de swap cambial patrocinado por aí. Isso é o BC fazendo seus famosos leilões de linha, no qual o BC vende dólares com compromisso de recompra futura. A ideia aqui é garantir liquidez para a demanda sazonal por moeda estrangeira, típica do fim de ano. Teoricamente sem mexer demais na cotação do dólar.
Agora, em dezembro de 2024, o BC veio pesado: injetou US$ 12,76 bilhões no mercado, a maior intervenção mensal desde os tempos pandêmicos de março de 2020. Mas convenhamos, não é só os fatores sazonais que estão pensando, as incertezas fiscais estão fazendo o dólar suar, e o BC decidiu entrar em cena para tentar mitigar os efeitos.
O BC está tentando segurar as pontas, mas fica difícil quando o presidente vai à TV soltar palavras fantásticas como: “ninguém tem mais responsabilidade fiscal que eu” - mas sem medidas concretas - e “A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%”.
Dados de mercado
Data-base: 18 de dezembro de 2024
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“O homem que não lê bons livros não tem vantagem sobre o homem que não sabe lê-los.” - Twain
Curiosidade da Semana
Você pode realmente morrer de rir . Pessoas já morreram , geralmente devido a uma risada intensa que causa um ataque cardíaco ou sufocamento. Shows de comédia devem vir com um aviso.