No fio da navalha monetária - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - SELIC a 14% na Austrália
É, meus amigos, se vocês achavam que no começo da semana a coisa já estava complicada, não sabiam o que estava por vir com a decisão do Copom nesta quarta-feira (11).
O comitê de política monetária discorda de que o Brasil não está tão mal na fita. Decidiram acelerar a alta dos juros e elevar a Selic a 12,25% no apagar das luzes de 2024. Quando digo acelera é porque dessa vez eles decidiram aumentar 1 ponto percentual, diferente dos 0,5 bps que estávamos vendo até agora. E assim, acompanhando o noticiário econômico já dava pra encontrar alguns pessimistas (recém laureados realistas) com expectativas de 1p.p, o que ninguém esperava era o forward guidance generoso de outros dois aumentos de mesma magnitude nas reuniões seguintes.
Naturalmente que ninguém alcança a presidência de uma autoridade monetária sem a malícia de esconder a chave da algema em alguma reentrância obscura e o guidance veio com a ressalva de só valer se o cenário se mantiver como está. Quem talvez não tenha ficado radiante com essa notícia é o Galípolo, o real destinatário das algemas, afinal, as ditas reuniões já vão acontecer com o COPOM sob a sua direção.
O lado bom é que essa decisão fortalece ainda mais a credibilidade da autoridade monetária, o lado ruim é aquilo que todo investidor de ações de crescimento conhece bem: expectativa é uma merda.
Fonte: CNN
E para você que não entendeu quando eu disse que as coisas já não estavam lá tão boas no início da semana, vou explicar:
A partir de segunda (09) o seu grupo do WhatsApp - market updates anything - de atualizações do mercado estava frenético o dia inteiro. As notificações com certeza estavam trazendo atualizações de Brasília. Tinha até decisão de relatoria saindo depois das 11 da noite. Nada mal pro pessoal que adere à jornada de trabalho 3x4. Parece que tem gente correndo para entregar os projetos assinados e garantir que a qualidade da avaliação de performance do ciclo venha boa e garantam suas emendas-bônus.
Os projetos que tiram o sono dos nossos queridos representantes são o Orçamento de 2025, a Reforma Tributária. No começo da semana ficou aquela discussão sobre a viabilidade de recorrer ao lubrificante político mais eficaz ao nosso presidencialismo de coalizão: as emendas… qual o nome que estão usando agora mesmo? Flávio Dino não queria mais, o STF concordou, mas o pessoal deu um jeitinho e parece que vai rolar. Enquanto isso, o câmbio continua oscilando em torno dos R$6,00 e nem chegaram no pacote de gastos ainda.
No fronte da inflação, todo mundo tinha avisado: dinheiro demais circulando por aí encarece o preço das coisas, mas para quem não estava querendo escutar, o IPCA veio deixar as coisas um pouco mais claras. O índice até registrou desaceleração em relação a outubro, mas veio acima das expectativas, com uma inflação de 0,39% em novembro e acima também da medida do mesmo mês no ano anterior. Culpem os alimentos, passagens aéreas, queimadas etc. Mas de qualquer forma o que temos é um mercado de trabalho aquecido, atividade forte, expectativas desancoradas, prolongamento da depreciação cambial e o desarranjo fiscal. O senso de urgência dessa descrição somado à falta de ação nas decisões de política fiscal te ajuda a entender a decisão do Copom?
E para quem estava sentindo falta de gasolina na lareira do Natal ainda teve o vai e vem de cirurgias que o presidente Lula passou ao longo da semana, desdobramentos do acidente que ele sofreu no Palácio do Planalto. Na segunda-feira (9) foi a retirada de um hematoma e na quarta-feira (11) um novo sangramento levou o Presidente para a sala de cirurgia novamente. Teve até reação forte no mercado ao mesmo tempo do anúncio da nova cirurgia, mas na quinta-feira (12) tudo voltou ao normal, com o Ibovespa caindo mais de 2% e os juros abrindo em torno de 50 bps na curva inteira.
Mundo - tá ruim para alguns
O noticiário macroeconômico americano segue mais morno, estamos em paz com o soft landing e a discussão agora paira sobre a magnitude dos próximos cortes do FED, incluindo aí a possibilidade de manutenção da taxa. Nessa semana são incorporados ao debate os dados de emprego e inflação que mostraram que a atividade americana segue aquecida. Foram 227 mil novas vagas de emprego em novembro, ficando acima das expectativas de mercado. Jogando no mesmo time, o CPI teve a maior alta em sete meses em novembro em 0,3%. Existe um desconto da sazonalidade e o mercado já esperava, segue o jogo. Do outro lado tem os números de pedidos de seguro desemprego que vieram mais altos que as expectativas. Aquecido, mas não tanto. E em cima do muro a taxa de desemprego se manteve em 4,2%.
Powell e companhia se mantêm no extenuante processo de atualizar paulatinamente, dado após dado, o cenário econômico na tentativa de equilibrar o transatlântico da economia americana no fio da navalha monetária. Sem muitas novidades em relação às apostas para o corte de juros do FOMC, então.
E se para o Powell montar o quebra-cabeça do cenário econômico tá dando trabalho, no caso da Lagarde (presidente do Banco Central Europeu - ECB) dá pra chegar mais tranquilo a uma conclusão mais certeira: tá ruim. Revisar a expectativa de PIB da Zona do Euro para baixo deixou de ser novidade e nessa semana o ECB aplicou mais um corte na taxa básica de juros levando a taxa a 3% ao ano. O objetivo é baratear o dinheiro e deixar o pessoal com mais vontade de usá-lo.
E já que a gente chamou essa seção de “Mundo”, vai aqui um compilado das decisões de política monetária publicado pelo Financial Times.
Se não contar a Japão e a Rússia, já dá pra falar em excepcionalismo Brasileiro na política monetária.
Bate Papo no Olimpo do Mercado Financeiro
O PodInvestir, da Inteligência Financeira, realizou um debate sobre cenários de investimento e alocação de ativos com dois gigantes do mercado.
Descrentes com o atual governo e com os rumos da economia brasileira, André Jakurski, fundador da JGP, e Rodrigo Azevedo, que criou a Ibiuna, estão para lá de conservadores quando se trata dos investimentos para 2025.
Questionados sobre como aplicar o dinheiro no próximo ano, eles concordam em quase tudo tratando-se de Brasil. Mas discordam quando o assunto é mercado internacional.
Confira o episódio íntegra pelo Spotify, no YouTube, ou então pela sua plataforma de áudio preferida.
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Link Youtube:
Dados de mercado
Data-base: 11 de dezembro de 2024
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“É muito mais fácil descobrir se algo é frágil do que prever a ocorrência de um evento que pode prejudicá-lo.” - Nassim Taleb
Curiosidade da semana
Todos os mapas do mundo estão errados. Na maioria dos mapas, a projeção de Mercator – desenvolvida pela primeira vez em 1569 – ainda é usada. Esse método é extremamente impreciso e faz o Alasca parecer tão grande quanto o Brasil e a Groenlândia 14 vezes maior do que realmente é. Para um mapa ser completamente preciso, ele precisaria ser redondo, não plano.