Novas máximas (de novo) - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
A Condado View dessa semana traz só notícia boa. Semana boa para quem estava com saudade da correlação entre juros e dólar nos EUA e taxas longas abaixo de 13,5% no Brasil. Manda pra gente o relatório macroeconômico mais controverso que você viu durante a semana no contato@farialimagroup.com.br.
EUA
Do lado de lá parece que o dólar e a Treasury fizeram as pazes mesmo. E com isso observamos mais um ciclo de desespero do mercado se desfazer sem que os desfechos refletissem as grandes preocupações expressadas nos preços. Circulou em todo o lugar (inclusive aqui nessa carta) a primeira parte desse gráfico, quando o DXY (índice da variação do Dólar contra uma cesta de outras moedas relevantes) passou a caminhar de maneira oposta à taxa da Treasury de 10 anos. Isso aconteceu em resposta ao “Liberation Day” e foi interpretado como um sinal inequívoco da derrocada do dólar no mundo.
Você que é brasileiro e está acostumado a ver o Real se desvalorizando quando os juros brasileiros sobem deve estar pensando: “qual o problema disso?” A questão é exatamente essa: a descorrelação entre juros e moeda é uma característica de países emergentes, e como ninguém quer ter sua reserva monetária em país emergente, sua falta de espanto era justamente a natureza da preocupação.
Nós da Condado View seguimos cumprindo nosso papel de colocar água no Chopp das narrativas exageradas do mercado e por isso segue o gráfico do DXY voltando a dar passos na mesma direção das taxas de juros longas americanas.
Fonte: TradingView
E o que os acontecimentos desta semana têm a ver com isso?
O papel do operador do mercado financeiro é imaginar qual a melhor alocação de capital para um determinado horizonte de investimento. Infelizmente para a gente o que acontece entre a decisão de investir e esse horizonte está completamente fora do nosso controle e o que nos resta fazer é estimar o caminho mais provável diante das informações relevantes que vão chegando aos nossos ouvidos e planilhas. Cada dado novo, cada métrica macroeconômica e, mais recentemente, cada Xweet vai atualizando essa distribuição de cenários mais prováveis e, a partir de um certo nível de confiança na conclusão, deveríamos atualizar essas alocações.
Por exemplo, se você acha que as tarifas do Trump serão Stagflacionárias, que vão comprimir os lucros das empresas, amassar o poder de compra do cidadão e deixar o FED de mãos atadas, você deveria migrar seu portfólio de ativos de risco (vender bolsa e títulos longos) para proteções (comprar ouro e dívidas de outros países).
Feliz E infelizmente essas reações são geralmente exageradas. Infelizmente para quem sofre com a volatilidade e felizmente para quem captura os prêmios, seja por permanecer investido, seja por adquirir ativos de risco em momentos oportunos.
Acontece que os indicadores seguem surpreendendo positivamente: saiu hoje (03) o payroll de junho trazendo +147 mil vagas (consenso 110 mil) junto com os dados de desemprego em 4,1% (vs. 4,3% esperado). Os dados baseados em pesquisas também começaram a subir. Na terça-feira (1) saiu o ISM manufatura de junho em 49,0 (versus 48,8 esp.), ainda em território contracionista mas em recuperação e na sexta-feira (27) o Índice de Percepção do Consumidor medido pela Universidade de Michigan em 60,7 (60,5 expec.), subindo também.
O único dado que poderia gerar incômodo era o núcleo do PCE de maio +0,2% (contra 0,1% projetado), mas com um gráfico desses de convergência para a meta de 2%, não dá pra sustentar grandes hipóteses de desespero.
Fonte: FRED St. Louis
O principal cenário que assustava o investidor eram os impactos da política comercial errática dos EUA, tanto pelo aumento das tarifas em si, quanto pela imprevisibilidade gerada pela maneira como elas foram implementadas. A conclusão que o mercado parece estar chegando é uma de resiliência da economia americana: ela aguenta mais desaforo do que imaginávamos. E assim a narrativa de perda estrutural de força do dólar cede lugar ao padrão clássico: quando crescimento e juros permanecem relativamente mais altos nos EUA, o dólar volta a se fortalecer.
Brasil
Por aqui, o presidente do Banco Central, Galípolo, foi a público na sexta-feira (27) comentar que ainda é cedo para o Mercado estar discutindo cortes e reforçou a parte do comunicado do COPOM que dizia que a taxa SELIC ficaria alta por “bastante tempo”. Coincidentemente, ou não, esse foi o começo de um forte movimento de valorização dos ativos de risco brasileiros, com o fechamento da curva de juros nominal e o Ibovespa alcançando novas máximas e chegando a cruzar a barreira dos 141 mil pontos hoje (03).
Fonte: TradingView
Parece contra intuitivo, não é? Como que a sinalização de uma política monetária restritiva por mais tempo pode ser positivo para os ativos de risco de um país? Afinal, a taxa de juros da economia não é a base da taxa de desconto de todos os fluxos futuros? Trazer esses fluxos a valor presente não deveria produzir os preços unitários desses títulos? A questão toda volta para o horizonte. Puxando os dados da curva nominal da ANBIMA a gente consegue ter uma visão melhor dos impactos de uma política monetária que ganha credibilidade com o mercado.
Fonte: ANBIMA
Note que a maior parte do movimento aconteceu nas taxas de juros longas, a partir de 3 a 4 anos à frente. Quando o Banco Central comunica que as taxas ficarão altas por muito tempo, ninguém está achando que teremos SELIC a 15% nas próximas Olimpíadas (2028) mas sim que o BC está disposto a fazer o que for preciso (essa frase costuma fazer preço) para trazer a inflação para a meta. Inclusive, apesar do "bastante tempo” as taxas de um ano estarem abaixo de 15% já sinaliza que existe no mercado expectativa de corte de juros nos próximos 12 meses.
E não é só papo (ou, forward guidance) os sinais de arrefecimento da economia seguem se acumulando. A Pesquisa Focus desta segunda-feira (30) mostrou novas revisões para baixo nas expectativas de inflação: o IPCA projetado para 2025 caiu de 4,10% para 4,07% e, para 2026, de 3,90% para 3,85%, reforçando a tese de que o Copom já poderá iniciar cortes no primeiro trimestre de 2026. Do lado da economia real, a produção industrial de maio recuou -0,5% em comparação ao mês anterior, terceira leitura negativa em quatro meses, enquanto na terça-feira (1) o PMI de serviços S&P Global caiu para 49,3 em junho, voltando a território contracionista. A trinca se completa com o IGP-M de junho que saiu na sexta (27) em -1,67%, segunda medida deflacionária seguida e a maior queda mensal desde 2020, sinalizando forte alívio nos custos ao atacado e tradicionalmente um bom antecedente para o IPCA.
O dado que poderia contrariar a tese vem do mercado de trabalho: a taxa de desemprego de maio recuou para 6,2% (vs. 6,6% em abril), um dado que poderia ser interpretado como inflacionário, mas que, somado ao quadro geral, corrobora a leitura de que a política monetária contracionista está surtindo efeito sem provocar danos profundos à atividade.
A sinalização de compromisso do BC somado à política monetária fazendo efeito é visto positivamente pelo mercado porque entendemos que o guardião da moeda tem força suficiente para cumprir seu papel, e se a moeda não vai perder tanto valor nos próximos anos, até que eu posso me dar ao luxo de emprestar dinheiro cobrando um pouco menos por isso, não é? Bom pra todo mundo.
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Dados de Mercado
Data-base: 02 de julho de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“Se queres construir um navio, não reúnas os homens para juntar madeira, dividir o trabalho e dar ordens. Em vez disso, ensina-os a ansiar pelo vasto e infinito mar.” - Antoine de Saint-Exupéry
Curiosidade da semana
Não se pode dobrar uma folha de papel A4 mais de oito vezes (é um desafio!). Como o número de camadas dobra a cada vez, o papel rapidamente fica grosso e pequeno demais para ser dobrado. O atual recorde mundial de dobradura de papel pertence à estudante do ensino médio da Califórnia, Britney Gallivan, que em 2002 conseguiu dobrar uma folha de papel de seda de 1,2 km de comprimento 12 vezes.