O Bafafá no Mercado Essa Semana E Uma Coisinha Sobre os EUA
Todo mundo só falou nisso: o valor de mercado da Nvidia, que bateu a marca dos US$ 2 trilhões em valor de mercado e que só na quinta-feira (22) teve o maior ganho já registrado na história de Wall Street. Tudo isso causado pelo frenesi de inteligência artificial (IA) e a corrida dos chips: estão apostando que a inteligência vai revolucionar a forma como produzimos as coisas. Para que a revolução da inteligência artificial aconteça, são necessários chips. E a Nvidia lidera nesse ramo.
Para os leigos, é mais ou menos assim: Nvidia está para a IA da mesma forma que a Apple está para os smartphones. Existem outros smartphones além dos da Apple? Existem, mas o povo "gosta" dos da Apple. O "gosta" entre aspas é porque essa preferência é muito mais histórica do que por puro capricho ou apreço por design: quando os computadores aprenderam a aprender, eles aprenderam nos chips da Nvidia, e agora a maioria absoluta dos programas de IA rodam no hardware e software desenhado pela companhia. A empresa tem clientes gigantescos, que incluem Google, Meta, Amazon, Microsoft, OpenAI dentre centenas de outras.
Mas essa Carta do Condado não é sobre a Nvidia, e sim sobre seu fundador e uma política de estado adotada pelos Estados Unidos há muito tempo e que explica muito da riqueza daquele país.
Um CEO bad boy?
A Nvidia foi fundada em 1993 por Jensen Huang, Chris Malachowsky and Curtis Priem, depois de uma papo em uma mesa de um restaurante de beira de estrada, o Denny's (guarde esse nome).
Huang é o CEO desde o início – um caso raro nas empresas tech, em que assim que a empresa vira um unicórnio, os founders vendem o controle da empresa – e credita muito da seu estilo de gestão à sua experiência migratória e as dificuldades de um asiático na terra das oportunidades.
Aos 9 anos saiu de Taiwan junto com seu irmão para morar com um tio em Tacoma (Washington). No ano seguinte, acreditando que estavam garantindo um futuro melhor para os filhos, os pais de Huang o enviaram para o Oneida Baptist Institute, uma escola para “alunos especiais”. Eles pensavam que “especiais” queria dizer “acima da média”, o que encaixaria com Jensen, que era um excelente aluno.
Um CEO marombeiro e tatuado
Na verdade, era uma escola para alunos problemáticos. O colega de quarto de Jensen era um aluno de 17 anos que tinha acabado de sair da prisão e estava se recuperando de uma briga em que levou 7 facadas. Daí surgiu uma grande amizade. Ele ajudou seu colega com matemática, em contrapartida aprendeu sobre musculação intensa, um hábito que pratica até hoje. O período na Oneida fez com que Jensen desenvolvesse uma resiliência e postura de “durão” que será essencial na trajetória da Nvidia.
Aos 15 anos, Huang trabalhou brevemente como lavador de pratos e garçom no restaurante Denny's (lembrou desse nome?). Anos a frente, obteve seu diploma de graduação em engenharia elétrica pela Oregon State University e, em seguida, um mestrado na mesma área em Stanford.
Fast forward mais alguns anos, depois de trabalhar com engenharia, inclusive como designer de microprocessadores, Huang foi cofundador da Nvidia em 1993. E o resultado, depois de 30 anos, está aí: uma empresa de 2 trilhões de dólares, valor de mercado 10 vezes maior que a principal concorrente (a Intel) e um pouco menor que o PIB inteirinho do Brasil (estimado em US$2,1 trilhões em 2023, de acordo com o FMI).
Essa Carta Não é Sobre Huang
Mas essa carta não é sobre o CEO Jensen Huang. Essa carta é sobre o imigrante Jen-Hsun Huang (nome taiwanês do empresário), que saiu de Taiwan aos 9 anos e se formou em engenharia em Stanford.
Huang é apenas um dos incontáveis casos de imigrantes que chegam todos os anos à América atrás do "sonho americano" e que explicam o motivo daquele país ser uma potência mundial.
Apesar do debate acalorado sobre a imigração ilegal – que teve desdobramentos relevantes nos últimos meses com o estado do Texas desafiando as ordens da Suprema Corte americana e ameaçando uma revolta civil por lá –, os Estados Unidos atuam fortemente para atrair imigrantes, em especial, profissionais qualificados e empreendedores.
Isso porque desde o início os EUA entenderam que uma forma rápida e fácil de crescer e gerar riqueza é atrair os melhores profissionais de outros países.
Quer um exemplo? Se você assistiu Oppenheimer, sabe que uma grande parte dos cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan era cientistas europeus fugindo da Segunda Guerra Mundial e da perseguição nazista. Nomes como Albert Einstein, Enrico Fermi, Niels Bohr e John Von Neumann. Os próprios pais de Robert Oppenheimer eram imigrantes da Alemanha.
Outro exemplo: o Projeto Apollo, que levou o homem (americano) à lua. Uma quantidade enorme de cientistas europeus de origem judia trabalharam no projeto, todos eles migrantes de uma Europa em que apenas "ser" judeu era um risco de vida.
Exemplos atuais? Elon Musk (fundou a Tesla e SpaceX, entre outros), Peter Thiel (PayPal e Palantir), Sergey Brin (Google), Jan Koum (WhastApp), Jerry Yang (Yahoo!), Andrew Grove (Intel), entre muitos outros anôminos e não-anônimos, fundadores de unicórnios ou fundadores de pequenas empresas geradores de empregos para americanos "nativos"
O Quanto Os Imigrantes Acrescentam de Riqueza Aos EUA
O estudo "Immigrant entrepreneurs and US billion-dollar companies", conduzido pela Fundação Nacional para a Política Americana (NFAP), mostrou que imigrantes iniciaram mais da metade (319 de 582, ou 55%) das startups americanas avaliadas em um bilhão de dólares ou mais. Além disso, quase dois terços (64%) das empresas foram fundadas ou co-fundadas por imigrantes ou filhos de imigrantes.
Definir o impacto líquido da imigração não é uma coisa trivial. Se, por um lado, muitos imigrantes chegam e se lançam ao empreendedorismo, sendo fundadores de empresas trilionárias como as citadas acima, tem ainda os aspectos culturais, políticos e sociais envolvidos.
Ano a ano, os EUA "importam" mais de um milhão de pessoas
Pensando estritamente nos impactos econômicos da imigração, também não é trivial: trabalhadores menos qualificados podem estar dispostos a receber menos que os nativos, o que tenderiam a puxar os salários para baixo, por exemplo.
Pensando nisso, o banco central americano conduziu um estudo para identificar o resultado líquido desse processo, chamado "The Economics of Immigration: A Story of Substitutes and Complements" e que analisou os trabalhadores imigrantes no seguinte aspecto: se o trabalho que desenvolviam era um substituto ou um complemento ao trabalho dos trabalhadores nativos dos EUA..
A conclusão foi a seguinte: a imigração cria vencedores e perdedores econômicos. Os vencedores incluem (i) empregadores que beneficiam de custos laborais mais baixos, (ii) consumidores que beneficiam de preços mais baixos para bens e serviços, e (iii) trabalhadores qualificados que beneficiam de maiores oportunidades de emprego e salários mais elevados. Os perdedores são (i) os trabalhadores substituíveis que competem pelos mesmos empregos que os trabalhadores imigrantes (tanto em profissões pouco qualificadas como altamente qualificadas) e, como resultado, ganham salários reduzidos e (ii) os contribuintes que pagam impostos mais elevados para apoiar os trabalhadores sujeitos a programas de de transferência de renda condicional (por deixarem de ser elegíveis aos programas porque os imigrantes tem renda menor e acabam "tomando" a vaga do nativo).
A conclusão do estudo foi que, embora existam muitos fatores não econômicos envolvidos na questão da imigração, em termos de simplesmente pesar os custos e benefícios econômicos da admissão de trabalhadores adicionais, a imigração gera benefícios líquidos para os EUA
Se o resultado líquido da imigração – incorporando outros aspectos além do financeiro, mas também os sociais, políticos e culturais, dentre outros – para os EUA é positiva ou não, deixamos com os pesquisadores. Mas o ponto é: atrair imigrantes é algo que os EUA nunca vão abrir mão. Jensen Huang é a prova disso.
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