Então foi isso: o terceiro feriadão quase consecutivo na vida do Faria Limer, que depois de pegar trânsito descomunal na ida e na volta dos dois últimos, resolveu passar o feriadão do dia do trabalhador em São Paulo.
E, por um milagre, dessa vez não tinha trabalho acumulado nem uma certificação para estudar. Caso raríssimo para essa espécie curiosa chamada Faria Limer. Por isso mesmo, a sensação de vazio misturada com FOMO: “o que sou eu quando não estou trabalhando?”, “o que é a vida quando não viajo com meus colegas?”, “que silêncio ensurdecedor paira sobre o Condado quando não é dia útil?”.
Envolto em todo esse questionamento quase Frankliano (de Viktor Frankl em “Men’s Search for Meaning”), o Faria Limer decidiu: não seria mais um final de semana mergulhado em séries sobre mercado, faria algo diferente, exploraria São Paulo.
Sim, isso mesmo: iria se aventurar para além das fronteiras do Condado, conhecer o que existe além dos prédios espelhados e ruas bem cuidadas (se bem que, ultimamente, as ruas do Condado não deixam nada a desejar às do Iraque – cada quarteirão uma cratera diferente).
Logo se arrumou para partir: colocou sua melhor calça cáqui, uma camisa polo, vestiu o tênis anatomico de lã, pegou seu copo Stanley (a aventura exige que esteja hidratado) e sua câmera fotográfica de última geração e colocou tudo dentro da sua Fjällräven (que nunca tinha usado, mas achava descolada e achou que esse era o momento de estreá-la (poderia ser um conversation starter com os povos estranhos da tribo Vila Madalena/Pinheiros)). Ah, claro, também colocou na mochila um coletinho e um guarda chuva da Bloomberg – nunca se sabe quando o tempo de São Paulo vai virar, é possível ter as quatro estações do ano no mesmo dia.
A primeira parada foi o Velho Condado, não poderia ser diferente. Para isso, pegou a linha amarela e desceu na República. “Hun, agadável. Beeeeem mais limpo que o de Nova York, bem mais moderno que os da Europa. Non ducor, duco!”.
Na República, já saiu da estação e deu de cara com prédios históricos muito bonitos, alguns art deco, outros meio neoclássicos (embora o tempo e a falta de conservação danifique a beleza das construções). “Parece um pouco alguns lugares Europa”.
Tirou foto de tudo. De repente, um “Chip da Vivo 10 reais, quem vai querer”. Assustou-se, veio de volta à realidade de observar as pessoas ao redor. “Que lugar maneiro, se fizer uma PPP da pra revitalizar bonito esse lugar, trazer movimento e novos negócios. Vou levar essa ideia pro time de PE semana que vem”.
Depois de alguns cliques, partiu ao seu primeiro destino: o prédio histórico da Bolsa de Valores. Uma caminhadinha de 15 minutos, não tão simples de se fazer quando nos tempos de faculdade. “Preciso parar de usar vape, tô ficando sem fôlego”.
Seguiu o caminho que o Google Maps mandou fazer, sempre muito sorrateiro no cuidado com o celular. Passou por uns prédios antigos de arquitetura bacana. “Muito bonito esse prédio aqui, se reformasse, seria top”, “hun, tá meio sujo aqui, vai dar trabalho”, “o que é essa bandeira do MST?”. Vez ou outra aparecia alguém passando de bicicleta bem rápido, mas o Faria Limer já estava ligeiro de andar pelas ruas do Condado, então apenas escondia seu celular e ia andando com cara de sério.
Chegou no Vale do Anhangabaú e já avistava os prédios que seriam seu destina. “Imagina como era isso daqui na década de 50!”. Atravessar o Vale parecia uma prova do Faustão: carros, bicicletas, pedintes. Atenção total.
Subiu a ladeirinha que dava acesso ao Edifício Martinelli (“Volto aqui depois”, pensou) e dirigiu-se ao prédio da B3, que ficava ali perto. Ao se aproximar da Quinze de Novembro, o coração palpitava, era como chegar à casa de um parente querido.
Tudo muito lindo, tudo muito bem, até que: porta fechada.
Era feriado e tudo estava fechado. Óbvio, como não pensou nisso. Tirou fotos da entrada, foi no coreto dos engraxates e fez uma pausa no Café Girondino (“da próxima vez vou no café dos padres, no Mosteiro de São Bento”). Sentiu-se transportar no tempo, um mix entre ser um barão do café que vinha a São Paulo vender suas sacas de café e um trader da BMF nos tempos de pregão viva-voz.
Já que a B3 estava fechada, foi pro seu próximo destino: Edifício Martinelli.
Dirigiu-se ao prédio, preparava-se para pagar a entrada quando descobriu que era de graça. Pegou o elevador com uns turistas de Minas Gerais (“Por que tudo eles falam trem?”) e uns estudantes com universitários (“Por que essa menina tá com a franja cortada no meio da testa?”, “Esse menino com a camiseta do Che Guevara e iPhone não faz sentido”, “Que povo estranho”).
Último andar. O elevador abre, Faria Limer se encaminha para o terraço. O guia fala sobre o edíficio ser pioneiro na cidade, alguma coisa sobre construção em tijolos, mas o Faria Limer só consegue observar o horizonte: “Puta vista, mêo, o rooftop aqui seria AAA. Por que ninguém fez isso ainda?”.
Ele faz uma pausa pra pensar em negócios para o Centro de São Paulo. Nós paramos pra tomar fôlego e voltamos semana que vem com o final da peripécia do Faria Limer pela selva urbana paulista. Spoiler alert: ainda vai ter muita coisa bacana pra se descobrir pela Terra da Garoa. Até logo!
Frase da Semana
“Em todo o mundo, os mercados financeiros se transformaram nos disciplinadores da política econômica”.
Dornbusch, economista
Economia e Negócio
Semana muito mais dedicada a temporada de reusltados nos EUA, com as megacaps ainda surpreendendo no 1T23 e sustentando um clima, pelo menos em termos de nível, ainda favorável no S&P 500. Já os novos dados de crescimento, como PIB e consumo, mostraram uma economia “ok” no período, sem sinais de recessão e dando folego para o Fed continuar ainda tranquilo nesse tema. Nesta semana teremos FOMC e além da alta de juros em 25 bps, todo mundo está esperando alguma sinalização de que o show de altas já acabou e o pior ficou para trás.
Na China, mercado está realizando que a recuperação do mercado imobiliário será mais lenta e que as limitações na produção de aço são bem sérias e vieram para ficar. Deve balançar um pouco mais o setor, mas a recuperação doméstica em si segue muito forte, com o próprio Politburo reconhecendo isso, ainda que tenha reforçado que continuará com políticas de suporte ao crescimento. É um problema a mais para a China e para todos os países que dependem deles.
No Brasil nada de novo, a economia ainda segue resiliente e a inflação preocupante, com composição ruim. Ou seja, nada de novo, sem espaço para o COPOM sinalizar qualquer coisa na semana. Não há espaço para cortes e quem defende isso claramente ou está tomado em inflação implícita ou está sofrendo com o fato do CDI ser difícil de bater e dificultando flow. Do lado de fundamentos, não há motivos razoáveis para isso.
Legal ,
Nem sabia que dava pra visitar o Martinelli .
Reformaram apenas os últimos andares do prédio , ficou top .
Puta vista meo