Último andar. O elevador abre, Faria Limer se encaminha para o terraço. O guia fala sobre o edíficio ser pioneiro na cidade, alguma coisa sobre construção em tijolos, mas o Faria Limer só consegue olhar o horizonte: “Puta vista, mêo, o rooftop aqui seria AAA. Por que ninguém fez isso ainda?”.
O Faria Limer observa, do alto do edifício Martinelli, o que já foi o coração financeiro do Brasil: Praça Antônio Prado, Farol Santander (Banespão, pra velha guarda), largo do São Francisco, Pico do Jaraguá ao fundo… “Eu gosto dos prédios espelhados da Faria Lima, mas até que são bonitos esses prédios mais antigos, tem a cara daquele miolo de Wall Street, até o Mosteiro de São Bento lembra a Trinity Church, mêo”.
O Faria Limer não consegue parar de pensar em trabalho até quando está de folga.
Quase uma hora observando o horizonte, hora de partir. Pega elevador, chega ao térreo, agora é decidir o próximo destino. “Já foi metade do dia.
Ou eu vou pra Paulista ou pra Vila Madá, os dois não vai dar tempo. Vila Madá não tem estação ali no miolo do bairro, tô vendo aqui no Google. Melhor ir pra Paulista.”
Antes, mais uma caminhada errante pelo centro, passar na frente do antigo Banespão e ir em direção ao Pátio do Colégio pra depois pegar o metrô na Sé — uma experiência antropológica, mas “se o Barsi consegue, eu também consigo”, pensa.
Um olho no peixo, outro no gato sempre: sempre esperto na mochila e no celular. “Tem que ficar ligeiro”, pensa.
Menos de 10 minutos pelas apertadas ruas de calçamento português e chega ao Pátio do Colégio. “Arquitetura colonial portuguesa é maneira demais, isso aqui me lembra muito centro antigo de Paraty ou de São Vicente”.
Um garoto faz uma manobra de skate próximo ao Faria Limer, tirando-o da sua divagação arquitetônica. Tira algumas fotos do lugar, faz uma selfie em frente ao Monumento Glória Imortal de São Paulo e posta no insta com a legenda “Non dvcor, dvco”. Clássico.
Uma caminhada apressada até a estação Sé e o pensamento de como uma PPP poderia revitalizar o centro e deixar o lugar maneiro. Faz uma devida parada para reverenciar a Catedral e descobre que dali uma hora acontece mais um passeio pelas criptas da Sé, mas não está com paciência pra esperar. “Outro dia eu volto”, pensa. (Não, ele não vai voltar).
Desce as escadarias do metrô, compra um bilhete no totem de autoatendimento (“ainda bem que aceitar cartão, que que anda com dinheiro hoje em dia?”), passa a catraca e vai em direção à plataforma de embarque.
Linha vermelha até a República, depois baldeação até a Consolação. “Sorte que hoje tá vazio. Ah, os tempos em que o mercado financeiro ficava no Centro e estags faziam esse percurso no horário do rush. Formador de caráter.”
Estação Consolação, Paulista com Augusta e o Faria Limer desce no lado do Safra. Ali, já tem aquele choque de realidade: vendedor de arte com miçanga, comprador de joias em ouro, estudante de universidade federal à paisana, turista gringo com camisa de coqueiro e bermuda colorida. O suprassumo de Paulista já no início da Avenida.
Mas o Faria Limer está disposto a curtir seu passeio pela avenida que concorre com a Faria Lima para ser o corredor dos negócios no Brasil. Passa pelo Conjunto Nacional e vê os filmes em cartaz (“Faz tempo que vou no cinema. Incrível como o business de entretenimento muda o formato mas permanece forte”).
Ruma em direção ao Paraíso, passando pelo prédio do MASP. “O que é essa galera protestando?”, “Obrigada, senhora. Ok, eu assino esse abaixo-assinado contra a precarização da profissão de dançarino de tango.
Ah, é pra aprovar uma lei que torna obrigatório o ensino de tango nas escolas públicas de todo o Brasil? Ok”, (Faz uns rabiscos qualquer e escreve uns números aleatórios como CPF). “Gostaria de doar para o lar de velhinhos de Itapecerica da Serra, mas não tenho dinheiro. Aceita pix? Opa, tá moderno agora”.
Aproveita que a Paulista está fechada e vai andando pela rua. Quase é atropelado por umas crianças de patins, mas segue observando tudo.
“Obrigada. Não, não vou querer uma demonstração de massagem não, obrigada”, “Obrigada, muito maneiro esse balão em formato de Mickey, mas eu não tenho filhos. Não, não tenho sobrinhos. Não vou querer, não. Obrigada.”
A essas horas já bateu a forma. Claro, já são horas andando. Aqui, o melhor de morar em São Paulo: as inúmeras possibilidades de gastronomia. E na Paulista, gastronomia de rua. É kebab, pizza, temaki, paella, tapioca, vatapá… Muitas opções.
O Faria Limer anda errante procurando onde fazer a parada. Procura indicações no Trip Advisor mas acaba optando pela regra de escolha preferida do paulistano: tamanho da fila.
Barriga cheia, pé na areia. E a essas horas do dia, depois de quilômetros andando pela cidade de São Paulo, os efeitos de fumar vape já começam a aparecer, os pulmões já pedem arrego e os pés clamam por descanso.
O Faria Limer cede ao cansaço: hora de ir pra casa. As aventuras pela cidade de São Paulo foram maneiras, pensa. “Muita oportunidade pra lançar FII, fora as oportunidades no centro pra private equity. Vou ver isso na segunda”. Sim, a cabeça do Faria Limer é 24/7 pensando em oportunidade de negócios.
O Uber chega (Uber black, claro). E assim encerra a aventura para as terras d’Além Condado. Volta para casa tendo a certeza que São Paulo oferece muitos locais para turismo e visitação, mas não há nada como o Condado e que com a certeza de que a Faria Lima é a Avenida mais importante do Brasil. Sem clubismo, apenas verdades.
Frase da Semana
“Um modelo é uma mentira que ajuda a ver a verdade.”
Howard Skipper, cientista
Economia e Mercado
Semana bem importante para o mercado. Fed basicamente começou sua dança para sinalizar a pausa do ciclo de alta de juros. Powell, na sua maneira, disse ao mercado de forma bem clara (para quem sabe ouvir) que a barra para continuar subindo juros ficou mais alta, com um patamar tão “suficientemente restritivo” agora. Isso costuma ser um grande sinal de que o pior da volatilidade do juros já passou e já sabemos mais ou menos o limite da coisa. Isso quer dizer que a vida será fácil para o investidor da bolsa americana? Não, na verdade o cenário base é que o curto prazo ainda seja de pancadaria, ainda mais com a vol baixa. Mas olhando 12 meses à frente, o pior já passou.
Na China a economia continua recuperando muito fortemente e os brasileiros ainda confundem isso com recuperação do setor imobiliário e necessidade de aumento do preço do minério de ferro. Vamos lá pessoal, vocês são mais preparados que isso, tirem seus vieses.
O mesmo não vale para o Brasil, que ainda está se arrastando no arcabouço fiscal. Todo mundo sabe que alguma medida de enforcement vai voltar para o radar, mas não o bastante para motivar o governo a não cumprir o primário e ainda assim sair ileso. Obviamente o mercado vai se convencer que a medida é boa e suficiente e rallyar, até perceber que a realidade é menos construtiva do que parece. Por outro lado, o COPOM já começou a preparar o terreno para o corte de juros, fazendo alterações no comunicado que revelam que a pressão tem feito sucesso. Em termos econômicos não há muita razão para cortar. Empresas quebrando fazem parte do ciclo de aperto monetário, isso não é suficiente. Mas o BC não é autônomo suficiente para aguentar pressão política e dos mercados que sangram com um CDI tão alto, tão difícil de bater e que não geram produtos com ROA alto. Vamos lá pessoal, todo mundo sabe que estamos em um equilíbrio de inflação mais alta por mais tempo.
Comentario show Bem por ai