O Efeito Inesperado do Novo Cangaço Para As Fintechs
É sempre do mesmo jeito: em uma cidadezinha pequena do interior, no meio da madrugada, um grupo fortemente armado explode a agência bancária local para adentrar o local e pegar o dinheiro que encontra-se nos caixas eletrônicos e no cofre da agência. A polícia, acordada pelos estrondos e/ou chamada pelas testemunhas do crime, geralmente não consegue chegar ao local porque os criminosos trataram de colocar barricadas e objetos que impedem as viaturas de sair do quartel e chegar no local do crime. Quando chegam, porém, são recebidos com tiros de alto calibre das armas dos criminosos.
Essa é uma cena comum do que tem sido chamado de “novo Cangaço”, em alusão ao histórico bando de Lampião, que levava o medo a cidades do sertão nordestino em meados dos anos de 1930. Um crime relativamente comum no Brasil, a explosão de caixas eletrônicos e agências bancárias no Brasil tem se sofisticado e ocorrido em várias cidades do Brasil.
Preocupante de um lado, mas matéria de estudo de outro lado: tentando entender a adoção e os efeitos do Pix, um grupo de pesquisadores brasileiros encontrou nas explosões (e na consequente parada temporária dos serviços bancários da agência atacada) uma oportunidade de entender a adoção dos serviços digitais por parte da população local.
Isso porque as explosões são consideradas um “choque exógeno” à atividade bancária local – ou seja, são um evento que nada tem a ver com a atividade bancária do município e podem servir de base de análise pré e pós o evento criminoso e a forma como a população passou a utilizar os serviços bancários e comparando com o funcionamento de agências em cidades de porte parecido mas que não tiveram ataques criminosos no período.
No artigo “Banks' physical footprint and financial technology adoption”, Bernardo Ricca, Lucas Mariani e José Renato Ornelas compilaram os dados de explosões criminosas a agências bancárias e cruzaram com os dados de utilização de serviços bancários em diversas cidades do país. Dali, saíram algumas conclusões interessantes.
2020 foi um ano muito louco: enquanto estávamos todos aquartelados pela pandemia, bandidos explodiram uma agência bancária de Criciúma (SC) e na fuga deixaram dinheiro espalhados pelas ruas da cidade
Primeiro os pesquisadores descobriram que o choque tem um impacto significativo no saldo de dinheiro mantido pelas agências. Em comparação com as agências de cidades de porte parecido mas que não tiveram ataques criminosos (as cidades “controle”), as agências das cidades atacadas (cidades “tratadas”) praticamente não guardam mais dinheiro logo após um ataque (queda de -97% no estoque financeiro armazenado) e permanecem com um inventário de dinheiro mais baixo durante pelo menos seis meses.
Essa redução no saldo que as agências atacadas mantêm no pós-ataque, porém, não impacta as outras atividades bancárias: os estoques de empréstimos e depósitos das sucursais tratadas, pelo menos no curto prazo, se mantêm. Isso indica que a principal consequência dos roubos é o esgotamento do montante de dinheiro guardado nas agências
Em seguida, o estudo analisou os efeitos na adoção da tecnologia de pagamento, com foco na utilização de Pix, a tecnologia de pagamento instantâneo lançada em novembro de 2020 pelo Banco Central do Brasil (BCB) e que teve foi um sucesso notável: entre seu lançamento e dezembro 2021 (um período de 13 meses), 96 milhões de indivíduos (54% da população adulta) realizou pelo menos uma transferência via Pix (Banco Central do Brasil, 2021). Em janeiro de 2022, os usuários realizaram mais de 1,3 bilhão de transações, totalizando R$ 640 bilhões (US$ 123 bilhões). Apesar do seu sucesso, cerca de 71 milhões de adultos (40% da população adulta) ainda não utilizavam nenhum sistema eletrônico para fazer transferências no final de 2021.
O estudo encontrou um aumento nas transações intramunicipais de Pix após roubos que causam a destruição de agências. Descobriram que os locais tratados (onde ocorreram explosões) tiveram um número 9,2% maior de transações Pix, enquanto o valor total dos pagamentos Pix foi 7,6% maior. Estes efeitos são menores em áreas com um elevado número de agências alternativas para realizar saques em dinheiro.
Também documentaram um aumento no número dos usuários do Pix e examinando a dinâmica dos efeitos, notaram que o uso do Pix cresce durante cerca de 2 meses após o evento e permanece estável (num valor mais elevado) depois disso, o que mostra que o encerramento temporário de agências tem efeitos persistentes.
A seguir, mostraram que, além de substituir o dinheiro, as transações Pix substituem os métodos de pagamento eletrônico mais tradicionais. Antes da introdução do Pix, nas cidades afetadas pelo crime, as pessoas físicas usaram cartões de débito e TED para resistir ao choque da provisão de caixa motivada pela redução do saldo financeiro da agência atingida. Porém, após a introdução do Pix, aumentam o uso do Pix e dos cartões de débito, mas as transferências TED não crescem. Faz sentido: quem usaria TED (pagas, no geral) quando se pode usar Pix (gratuito)?
Por fim, outro achado interessante do estudo foi que o número de transações via Pix realizadas e número de usuários de outros bancos privados não-roubados, bancos digitais e instituições de pagamento fintech aumenta após assalto a banco no município. Esse aumento no número de usuários do Pix é especialmente importante para bancos que não têm agência e fintechs: estas instituições não possuem uma rede física de agências e caixas eletrônicos e seus clientes que precisam sacar ou depositar dinheiro geralmente precisam usar a rede de outras instituições a um custo. Como resultado, uma maior dependência local de dinheiro em espécie pode reduzir a competitividade das instituições digitais. Os resultados do estudo mostraram que uma vez que esta dependência de dinheiro em espécie é reduzida, as instituições digitais podem expandir-se, possivelmente aumentando a concorrência no mercado financeiro local.
O estudo serve para corroborar que a adoção do Pix foi um grande sucesso entre indivíduos e empresas: em abril de 2022, 117,5 milhões de indivíduos (cerca de 55% da população) e 9 milhões de empresas (cerca de 47% das empresas ativas) registraram-se para usar o sistema. Só para se ter uma ideia, mais de 9 bilhões de transações Pix foram realizadas em 2021, totalizando mais de R$ 5 trilhões (cerca de US$ 1 trilhão).
E depois do Pix, o Banco Central do Brasil lançou o DREX, que é a representação digital das nossas notas e moedinhas, basicamente. A moeda digital ainda está em fase de testes, mas o desejo é que quando vá para o uso do povão, que seja um sucesso como foi o Pix.
O objetivo da moeda digital, segundo o BCB, é democratizar o acesso a serviços financeiros, como crédito, investimentos e seguros, além de apresentar uma proposta que garante mais segurança e privacidade nas operações. Para isso, utilizou a tecnologia blockchain pare desenvolver a moeda digital do Brasil, que ainda está em fase de testes.
Quem participou desse projeto do Banco Central foram os nossos parceiros da Foxbit, que são pioneiros e referência nos serviços de blockchain no Brasil e oferecem diversos serviços B2B em rede blockchain, para aumentar a eficiência dos negócios.
Tem, por exemplo, o Foxbit Pay, que é um jeito mais barato, rápido e confiável de pagar e receber pagamentos digitais. Permite que empresas e lojas on-line possam receber seus pagamentos em criptomoedas, seja em bitcoins ou em qualquer uma das mais de 78 moedas listadas na exchange da Foxbit. Acesse o site da Foxbit e aprenda mais.
Por fim, tanto Pix quanto DREX indicam algo que deveríamos nos orgulhar: o sistema bancário brasileiro é um dos mais avançados e sofisticados do mundo. Merece aplausos.