Vamos relembrar o ciclo econômico Faria Limer recente:
2011: Temaki
2012: Frozen Yogurt
2013: Cupcake
2014: Paleta Mexicana
2015: Food Truck
2016: Hamburgueria
2017: Pipoca Gourmet
2018: Bolo de Pote
2019: Gin
2020: Fumar Pendrive
2021: Copo Stanley
2022: Beach Tennis
2023: Chegar de Renegade no Beach Tennis segurando o Copo Stanley
E agora que 2024 chegou (aliás, mais de 25% do ano já se foi), depois de duas temporadas fortes, parece que o beach tennis está caindo em desuso. O sinal dos tempos foi a arena de beach que fica no meio da Faria Lima e que quase desmontou com um temporal que teve dias pra trás.
Antes disso, porém, o beach teve seus dias gloriosos, extrapolando as fronteiras do Condado e atingindo os rincões mais profundos desse país, chegando ao ponto dos vereadores das cidades do interior defenderem o programa "Minha Quadra de Beach Tennis Minha Vida", que vislumbrava a instalação de uma quadra de beach tennis por bairro e dava aos estudantes de escola pública uma raquete e uma viseira para a prática esportiva.
Mas, como já diria o filósofo contemporâneo Chorão, "só o que é bom dura tempo bastante pra se tornar inesquecível" e parece que o ciclo do beach está em declínio.
No lugar, ainda não está claro qual vai ser o substituto da vez na Faria Lima. A briga está forte, com a turma do agro fazendo o lobby para vir a febre dos rodeios ("Jaguariúna é pertinho", "Vamo comigo pra Barretos?"), enquanto que a turma urbana do Rio-São Paulo está em uma caminhada silenciosa, mas consistente para angariar nossos adeptos do brazilian jiu-jitsu (as condições obrigatórias para participar dessa modalidade são postar fotos do treino em equipe e frases de estoicismo, enquanto utiliza o estagiário de cobaia para ensinar os golpes que aprendeu no último treino).
Os especialistas ainda não identificaram o que levou à derrocada do ciclo do beach tennis. Alguns apontam que foi o fenômeno do El Niño, enquanto outros apontam que não existe libido com uma taxa de juros Selic de dois dígitos e manter-se com atividade core e o padrão de vida de vida adjacente está ficando caro demais. O motivo, afinal, talvez nunca saberemos. O que sabemos é: 2024 trouxe consigo a derrocada do beach tennis.
Sabe quem também está sofrendo para sobreviver em 2024? As gestoras de recursos – as famosas assets.
Não todas, claro, afinal sempre vai ter espaço para quem é bom.
Mas nos últimos anos observamos uma febre de abertura de escritórios de gestoras de investimentos. Era que nem loja de paletas mexicanas: em cada esquina, abria uma por semana. Todas com um nome arrojado, uma apresentação power point com vários termos em inglês e jargões de mercados para explicar a tese de investimento e a estratégia de asset allocation e, em letras miúdas, a tabela de taxas de administração e performance – aquele 2/20 que todo gestor gosta.
A febre era tanta, que o Faria Lima Elevator fez até um manual:
De um nome para sua gestora ao estilo grego ou latim, com o mix inglês, como Triuvium Hiper Investiments. Os fundos podem ter nomes como Hiper, Top, Gold, Delta.
Diga que sua estratégia tem consistência de longo prazo e que você é comprometido com o risco e retorno, de preferência com um ppt bonitão que seus estagiários vivem atualizando.
Tenha vários engenheiros na Poli operando qualquer coisa na mesa, mas lembre-se que no Brasil o que dá dinheiro mesmo é juros e inflação.
2% ao ano de taxa de adm + 20% de performance do CDI. Acredite, isso é muito dinheiro no seu bolso.
Escritório sediado no quadrante entre Vila Olímpia e Itaim. Rio de Janeiro vale pela vista do mar, mas nenhum cliente irá te visitar pessoalmente.
Pendure seu fundo em TODAS as plataformas de fundos. XP, Orama, Easy, BTG, CSHG, Itaú e etc. Investidor pesssoa física não sabe onde investir seu dinheiro com a Selic a 6.5%
Lembre-se, investidor pessoa física só olha retorno passado, se você tiver acumulado 130% do CDI em 12 meses, acredite, muito dinheiro vai entrar no seu fundo.
Espere seu fundo chegar a R$ 3bi. E lance outro com cotizacão mais longa, para demonstrar sua preocupação com os cotistas.
Quando chegar em R$ 10bi, lance uma estratégia "global", mas lembre-se, o que dá dinheiro no Brasil é juros e inflação.
Se der tudo errado, outra asset melhor pode incorporar seu fundo e você entra como novo sócio da gestora. Reinicie o ciclo.
Mas, parece que agora os dias são outros e a febre pode estar baixando. Isso porque a conta não fecha, a estrutura para manter uma gestora é cara e manter uma rentabilidade à altura é difícil – tanto pela barreira de entrada baixa quanto pela concorrência com o bom e velho CDI.
Chegou às nossas mãos um relatório interessante da TAG investimentos, que fez a conta do custo de manter uma gestora.
A TAG identificou que a B3 tem pouco mais de 400 empresas listadas e no Brasil há 970 gestoras, que fazem a gestão de R$ 8 trilhões. A distribuição é heterogênea: 10% destas 970 gestoras abocanham R$ 7,2 trilhões, ou 90% do mercado. É um mercado extremamente concentrado: 10% das casas gerem 90% dos recursos.
Fazendo as contas do custo para manter uma gestora em pé, de acordo com o relatório da TAG investimentos: "Consideramos uma estrutura simples, 150 metros quadrados na Berrini (fora do Condado) e 15 pessoas, sendo 3 CLT´s, 3 estagiários, 3 sócios seniores e 6 sócios plenos ou júniores. Assumimos também um ROA (return on assets) de 1%, já pagando impostos e rebates.
Pois bem, para a situação em que nenhum dos 9 sócios tem qualquer retirada, a gestora para de pé com pouco mais de R$ 100 milhões. Naturalmente, um cenário que não se sustenta. Hoje temos que 734 gestoras ou 76% do total atendem a essa condição.
No extremo oposto, onde os sócios recebem remunerações compatíveis com suas funções (o que ganhariam trabalhando em um banco ou corretora, por exemplo), a empresa fica de pé com um pouco mais de R$ 850 milhões sob gestão. Nesta situação, temos 372 gestoras ou apenas 38% do total.
Consideramos um cenário alternativo, que temos visto nesses tempos de vacas mais magras, onde os sócios seniores, abrem mão de qualquer retirada, para poderem manter o seus sócios plenos e júniores, bem como toda estrutura e plantel.
Nesse modo de sobrevivência, achamos que a linha de corte se situa nos R$ 400 milhões sob gestão. Hoje temos 505 gestoras acima da linha d’água ou algo como 52% do total.
O quadro é este, praticamente metade das gestoras em funcionamento opera hoje abaixo do que seria considerado o modo de sobrevivência".
As contas são razoáveis e, ao que tudo indica, não é apenas o beach tennis que está com os dias contados, algumas gestoras de recursos também. Cenas para os próximos capítulos.
esse negócio de Beach Tennis tá firme e forte aqui no interior. Tem até quadra pública sendo construída nas praças das cidades.
Que texto bom. :) Ri demais com a lista.