Dia desses passou pela nossa vista um dado interessante, que o número de pessoas vivas hoje no planeta Terra corresponderia a aproximadamente 1/7 de todas as pessoas que já passaram por esse planeta. Não nos recordamos onde vimos esse número, talvez tenha sido em algum livro do Geoffrey Blainey (uma busca mais demorada no pai dos burros moderno e você pode encontrar a resposta), mas a dimensão nos causou impacto.
A espécie humana passou por um rápido processo de expansão nos últimos 200 anos: de uma taxa de natalidade alta acompanhada de uma mortalidade alta e uma expectativa de vida baixa (viver além dos 50 era bem raro) – que fazia com que o total da população mundial total crescesse pouco – passamos por revoluções médico-sanitárias e industriais que propiciaram uma queda drástica na taxa de mortalidade e de uma aumento da expectativa de vida, levando o planeta a um boom demográfico que teve seu ápice no pós-segunda Guerra Mundial.
Fonte: Our World in Data via Wikipedia
Da 2aGM até os dias de hoje, o que acontece agora é uma queda na taxa de natalidade em muitos países desenvolvidos, levando muitos deles à fase de desaceleração demográfica. O número de filhos por mulher necessário à estabilidade no tamanho da população é de 2.1, mas o Planeta Terra teve uma taxa média de 2.3 em 2021, segundo o Banco Mundial – um número perigosamente próxima ao que garante a estabilidade na taxa de crescimento e com valores que oscilaram entre 6.8 no Níger e 0.8 em Hong Kong.
Essa estabilização da população pode até ser vista com bons olhos por alguns grupos – aqueles que veem o crescimento populacional como negativo ao meio ambiente e aos recursos naturais (uma visão Malthusiana, em certo sentido) – mas em termos de desenvolvimento econômico, uma redução na taxa de crescimento populacional acende o alerta. Mais gente quer dizer mais mão-de-obra, mais emprego e mais consumo – e o desenvolvimento econômico mundial esteve e está ligado ao consumo. Até aqui, estamos acostumados a construir habitações: no limite, estamos preparados para o dia que será necessário destruir habitações porque não tem mais demanda? Cremos que não, que o mundo ainda não está preparado para isso.
Não só consumo e crescimento dependem do crescimento populacional: o pós-Segunda Guerra veio acompanhado de diversas medidas sociais como política de estado, sendo o sistema previdenciário uma das maiores delas. Até então, era comum “trabalhar até morrer” (literalmente) e a provisão de recursos ao indivíduo nos últimos anos de sua vida era responsabilidade sua e de seus familiares. O sistema previdenciário como política de estado veio dentro de um conjunto de medidas que, através do sistema de arrecadação de impostos sobre uma população crescente, possibilitou a expansão de diversos serviços públicos. E uma redução da taxa de crescimento (ou, pior, uma taxa de crescimento negativo) coloca esse esquema em cheque.
Existem duas formas básicas de financiar o sistema previdenciário: o pay-as-you-go (PAYG) e o fully funded. No PAYG, quem está trabalhando hoje paga a aposentadoria de quem está aposentado hoje; no fully funded, você contribui para um conta que fica bloqueada (ie, não tem saques) até o momento da sua aposentadoria. A maioria dos países adota o PAYG por uma questão óbvia (é a forma mais fácil de iniciar um sistema previdenciário), mas permite que os cidadãos complementem sua previdência pública com uma previdência particular com benefícios tributários (o que funciona como um fully funded).
Os melhores e os piores sistemas previdenciários públicos do mundo (fonte: Visual Capitalist)
E com uma população que diminui sua taxa de crescimento, a solvência do sistema previdenciário público fica em cheque: é como uma caixa de água com um furo, se a quantidade de água que entra é menor do que o que sai, o volume total da caixa de água tende diminuir, podendo chegar a zero.
E o Brasil nessa história toda?
Segundo estudos da consultoria americana Mercer, que criou um índice de avaliação dos sistemas de pensão pública ao redor do mundo, temos um bom nível de cobertura (de pessoas aptas a obter o benefício) e adequação, mas sua sustentabilidade merece atenção. Merece atenção tanto pela questão do alto nível de endividamento público (que limita muito as possibilidades de ajuda a um sistema previdenciário que eventualmente entre no vermelho) quanto pela evolução da taxa de crescimento brasileira: o Brasil está envelhecendo antes de ficar rico.
Temos um bom nível de cobertura previdenciária, mas a sustentabilidade é uma das mais baixas (Fonte: Visual Capitalist)
E por falar em envelhecer, essa semana saíram os dados atualizados de crescimento da população brasileira: A população do país chegou a 203,1 milhões em 2022, com aumento de 6,5% frente ao censo demográfico anterior, realizado em 2010. Isso representa um acréscimo de 12,3 milhões de pessoas no período.
Com os comentários feitos acima, seria algo a se comemorar, correto?
Errado. Ou melhor, mais ou menos: comparando o dado realizado com as projeções anteriores para o tamanho da população brasileira, fomos surpreendidos negativamente. Só para se ter uma ideia, enquanto o número realizado foi de 203,1 milhões em 2022, as projeções anteriores indicavam que esse número seria de:
212,7 milhões, de acordo com a projeção do IBGE em 2000
223,1 milhões, de acordo com a projeção do IBGE em 2004
209,4 milhões, de acordo com a projeção do IBGE em 2008
216,0 milhões, de acordo com a projeção do IBGE em 2013
214,8 milhões, de acordo com a projeção do IBGE em 2018
207,8 milhões, de acordo com a projeção do IBGE no final de 2022.
E o porque desse número menor das estimativas?
Bem, sempre temos que levar em conta que quem faz essas contas são pessoas, e elas podem simplesmente errar as contas por utilizar premissas erradas. Mas também é possível que esses dados tenham se dado por uma surpresa negativa na taxa natalidade e mortalidade da população, bem como imigração.
Fato é que a população cresceu menos do que o esperado, e isso acende a luzinha de alerta para aqueles que pensam no cenário daqui 20, 30, 50 anos… De qualquer forma, os dados estão em linha com a tendência mundial de uma desaceleração na taxa de crescimento populacional.
Preocupados com isso, China eliminou sua política de filho único e alguns países têm incentivado os casais a terem mais filhos, seja através de benefícios fiscais ou até mesmo criando feriados nacionais para os casais procriarem (o “dia da concepção”) e dando prêmios aos casais que tiverem filhos 9 meses depois do feriado (a Rússia, no caso).
Do lado dos investimentos, há formas de se planejar para esse cenário: além de pensar em uma previdência privada complementar para não depender do sistema público, há empresas que vão se beneficiar desse cenário com uma população com mais idosos do que jovens, como as do setor de saúde e serviços geriátricos. O mercado financeiro, inclusive, foi rápido em oferecer opções de investimentos para pessoas que querem se antecipar a esse cenário: existem ETFs, inclusive, focados em empresas que se beneficiam em um cenário de crescimento baixo ou negativo. Será que vale botar um dinheirinho? Não sabemos e nem damos recomendações de investimento, mas fica a reflexão.
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A notícia boa é que daqui 20 anos o "sonho" da casa própria vai ficar baratinho.
Visao conservadora. Nao ve alem daquilo q esta ai. Com cerca de 80% de pessoaa q ainda nao usufruem dos beneficios da civilizacao mostra q o desenvolvimento se dara nao por aumento populacional. Funcoes do estado como ssude e escola devem acabar. A divida publica e estelionataria