O primário vai muito bem, obrigado - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - Que segunda maior economia do mundo é essa?
A prévia da inflação (IPCA-15) de setembro veio bem melhor do que o esperado, registrando 0,13% - com bem melhor leia-se menos da metade do que a mediana das expectativas, que eram de 0,28%. Olhando com mais detalhes, nos últimos 12 meses o índice desacelerou de 4,35% para 4,12%, além do qualitativo ter melhorado também. É um fato que inflação corrente controlada é legal, mas não faz ninguém pular de alegria lá no quartel general do BC. O verdadeiro bicho-papão são as expectativas futuras.
Ah, caso você não veja a sua projeção preferida atualizando, muito provavelmente vão jogar a culpa no clima. Sem chuvas, o fantasma da bandeira tarifária vermelha vai ficando mais permanente.
O nosso querido ministro da Fazenda, Fernando Taxadd, segue firme e forte na sua missão de não deixar um centavo sequer passar despercebido. A máquina arrecadatória anda mais afiada do que nunca. Com uma atividade econômica aquecida, chegamos à inédita marca de R$ 200 bilhões arrecadados em agosto. Isso representa um crescimento real de 12% em relação ao ano passado, ou seja, um lado do primário vai muito bem, obrigado. Ou melhor, de nada, né, afinal, saiu do meu bolso também.
A esperança realmente é a última que morre, mas mas mas… O congelamento do orçamento, que deveria ser algo mais substancial, vai ficar em míseros R$ 3,3 bilhões. Nesse ritmo, o real continua apanhando do dólar como se estivesse devendo na praça - e tá. Tudo isso com o diferencial de juros entre Brasil e EUA aumentando. Esses caldos que você anda vendo o real tomando em um cenário que era para estar nadando de braçada tem um culpado e a essa altura você já deve saber qual é: o fiscal. No fim, o fiscal é aquele elefante no meio da sala que todo mundo - governo - finge que não está ali. Não é surpresa, mas continua sendo um baita limitador para a nossa moeda.
Do outro lado da gangorra, um recorde negativo: o déficit nas transações correntes passou dos 6,5 bilhões de dólares, o pior desde 2014, segundo o Banco Central. Mas nem tudo está perdido. O saldo positivo de mais de 4 bilhões de dólares na balança comercial e o investimento estrangeiro robusto ainda ajudam a manter as contas externas no eixo.
A ata do Copom não foi tão surpreendente e não trouxe muitas novidades além da mesma ladainha de sempre. O documento basicamente repetiu o que já tinham adiantado no comunicado pós-reunião, deixando claro que a vida do tomador de empréstimo vai continuar amarga. Há quem diga que vamos ver mais um aumento de 50 bps em novembro. Os motivos dados na ata foram os mesmos de sempre: expectativas desancoradas, hiato do produto mais apertado e riscos fiscais.
Na quarta-feira (18), ao ouvir sobre a política monetária mais frouxa dos EUA, os investidores puderam ficar até esperançosos. Normalmente, quando os gringos começam a cortar juros, é uma festa para commodities e moedas emergentes - e consequentemente, a nossa bolsa comoditizada costuma pegar carona nesse rali. As commodities, de fato, estão empurrando o Ibovespa para cima, mas a empolgação está mais contida, o mercado de renda variável não está esbanjando alegria por aqui essa semana.
O Banco Central da China resolveu usar mais uma carta do baralho da velha cartilha de estímulos e, em um movimento digno de ou vai ou racha, anunciou um pacote monumental de US$ 140 bilhões para dar um gás na economia. Com cortes nas taxas de juros e alívio dos compulsórios bancários - nível mais baixo desde 2018. Pan Gongsheng, presidente do BC chinês, parece decidido a ressuscitar o setor de construção civil que anda murcho. A pergunta que fica é: será que essa injeção de ânimo será suficiente para fazer o dragão chinês voltar a cuspir fogo?
Mas o que isso tem a ver com o Brasil? Quando a China se aquece, o Brasil se beneficia com mais exportações. Se o estímulo funcionar, nossa balança comercial ganha um fôlego e o real pode até respirar melhor.
EUA - Sorrisos
Os EUA estão sorrindo de orelha a orelha com a perspectiva de um pouso suave da economia. Os principais índices de renda variável — Dow Jones, S&P500 e Nasdaq — vêm quebrando recordes ao longo da semana, refletindo o otimismo do mercado. Parece que, por enquanto, o cenário de recessão ficou para trás e os investidores estão aproveitando o voo tranquilo.
O mercado de trabalho também continua dando sinais de melhora. Os pedidos de auxílio-desemprego da semana passada caíram para o menor nível desde maio, reforçando a ideia de que aquele esfriamento recente do mercado de trabalho foi apenas um pequeno susto. E para quem ainda não ligou os pontos, o motivo pelo qual o FED optou por um corte de 50 bps, em vez dos esperados 25 bps na última reunião de política monetária, foi justamente esse flerte do mercado de trabalho com a desaceleração.
Agora todas as atenções estão voltadas para o deflator do PCE, o índice de inflação favorito do FED, que será divulgado amanhã (27). Ele tem o potencial de azedar a lua de mel do mercado. Vamos ver se o otimismo continua ou se teremos uma freada brusca.
As ações de Tech estavam meio sumidas por aqui, mas a Meta, controladora do Facebook, veio mudar essa história. Na quarta-feira (25), a empresa apresentou seus novos produtos de realidade aumentada - o que mais chamou atenção foi o óculos de realidade aumentada que promete responder chamadas dos usuários por conexão neural. O mercado animou e as ações da empresa bateram recorde de fechamento.
Dados de Mercado
Data-base: 25 de setembro de 2024.
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“É muito mais fácil descobrir se algo é frágil do que prever a ocorrência de um evento que pode prejudicá-lo.” – Nassim Taleb
Curiosidade da semana
Flamingos não nascem rosas. Na verdade, eles vêm ao mundo com penas cinza/brancas e só desenvolvem uma tonalidade rosada após começar uma dieta de camarão de salmoura e algas verde-azuladas.