Sejam bem-vindos à newsletter mais comentada e querida da Faria Lima, a Carta do Condado. Em nossa edição de hoje, vamos mergulhar nas águas, por vezes turbulentas, das taxas de câmbio, com foco especial na relação entre o real brasileiro e o dólar americano. Por que o real valoriza ou desvaloriza frente ao dólar? Quais são os ventos que sopram as velas dessa embarcação cambial? Vamos navegar pelos principais fatores que influenciam essa dinâmica, utilizando exemplos do cotidiano brasileiro para ilustrar esses conceitos:
Diferenças de Inflação: A Balança do Poder de Compra
Imagine que, enquanto o preço da cesta básica sobe vertiginosamente no Brasil, nos Estados Unidos, o custo de vida aumenta a um ritmo bem mais lento. Esse cenário resulta em uma desvalorização do real em relação ao dólar, pois cada real compra menos em comparação ao que um dólar pode comprar nos EUA. É a inflação corroendo o poder de compra do real e, consequentemente, seu valor no mercado cambial.
Embora os americanos estejam sentindo os preços no mercado subir recentemente (algo incomum na terra do Tio Sam, que sempre teve inflação muito baixa), aqui o Brasil é especialista mundial em inflação. Uma verdadeira potência inflacionista.
Taxas de Juros: O Ímã dos Investimentos
Quando o Copom decide aumentar a Selic, essa mudança pode atrair olhares gringos. Um exemplo clássico foi em 2016, quando, apesar da recessão, as altas taxas de juros no Brasil atraíram investimentos estrangeiros em busca de rendimentos maiores, fortalecendo o real temporariamente. É como se o Brasil dissesse: "Investimentos bem-vindos aqui têm seu preço".
Por ser uma potência inflacionista, o Brasil, naturalmente, tem uma taxa de juros mais alta que países desenvolvidos, o que acaba por ser bom para quem tem dinheiro (dá pra investir no nosso CDIzão de cada dia) mas ruim pra quem vive e empreende aqui, porque o custo de pegar dinheiro emprestado é alto.
Empresas multinacionais brasileiras, por outro lado, tendo acesso ao mercado financeiro internacional, costumam pegar empréstimo no interior a taxas mais baixas e usar esse dinheiro “gringo” aqui dentro, ficando com o risco cambial.
Estabilidade Política e Econômica: O Termômetro do Investidor
O risco Brasil, que flutua ao sabor de escândalos políticos e incertezas econômicas, é um grande influenciador. Lembrem-se de 2018, quando a greve dos caminhoneiros gerou uma onda de instabilidade política e econômica, afetando negativamente o real. Ou em 2017, quando teve o Joesley Day e começou-se a duvidar da reforma da previdência e até da manutenção do presidente Michel Temer no poder. Ou em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, em que toda a incerteza se teria ou não impeachment levou a grandes oscilações na taxa de câmbio real contra dólar. (Como o leitor pode perceber, o Brasil costuma produzir bastante eventos de incerteza política e econômica).
Investidores detestam incertezas, e quando eles veem risco, o real sofre. A parte boa é: países emergentes, no geral, tem maiores incertezas políticas e econômicas, o que acaba por ser um padrão a alta volatilidade no câmbio entre países emergentes: aquela velha história da briga para ver quem é o menos feio.
Transações comerciais: Entre Exportações e Importações
Um superávit comercial significa que o Brasil está vendendo mais do que comprando do exterior. Isso foi evidente nos anos de boom das commodities, quando os altos preços do minério de ferro e soja fortaleceram o real, pois havia uma grande demanda por nossa moeda para pagar pelos produtos brasileiros.
Balança comercial brasileira tem sido positiva, puxada pela exportação de commodities (soja, petróleo e ferro, principalmente), o que ajuda a “trazer” dólar e melhorar a taxa de câmbio
Por outro lado, um déficit nos faz comprar mais dólares para pagar as importações, pressionando o real para baixo. Além disso, o Brasil também exporta muitos produtos primários desejados no mercado internacional (petróleo bruto e minério de ferro, principalmente) – as chamadas commodities – o que ajuda a trazer dólares para o país, o que tende a melhorar a taxa de real por dólar.
No comparativo com outros países emergentes, também rola essa dependência de commodities para ajudar a trazer doletas para aqueles países.
A Mão Visível do Banco Central
Não podemos esquecer das intervenções do Banco Central do Brasil, que, através de swaps cambiais ou compras diretas de dólares, tenta manter a estabilidade do real. Um exemplo marcante foi em 2002, às vésperas da eleição presidencial, quando o medo de uma política econômica menos ortodoxa levou a uma forte depreciação do real, e o Banco Central teve que intervir pesadamente.
Reservas cambiais são a bala de prata que o BC tem para reduzir o câmbio quando acha
Mais recentemente, no final de 2024, no cenário de incerteza fiscal e fuga de dinheiros do país, o BC atuou para conter o dólar. Ajudou, mas tem custo: a quantidade de dólares em caixa no BC diminuiu, o que signi
Fluxos de Capital: Os Ventos Globais
A globalização nos faz sentir as ondas formadas em outras águas. Se investidores internacionais decidem que é hora de investir em mercados emergentes, o real se fortalece. Mas se o cenário global muda, como durante as crises internacionais, e eles retiram seus investimentos, o real sente o impacto imediato.
Foi o que aconteceu em 2008, com a quebra do Lehman Brothers e fuga de capitais para ativos menos arriscados, é o que está acontecendo agora com o medo da guerra tarifária, e por aí vai. Falou em risco, falou em fuga de capitais para ativos seguros e, consequentemente. Inversamente, se tudo está na santa paz, os fluxos financeiros começam a circular por esse mundão.
Aqui, também, as políticas de restrição de entrada de capitais desempenha um papel. Por exemplo: durante a chamada "guerra cambial"em 2010, o Brasil enfrentou um dilema significativo e impôs algumas medidas para barrar os fluxos globais. O ex-Ministro da Fazenda Guido Mantega criticava as políticas de quantitativos dos países desenvolvidos, que, mantendo suas taxas de juros baixas, impulsionaram um fluxo massivo de capital para mercados emergentes como o Brasil. Isso valorizou o real excessivamente, prejudicando a competitividade das exportações brasileiras. Em resposta, o Brasil implementou medidas para desacelerar essa valorização, numa tentativa de manter o real em um curso menos volátil.
Nossos hermanos também gostam de um controle de câmbio (até pela escassez das verdinhas): Cristina Kirchner, na Argentina, adotou controles cambiais estritos para estabilizar o peso e conter a fuga de capitais. Essas medidas incluíram limitações severas nas trocas de pesos por dólares, tentando manter as reservas de divisas do país em um nível considerado "saudável” pelo governo.
Essas políticas, embora controversas, refletiram uma tentativa de navegar por águas econômicas particularmente turbulentas, mostrando como diferentes líderes escolhem caminhos distintos para enfrentar desafios econômicos similares.
Especulação e Arbitragem: Aposta no Futuro
Especuladores e arbitradores desempenham papéis fundamentais na liquidez e eficiência do mercado de câmbio. Os especuladores assumem riscos, apostando nas direções futuras das moedas com base em suas análises ou intuições, fornecendo liquidez necessária e ajudando na descoberta de preços. Eles são como os ventos que podem mudar rapidamente de direção, adicionando volatilidade e dinamismo ao mercado.
Os arbitradores, por sua vez, agem como agentes de equilíbrio, explorando diferenças de preços entre mercados para realizar lucros garantidos. Eles ajudam a garantir que os preços em diferentes locais não diverjam significativamente, trazendo estabilidade e consistência ao mercado. Essa atividade é crucial para manter a eficiência do mercado, garantindo que as discrepâncias de preços sejam rapidamente corrigidas.
E aí, o que determina a taxa de câmbio real contra dólar?
Como já diz o ditado popular: “Deus criou o câmbio para humilhar os economistas". E na determinação do câmbio, todas essas variáveis importam. Uma hora uma variável é mais relevante, dali tem uma notícia ou movimentação diferente que afetam o valor das doletas: a taxa de câmbio entre o real e o dólar é influenciada por uma complexa teia de fatores, que vão desde políticas internas até eventos globais.
Para o investidor, entender esses fatores é crucial para navegar com sucesso pelas águas às vezes revoltas do mercado cambial e, embora definir qual a mais ou menos importante, uma coisa parece certa: se a taxa de real por dólar tem um sentido, a história tem mostrado que o sentido é pra cima.
E já que falamos de balança comercial e balanço de pagamentos
Criptomoedas, Bitcoin em especial, tem sido um dos itens que tem gerado fluxos de saída do Brasil para o resto do mundo: isso porque a compra de Bitcoin é contabilizada no Balanço de Pagamentos, como uma compra de ativos estrangeiros por parte de brasileiros. E, como o mostra o Banco Central, a brasileirada tem gostado da criptos:
Relatório do BC de junho/24 mostrou que brasileiro está aportando em cripto
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Nossa gente, quanto erro nessa postagem. Está faltando um monte de pedaços!!!!
Gente, conteúdo tá top mas tem alguns cortes no texto.