Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
A lenda vai se aposentar. Você deve ter visto aquele gráfico comparando os retornos da Berkshire Hathaway batendo o S&P 500 em várias janelas de tempo, né?
Fonte: X
Segundo o pessoal da AQR, a fórmula dele foi comprar negócios de alta qualidade, com baixo risco e a preços razoáveis. Tudo isso com alguma alavancagem, mas com eficiência e um passivo bastante alinhado, para não ser pego de calças curtas.
Essa filosofia virou cartilha para muitos analistas de fatores por aí. Mas talvez só alguém com a paciência quase sobre-humana do Buffett consiga chegar perto do que ele fez. E paciência, convenhamos, é uma virtude em falta no mercado financeiro que a gente conhece.
Para mim, e para muitos, o verdadeiro charme da performance do Buffett à frente da Berkshire está na forma como ele usa alavancagem. Sabemos bem o risco de cauda que isso traz. Mas no caso da Berkshire, os prêmios das operações de seguros funcionam como um financiamento de longo prazo e baixo custo para a empresa. Isso já dá uma vantagem enorme: eles não correm o risco de chamada de margem nas operações. Afinal, geralmente, clientes de seguro não pedem margem.
Claro que existem estratégias equivalentes no mercado, mas ninguém fez com a maestria do Buffett. O cara entende muito de seguros!
E sabe quem mais entende das coisas, além do Buffett? Os banqueiros centrais. Nessa semana rolou a famosa super quarta, com decisões de juros aqui e nos EUA.
Por aqui, nenhuma grande surpresa, mas nem por isso menos impacto: o Comitê elevou a taxa em mais 50 bps, levando os juros a impressionantes 14,75% - um patamar que não víamos desde 2006. E 2006, convenhamos, foi outra era: seu maior desafio na época talvez fosse tirar “Se ela dança, eu danço” da cabeça, rir das bizarrices de “O Pequenino” e se emocionar com “À Procura da Felicidade”. Tudo isso enquanto se irritava com o Roberto Carlos ajeitando a meia em plena Copa e assistia Thierry Henry cravar o gol que selou nosso destino. Já em 2025, é a gente que tá dançando, mas dessa vez ao som dos arroubos decisórios da política comercial dos EUA.
E falando nisso, destaque para o desempenho da nossa petroleira predileta na semana. O soluço na Petrobras teve tudo a ver com o recuo do preço do petróleo, depois que a OPEP+ anunciou que pretende aumentar a produção em junho, mesmo com todo mundo colocando degraus de desaquecimento da economia global no preço do petróleo. O resultado foi a pressão na commodity e queda no papel. E claro, respingou no IBOV, que fechou em -1,22% na segunda (05).
Fonte: TradingView
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve decidiu manter a taxa de juros inalterada. A decisão veio após dados razoavelmente comportados do mercado de trabalho, com o payroll divulgado na sexta-feira. Isso abre espaço para que o FED volte as atenções para a inflação. Especial atenção para a inclusão de referências sutis (tão sutil quanto o FED pode ser) à possibilidade de stagflação por lá. Que é uma estagnação inflacionária, ou, dito de outra forma, o pesadelo de qualquer banco central. Ainda não trabalharia com esse cenário base, mas já te dá mais substância para contra-argumentar com aquele seu colega de trabalho perma-bull em EUA. Os preocupados encontram-se bem acompanhados nessa hipótese.
Frase do dia
“Os melhores argumentos do mundo não mudarão a opinião de ninguém. A única coisa que pode fazer isso é uma boa história.” - Richard Powers
Curiosidade da semana
Todos os mamíferos têm arrepios. Quando os pelos se arrepiam, pequenos músculos se contraem na base de cada fio, o que deforma a pele e gera os arrepios. Esse processo é chamado de piloereção e está presente em todos os mamíferos. Os pelos ou a pelagem servem para reter uma camada de ar isolante.
O que é perma-bull?