Os ventos do norte - Condado View
Brasil - previsão de tempo bom?
No fim da semana passada o investidor brasileiro até esqueceu há quanto tempo não pagava um DARF para festejar a tão sonhada marca psicológica dos 120 mil pontos do Ibovespa. Na sexta-feira o índice avançou 1,3% e alcançou a maior pontuação em um fim de pregão desde agosto. Vídeos com a thumbnail "Ibovespa em 120 mil pontos, a bolsa está cara?" em 3, 2…
O otimismo da bolsa brasileira é fruto de alguns fatores.
O IPCA de outubro, que veio em 0,24% abaixo das expectativas de 0,29%, deixou a marca do teto da meta de inflação mais próxima - deixa o brasileiro sonhar. No melhor estilo rooftop faria limer, a inflação nos últimos 12 meses está em 4,82% enquanto o teto é de 4,75%. Os rendimentos dos títulos de dez anos dos EUA caíram para menos de 4,6% e ajudaram na empolgação - e nas taxas de desconto - do mercado também. Outros fatores já abordados em outros views como discurso mais brando do FED e Payroll surpreendendo positivamente certamente não atrapalham a lua de mel com o Ibovespa.
Quem continua passando calor - assim como a gente - é a meta de déficit fiscal zero. As discussões continuam fervendo por mais que já saibamos que é caixão e vela para o net zero das contas públicas.
Qual a nova Americanas, ops!, Magalu? Essa semana tivemos a notícia de que a Magalu encontrou apontamentos nos seus registros contábeis. Essa manchete causa arrepios após o episódio ainda em curso das Lojas Americanas no início do ano. A B3 não gostou nada da notícia, afinal as empresas listadas no novo mercado têm uma reputação a zelar.
EUA - Inflação fazendo as pazes?
A agência de risco Moody's - a Fitch já tinha dado seu veredito - veio avisar para quem não tinha percebido ainda: “estamos preocupados com a trajetória fiscal americana, viu?”. A perspectiva do rating "AAA" foi alterada de estável para negativa. Mais um dia normal - de oscilações - nos títulos americanos no dia do anúncio. Vai ter live em inglês do BCB falando sobre dominância fiscal?
O mercado financeiro adora as métricas do tipo "nunca vistas nos últimos X anos". Temos uma interessante para você: A taxa de rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos registrou queda significativa de quase 0,2 ponto percentual na terça-feira, atingindo 4,440%. Essa foi a maior redução diária observada desde 17 de março – o dia em que o Silicon Valley Bank entrou com pedido de falência.
Tá, mas por quê? A empolgação é porque o IPC de outubro veio lindo, em 3,2%, sinalizando que o Fed está conseguindo fazer seu trabalho de conter a inflação. Aumentam também as expectativas de redução das taxas de juros em quase um ponto percentual no próximo ano.
O braço nova-iorquino do Banco Industrial Comercial da China (ICBC) foi invadido por hackers que interromperam as negociações no mercado de Tesouro dos EUA. Até o maior banco em quantidade de ativos financeiros do mundo tem que recorrer ao bom e velho pen drive às vezes - mais old school impossível. No curso de cibersegurança o primeiro capítulo é como escolher um bom pen drive?
Japão - Finalmente habemus inflação
Há males que vem para o bem, como dizia a sua avó? Para o Japão essa frase tem feito mais sentido do que nunca.
Os choques nos preços de energia, causados pela Guerra na Ucrânia, e os impactos na cadeia de abastecimento herdados pela era do Covid têm surtido efeitos almejados há muito tempo no Japão.
Quando ouvimos o termo japonização podemos associar de cara a: queda dos preços e estagnação do crescimento. Dinâmica que o Japão amarga desde a década de 1990.
Mas o que é uma herança desastrosa para a maioria tem se mostrado a saída para a economia japonesa. Os salários estão crescendo e a inflação do país está na casa dos 3%, o que seria o terceiro ano consecutivo acima da meta.
O covid não abriu muito espaço para discussão sobre o papel dos gastos governamentais e cortes de impostos. As centenas de bilhões de dólares que precisaram ser injetados nos últimos anos proporcionaram poupanças às famílias, impulsionando os gastos até hoje. Ninguém pode falar que as memórias da lenta recuperação dos EUA após 2008 não serviram para nada.
Consegue imaginar um empresário pedindo desculpas por ter que aumentar o preço? Esse é o cenário no Japão hoje. Surpreendentemente os consumidores têm "concordado" com os aumentos que são vistos como inevitáveis e aí os aumentos salariais vêm em seguida.
Vimos na primavera passada empresas japonesas concordando com aumentos salariais de 3,58% nas negociações anuais, o maior aumento em três décadas.
O efeito cascata vem quando ouvimos de alguns CEOs que precisam investir em trabalhadores e novos equipamentos para justificar os preços mais altos. A previsão de investimentos em capital das empresas equivale a 665 bilhões de dólares este ano, segundo o NLI Research Institute (quase 15% do PIB japonês).
Além da mudança da mentalidade, o governo tem que manter a sinalização de não aumentar impostos. O primeiro Ministro Kishida, por ora está fazendo sua parte, declarou no início de novembro que vai fazer um corte único no imposto de renda de várias centenas de dólares por família.
É o fim da japonização? Todo o questionamento aqui é sobre a manutenção dessa mentalidade principalmente nos jovens que estão aprendendo lidar somente agora com as flutuações dos preços - e por mais estranho que possa parecer, aumentos salariais.
Curiosidade da semana
O Lago Natron na Tanzânia, conhecido por "petrificar" animais devido à sua água extremamente alcalina com pH de até 10.5, deve essa característica ao natron das cinzas vulcânicas do Vale do Rift. Animais imersos em suas águas podem se mumificar rapidamente, enquanto flamingos se adaptaram para se reproduzir neste ambiente único.
Frase do dia
"Se investir é divertido, se você está se divertindo, você provavelmente não está ganhando dinheiro. O bom investimento é tedioso." - George Soros.