Payroll sempre traz notícia ruim para alguém - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - R$ 16 bilhões a mais
Parece que o Roberto Campos Neto abriu a porteira das indicações unânimes para a cadeira de presidente do BC. Depois dele, agora foi a vez de Gabriel Galipolo desfilar no tapete vermelho da Comissão do Senado, com aprovação unânime também. A mistura de postura técnica, um toque de ortodoxia e aquele velho jogo de cintura para agradar o máximo de senadores têm ajudado o rapaz.
O Petróleo continua balançando! No início da semana, além do "velho de guerra" conflito no Oriente Médio, a Ucrânia resolveu dar seu toque de volatilidade no mercado de energia, atacando um terminal de combustíveis russo na Crimeia. E quando falo "volatilidade", quero dizer: o barril do petróleo saltou para acima de US$ 80, com uma alta de mais de 4,5% só na segunda-feira (07). A Petrobras já estava com um sorriso de orelha a orelha, mas o bolo ainda ganhou cereja: recorde de produção nas refinarias em setembro com a petrolífera subindo 1,4% no mesmo dia. Mas ainda não acabou.
A China estava em uma semaninha de feriados. Afinal, despejar baldes de estímulos na economia cansa. Muita gente nos corredores do mercado esperava que essa volta do feriado trouxesse boas novas com mais estímulos, mas não foi o que aconteceu na realidade. A falta de estímulos da China, a tensão geopolítica no Oriente Médio e os temores sobre o furacão Milton no Golfo do México trouxeram o mercado de volta para realidade e o petróleo devolveu boa parte dos ganhos, caindo mais de 4,5% na terça-feira (08).
Isso foi para você, acionista da Petrobras que estava com peso na consciência de ver as suas ações subindo devido ao conflito, o mercado deu seu jeito de trazer o petróleo de volta. Ninguém vai ficar com peso na consciência aqui!
Os estímulos não vieram agora, mas quem sabe no sábado? O Ministro das Finanças da China marcou uma coletiva para o fim de semana, e o mercado, que já se viciou em pacotes de estímulo como se fosse cafeína, está com os dedos cruzados. A expectativa é a de sempre – mais uma rodada de incentivos para tentar tirar a economia chinesa do marasmo.
Saiu o déficit do governo de agosto: R$ 22,4 bilhões, levando o rombo anual para perto dos R$ 100 bilhões. O problema maior nem está nas receitas, que até seguram a onda. O calcanhar de Aquiles continua sendo a Previdência, aquele buraco conhecido que ninguém resolve. Tudo isso já estava no script, o que não significa que está bom – só que as expectativas já andam no chão.
Felizmente o Ministério da Fazenda puxou uma carta da manga: uma MP para o ano que vem que nem está no orçamento. Essa medida pode aumentar a arrecadação em R$ 16 bilhões, dando mais tempo para os bancos reconhecerem créditos tributários e, assim, pagarem menos impostos sobre a inadimplência. Ou seja, eles aliviam o próprio balanço, enquanto o governo engorda o seu.
O IPCA de setembro registrou um avanço de 0,44%, com alta de 4,42% no acumulado de 12 meses. Só notícia boa em relação à inflação corrente, né? O dado saiu na quarta-feira (09), e a expectativa era de que, com essa brisa positiva, o mercado brasileiro aproveitasse o ambiente calmo, certo? Errado!
Mesmo sem grandes notícias negativas e com o cenário externo mais favorável, o mercado brasileiro decidiu soltar a bruxa. Parece que a inflação corrente, quando vem positiva, já nem faz mais preço. O pessoal está desconfiado. O resultado foram os DIs subindo aos maiores níveis desde março de 2023, o real continuou passando calor, e o Ibovespa despencou 1,2%, perdendo a barreira dos 130 mil pontos na quarta-feira (09).
Não houve motivos claros para o tombo do mercado na quarta. Mas um Fed mais hawkish, ou seja, menos cortes de juros à vista já basta para deixar o pessoal por aqui nervoso. Quando o banco central americano sinaliza que os juros vão continuar altos por mais tempo, o investidor local já fica cabreiro. Afinal, dinheiro caro lá fora significa menos fluxo para cá. O mercado entra em modo cautela, e quem sofre é o Ibovespa. Mais um dia em que a bruxa foi solta sem motivo aparente, mas com muita desconfiança
EUA - Payroll sempre traz notícia ruim para alguém
O dado mais esperado da economia americana chegou fazendo festa - para quem? O payroll mostrou a criação de 254 mil vagas em setembro, muito além das 140 mil que o mercado projetava. Para o mercado o dado soou mais como um déjà-vu. O resultado foi o pessoal esfriando a empolgação com cortes de juros nas próximas reuniões e com medo da inflação voltar.
A verdade é que eles estão tentando dosar a economia, mas o mercado de trabalho é o bicho-papão da vez: se esfria demais, é recessão; se esquenta demais, é inflação - não pode rimar em prosa, mas esses são os jargões econômicos. E enquanto isso, as Treasuries estão suando a camisa. Na sexta-feira (04), os rendimentos subiram para mais de 3,10% e continuaram a escalada ao longo da semana.
Fazia tempo que a Nvidia não aparecia por aqui. Pois bem, as ações da empresa valorizaram US$400 bilhões em 5 dias. Só na última terça-feira (08) as ações da empresa subiram 4% - uma variação dessa magnitude em uma empresa com market cap de trilhões (no plural) é impressionante. É um tanto diferente da valorização de 4% do resiliente punhado de IRBs que você tem na carteira. Tá, mas o que rolou? Os caras turbinaram o Blackwell - chip usado para Inteligência Artificial - eles agora são 5 vezes mais rápidos do que os usados hoje. Mas assim, que tem vendedor de pá ganhando dinheiro a gente já sabe, a dúvida que fica é o quanto de ouro que realmente estão encontrando.
Na quarta (09), as bolsas também deram a sua contribuição para manter o bom humor no mercado: Dow Jones e S&P bateram recordes históricos.
Dados de mercado
Data-base: 09 de outubro de 2024
Fonte: Yahoo Finance
Frase do dia
“A tecnologia encontra a maioria de seus usos depois de ter sido inventada, em vez de ser inventada para atender a uma necessidade prevista.” – Jared Diamond
Curiosidade da semana
Os animais podem vivenciar o tempo de forma diferente dos humanos. Para animais menores, o mundo ao redor deles se move mais lentamente em comparação aos humanos. Salamandras e lagartos, por exemplo, vivenciam o tempo mais lentamente do que gatos e cães. Isso ocorre porque a percepção do tempo depende da rapidez com que o cérebro pode processar as informações recebidas. Envia essa curiosidade para aquele amigo que sempre comenta como o tempo tá passando rápido.