A temporada de pesquisas eleitorais está a todo vapor, prato cheio para as correntes de WhatsApp e discussões acaloradas nas redes sociais. A cada nova pesquisa os lados se inflamam mais, seja para comemorar ou para criticar a integridade da pesquisa.
Pesquisa eleitoral é um negócio tão sério que no Brasil é preciso que sejam registradas na justiça eleitoral todas as pesquisas feitas. Isso porque pesquisas eleitorais podem acabar influenciando o resultado final. Por isso mesmo, existe todo um ritual para sua realização, desde a validação da metodologia até a aprovação para realização.
A metodologia é o principal ponto de diferença entre as pesquisas: a decisão do número de pessoas entrevistadas, das cidades visitadas e dos estratos socioeconômicos dos entrevistados é crucial para ter resultados mais fidedignos à realidade. A ferramenta, sempre a mesma: Estatística.
Na Carta deste final de semana, vamos te levar a um passeio pelos corredores da estatística e das pesquisas eleitorais, para deixá-los mais munidos de informação para enfrentar o cenário eleitoral acalorado mais a frente.
Aquele período tranquilo que ocorre de 4 em 4 anos…
A Mais Humana da Exatas
Na escola, costumam dividir as matérias entre Humanas, Exatas e Biológicas. Matemática é, provavelmente, a primeira matéria que pensamos dentro da área de exatas: 1 mais 1 será sempre 2, bem como a fórmula de Bhaskara é sempre a mesma.
Dentro da Matemática se desenvolveu o campo da Estatística, que cresceu tanto que hoje é um dos maiores braços na Exatas. Mas, de todas as as “filhas” da exata Matemática, a Estatística talvez seja a mais “rebelde”, a mais “humana”: em Estatística, não se trabalha com certezas, trabalha-se com resultados possíveis e os níveis de incerteza quanto a esses resultados. Por isso mesmo, quando saem as pesquisas eleitorais, os jornalistas ponderam que o número de X% de votos que o candidato A possui tem um intervalo de “2 pontos percentuais para mais ou para menos”. Já explicamos o que isso quer dizer.
Teoremas e mais Teoremas
Nosso objetivo é entender a distribuição das opiniões (votos) entre a população, mas não tem como sair perguntando para todas as pessoas isso (esse é o papel das eleições). Precisamos pegar algumas (muitas) pessoas e as opiniões delas para inferir o resultado para a população toda.
Não conhecemos nem o formato nem a média das opiniões da população toda, então precisamos de alguns parâmetros para balizar nosso trabalho e saber se estamos no “caminho certo”.
Nas bases teóricas de todas as pesquisas eleitorais, existem dois importantes teoremas: o Teorema Central do Limite (TCL) e a Lei dos Grandes Números (LGN). O TCL diz respeito ao formato de uma distribuição: quando o tamanho da amostra aumenta, a distribuição amostral da sua média aproxima-se cada vez mais de uma distribuição Normal.
Já a LGN diz respeito à média da distribuição que não conhecemos: diz que se um experimento se repete um grande número de vezes, a probabilidade de um evento tende para a probabilidade teórica (“verdadeira”).
Ok, ficou difícil. Mas atente-se ao “grande número de vezes” e sigamos em frente.
Mãos à obra
Com esse respaldo teórico possibilitado por matemáticos de séculos passados, conseguimos chegar às pesquisas eleitorais dos dias atuais: em resumo, os dois teoremas juntos garantem que se tivermos uma amostra grande e representativa da população, conseguimos inferir qual o valor “verdadeiro” na população da variável que temos interesse. No nosso caso, os percentuais eleitorais.
O trabalho agora é fazer a amostragem estatística: definir o número de entrevistados e o perfil dos entrevistados.
O número de entrevistados depende do nível de confiança (os pontos percentuais “para mais ou para menos”) que queremos: se queremos um nível de confiança maior, precisamos de mais entrevistados. Existem fórmulas matemáticas prontas para definir o número de pessoas que devem ser entrevistadas, e geralmente o número de entrevistados para pesquisas eleitorais presidenciais no Brasil é cerca de 2000 entrevistados.
Quanto ao perfil dos entrevistados, as pesquisas costumam procurar um recorte populacional em linha com os dados do censo. Faz sentido: se São Paulo tem a maior população do país, faz sentido entrevistar um número maior de pessoas por lá. E por aí vai: seguindo essa lógica, definimos o número e o perfil de entrevistados que teremos para a pesquisa.
Com essa definição, é arregaçar as mangas e operacionalizar a pesquisa: sair às ruas com um questionário e entrevistar as pessoas conforme o perfil amostral definido. Depois, com os questionários preenchidos, tabular os resultados para, finalmente, calcular o valor estimado das intenções de voto, o famoso “X% de intenções de voto no candidato A, Y% de intenções para o candidato B com 2 pontos percentuais para mais ou menos”.
Dada a incerteza estatística, é natural que as pesquisas tenham resultados ligeiramente diferentes. Mas, respeitados os protocolos de amostragem, espera-se que essas diferenças sejam pequenas. E agora, vocês leitores desta encíclica condadense, já vão estar mais ligeiros com essa temporada eleitoral turbulenta nas suas respectivas pesquisas eleitorais.
E um conselho final: evitem perder amizades por brigas políticas de redes sociais. Como dizia meu saudoso avô: “é melhor ser feliz do que ter razão”.
FLE Insights: Coase e a Economia 3.0
Como apontamos na Carta da semana passada, existem muitas similaridades entre Direito e Economia, diferindo apenas no método, mas quase sempre com um objetivo comum. Um dos tópicos que as duas áreas se interessam são sobre as negociações diretas entre as partes interessadas, buscando melhorar para os dois lados da mesa e sem um intermediário para balizar o acordo.
Aqui, tem até o famoso Teorema de Coase: sob certas condições, havendo conflito de direitos de propriedade, as partes envolvidas podem negociar ou negociar termos que reflitam com precisão os custos totais e os valores dos direitos de propriedade em questão, resultando em um resultado mais eficiente do que o obtido quando uma terceira parte decide o caso. A ideia é sempre a mesma: uma pessoa sabe melhor dos seus interesses do que qualquer outra pessoa ou instituição. “Laissez-faire”.
E a Economia 3.0 também é sobre isso: a relação direta entre consumidor e empresas, possibilitada pela internet e as redes sociais, permitindo soluções estilizadas ao consumidor.
E foi pensando justamente em soluções estilizadas e em liberdade do consumidor que o Santander Brasil acabou com a tradição de mais de 40 anos de definir o tipo de conta corrente de seus clientes apenas pela renda. Agora, qualquer pessoa que queira ser cliente do Santander Select pode ter: assessoria especializada, agência exclusiva para clientes Select, chat exclusivo e uma equipe dedicada, disponível 24h, mais de 200 espaços que oferecem conforto e privacidade e serviços internacionais.
Frase da Semana
"Nenhuma grande descoberta foi feita jamais sem um palpite ousado."
Sir Isaac Newton.
Tópicos de Economia e Mercado
Acabou o fôlego do rally do mercado? Depois de um mês impressionante, parece que o combustível que movia o apetite ao risco perdeu força e agora todo o buyside global está se perguntando: “devo ficar mais próximo da porta?”. Essa é uma pergunta que não se pode ter uma resposta ex-ante e apenas uma pessoa pode respondê-la: Jerome Powell. Se você investe e roda a sua carteira com uma frequência alta e não sabe quem é esse senhor, é melhor rever suas prioridades.
O homem deve falar essa semana e é basicamente quem definirá o futuro do mercado, junto com os novos indicadores. Para ser sincero, a expectativa é que ele suba o tom e dê um certo “chega-para-lá” no mercado, que por algum motivo parou de escutar o Fed. O fato é: se falar “fofo'“, ninguém segura mais o SPX. Nesse meio tempo, apenas o dólar consegue ser o grande porto seguro dos investidores no mundo e também no Brasil.
Para quem acha que a situação não pode ser pior, e se falar que até o clima está jogando contra esse ano? Pois é, as ondas de calor secaram vários rios importantes na Europa e na China, impedindo o transporte de carga e também geração de energia. Meu amigo(a), estamos em um momento impar de azar acumulado e de choques que não se vê há anos. Os chamados eventos de cauda estão ganhando cada vez mais probabilidade e essas caudas estão engrossando.
A China mesmo parece que resolveu dar um mergulho na mediocridade. A economia não cresce, os agentes estão com baixa confiança e o setor imobiliário está piorando cada vez mais. Não há sinais de que o nosso amado minério de ferro irá ganhar sobrevida no curto prazo. Enquanto eles não abandonaram essa tal de política restrita e o governo realmente não entrar pesado para salvar as empresas do setor de Real Estate - mesmo que premiando que não merece - a situação vai seguir “desafiadora” (palavra usada para dizer que deu ruim).
Ainda assim, chama atenção a resiliência do Brasil. Naturalmente isso está sendo puxado pelo fim do ciclo da Selic, mas a verdade é que estamos naquele momento em que o trader de juros não quer estar certo, ele quer ganhar dinheiro. Ninguém quer ficar na frente da curva. Mas ainda assim o mercado dá sinais: as implícitas não melhoram, mesmo com fechamento da curva. E isso não é qualquer sinal.
E isso que a eleição começou efetivamente nesta semana, com as campanhas. Estava sentindo falta de tanta agitação ao mesmo tempo. Esses próximos 4 meses definirão pelo menos uns 24 meses de ciclo de mercado, então apertem os cintos.