Petróleo, Café e Aço - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
No Condado View dessa semana comentamos sobre os primeiros impactos nos mercados do tarifaço de 50% aplicado a bens brasileiros importados pelos EUA contratado para agosto. Dado o foco em economia e mercados dessa carta semanal, solicitamos de vocês os comentários do aspecto político da justificativa das tarifas. Conta sua opinião pra gente no contato@farialimagroup.com.br.
Brasil
No final do dia de ontem (9) tivemos a notícia de que, tudo mais constante, a partir do dia 1 de agosto os produtos brasileiros adquiridos por americanos seriam taxados em 50%. Os futuros de IBOV caíram e os de dólar chegaram a flertar com os R$ 5,60. Mas, poxa, o que será que motivou as tarifas se a última vez que os EUA teve uma balança comercial negativa com o Brasil foi em 2007?
Fonte: U.S. Census Bureau
A carta que Trump enviou ao Lula declarando as tarifas foi clara, o nosso judiciário não está se comportando como deveria. O presidente americano entende que tem juiz ativista demais e ex-presidente demais ameaçado de prisão por aqui, e por isso quem tentar acessar o mercado consumidor americano sofrerá taxação. Os EUA são o destino de 12% das exportações brasileiras, o que não é de se desprezar mas também não é o fim do mundo. As principais afetadas são as indústrias de petróleo, café e aço, que juntas representam mais de 30% das exportações para os EUA.
Se o padrão se repetir, na medida em que acordos vão sendo negociados as tarifas podem ser adiadas ou revogadas. E o mercado parece ter incorporado o padrão já, embora com um começo de dia um tanto bagunçado, com Tesouro Direto “abrindo fechado” e leilões de abertura na B3 demorados e marcando preços bem distantes do fechamento de ontem, já ensaiou uma normalização dos preços ao longo do dia. No final do dia o IBOV fecha com leve baixa de -0.54% e o dólar devolveu uma parte da subida de ontem, fechando em torno de R$ 5,54.
Dar uma olhada no Mapa de Mercado do Valor One ajuda a gente a entender como as diferentes empresas estão respondendo à expectativa de tarifas.
Fonte: ValorOne
A EMBRAER (EMBR3) se destaca como uma das grandes prejudicadas caso esse cenário se concretize, e não era pra menos, já que metade de suas vendas são destinadas aos EUA e seriam impactadas diretamente pelas novas tarifas. Outro caso curioso é o da Gerdau, que, por possuir uma quantidade razoável de fábricas nos EUA, consegue se beneficiar dos preços mais altos causados pelas tarifas, mas reverteriam esse aumento em margem, já que aquilo que é produzido domesticamente nos EUA não é alvo de tarifas. Esse caso é emblemático porque sintetiza a intenção por trás da política comercial tarifária: levar produção (e empregos) para dentro dos EUA.
Migrando agora para um assunto completamente não relacionado com as tarifas: nos dias 6 e 7 de julho ocorreu a Cúpula dos BRICS, que no ano passado expandiram o tamanho do grupo e incluíram uma série de países novos, dentre eles o Irã. Vários temas foram discutidos e os mais importantes foram a condenação da política tarifária dos EUA, os esforços de desdolarização e as discussões sobre os conflitos no Oriente Médio cuja grande conclusão foi a condenação dos ataques à infraestrutura Iraniana.
E seguindo a temática de colocar todo mundo na mesa para conversar, o Ministro do STF Alexandre de Moraes entrou na discussão sobre o aumento do IOF e suspendeu tudo até que os irmãos façam as pazes e conversem um com o outro. O que há de positivo nisso tudo: toda essa discussão existe ainda porque a narrativa de que o déficit fiscal precisa ser respeitado está prevalecendo. O que há de negativo é o resto. Estamos diante de uma crise institucional na relação entre os poderes e vemos uma série de atos sem precedentes se acumulando. Me parece razoável que mais diálogo se estabeleça entre Executivo e Legislativo, mas o governo já falou que não vai ceder em relação ao que estava no Decreto. Por enquanto seus investimentos no exterior seguem viáveis e com as alíquotas de IOF antigas, mas vamos ver o que sai disso.
Nas notícias econômicas tivemos hoje (10) a divulgação do IPCA de junho pelo IBGE. A medida veio em +0,24%, levemente acima das expectativas situadas em torno de +0,20%. Saíram também as medidas dos índices de preços que medem níveis mais abaixo na cadeia produtiva, são eles: o IPP (Índice de Preços ao Produtor) e o IGP-DI (Índice Geral de Preços). Ambos registraram deflação (-1,29% e -1,80%, respectivamente). As variações desses indicadores, embora mais voláteis, tendem a anteceder o IPCA, reforçando a tese de que o nível atual da SELIC está sendo suficiente para segurar a inflação.
EUA
Desde o fechamento de quinta-feira as Treasuries de 10 anos subiram quase 20 bps. O que é uma terça-feira tediosa aqui no Brasil, lá nos EUA é um movimento relevante.
A fotografia mais recente da economia norte-americana sustenta a avaliação do Fed de que o balanço de riscos segue inclinado para pressões inflacionárias. O payroll de junho trouxe criação de 147 mil vagas - menos que o consenso, mas com mercado de trabalho ainda apertado e salários crescendo 3,7 % a/a - mantendo viva a ameaça de repasse de custos. Ao mesmo tempo, o ISM de serviços voltou a território de expansão (50,8), porém com o sub-índice de emprego em 47,2 pelo terceiro mês seguido, sinal de moderação da atividade sem colapso da demanda, combinação que historicamente dificulta a desaceleração dos preços de serviços.
Nas minutas do FOMC, que saíram na quarta-feira (9), a maioria dos dirigentes advertiu que as novas tarifas de 50% anunciadas pela Casa Branca podem transformar choques de oferta em “inflação persistente”, reduzindo ainda mais o apoio a cortes imediatos e apoiando o “decidi esperar”. Assim, com o mercado de trabalho ainda resiliente, núcleo de serviços resistente e risco adicional de custos via política comercial, o Fed permanece dependente de dados, mas inclinado a manter o aperto até que a desinflação se mostre irreversível.
Dados de Mercado
Data-base: 09 de julho de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“Um pensamento original vale mais que mil citações irracionais.” - Diógenes
Curiosidade da Semana
Chove metano na maior lua de Saturno. Titã é a única lua do nosso Sistema Solar com uma atmosfera densa e o único corpo, além da Terra, com rios, lagos e mares líquidos alimentados pela chuva. Essa chuva não é água, é metano líquido.