Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Falamos sobre o IOF na quinta-feira passada mas infelizmente só tínhamos metade da história para contar. Às 8:15 da manhã de sexta-feira (23) Haddad veio a público confirmar o que já havia se espalhado na forma de mensagens “encaminhadas frequentemente” chegando no seu grupinho de mercado no WhatsApp. Duas reversões importantes na política fisco-cambial de usar o IOF para tapar o eterno buraco nas contas públicas.
O primeiro foi a revogação do IOF para investimentos de pessoa física no exterior, desde que a pessoa jure de pé junto que não vai vender tudo dias depois e usar o dinheiro para comprar camisas azuis no outlet de procedência mais duvidosa na periferia de Nova Iorque. Essa agradou quem investe no exterior, mas fez aquele seu amigo ancap olhar para você com a melhor versão da cara de “tá vendo que eu disse”, enquanto balançava um pen drive todo orgulhoso que você nunca teve a coragem de perguntar o que tem dentro.
A outra revogação foi a do IOF que seria cobrado nas operações de câmbio dos fundos de investimentos. Note, o imposto não incidia sobre os investidores dos fundos (o que já seria ruim o suficiente), mas dentro da casca do fundo mesmo. Salvo se a intenção do Executivo fosse dizimar a indústria de fundos com estrutura off-shore (fora do país), a medida não fazia sentido algum, e foi correta a revogação. Isso agradou os gestores desses fundos que, aliviados, pararam de atualizar o LinkedIn.
O detalhe é que mais uma vez a necessidade do governo de investir em um time de marketing fica patente, porque cá estamos há três parágrafos reclamando de uma metade da notícia, enquanto o contingenciamento de R$ 31 Bi, que para todos os efeitos teria agradado o mercado, ficou escanteado.
Ainda em Brasil e ainda em fiscal (ou nas consequências dele), o IBGE soltou o IPCA-15 do mês de maio na terça-feira (27) e o resultado veio razoavelmente abaixo do esperado (0,36% vs. 0,44%) e com um qualitativo saudável. Já dá pra contar com a inflação dentro das bandas da meta em 2025? Certamente, não. Mas só de não ser obrigado a cruzar com os termos “dominância fiscal” em cada esquina da internet já me deixa bem feliz. E eu não estava sozinho, a curva pré chegou a fechar quase 20bps na terça.
Fiquem mais tranquilos: apesar dos dados pessimistas de sentimento do consumidor nos EUA, os resultados das varejistas têm surpreendido positivamente.
Na semana passada, empresas como Walmart, Target, BJ’s Wholesale e Lowe’s divulgaram números sólidos e acima do esperado. O chefe da divisão americana do Walmart, inclusive, destacou que os consumidores seguem consistentes, com crescimento observado em todas as faixas de renda no trimestre.
De forma geral, as varejistas mantiveram suas projeções anuais de vendas e lucro.
Teve volatilidade sobre tarifas também, ameaças de aumentos nas importações de smartphones da Samsung e da Apple, mas a verdade é que ninguém aguenta mais falar isso. Cada dia uma novidade, cada dia seguinte um recuo e a única coisa duradoura que fica é o descrédito com a política comercial dos Estados Unidos. Isso banhado ao Rali dos yields longos: o retorno do Treasury de 30 anos encostou em 5,15 %, na sexta (23), algo não visto desde 2007, enquanto o de 10 anos rondou 4,5%. O term premium subiu para 0,75 pp, o maior desde 2014.
Talvez essa decisão de Trump siga o mesmo caminho da ameaça de taxar em 50% os produtos da União Europeia - Trump Always Chickens Out.
Há chiado sim, em torno do orçamento republicano: a Big Beautiful Bill (use palavras simples se quer se comunicar bem) adiciona US$ 3,8 Tri ao déficit americano através de generosas reduções de impostos e reticentes cortes de gastos. E o mercado reage ao déficit gordo à frente: tanto os CDS e as taxas longas dos EUA aumentaram junto. E teve até bilionário ex integrante do governo criticando, Elon Musk se mostrou contrariado porque aparentemente o pacote estaria destruindo os louváveis esforços do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) liderado e abandonado por Musk após cumprir menos de 5% da sua meta de cortes.
Uma hora a conta vem, o que não quer dizer que a conta veio, porque antes de decretar o fim do excepcionalismo americano, é melhor esperar mais um pouquinho. O prêmio de prazo está escalando não só em Washington: a ponta longa também estica no Japão, na Alemanha e no Reino Unido. Ou seja, o stress é global. No fim das contas, o estranho foi passar os últimos 15 anos com taxas de juros encostadas no zero, no limite todo esse movimento é só uma volta à normalidade, afinal, nada mais razoável do que ser remunerado por deixar seu dinheiro na mão dos outros. As Treasuries continuam sendo o alicerce do sistema de juros mundial e o resto do G-7 ainda calibra a régua pela curva americana.
Dados de Mercado
Data-base: 28 de maio de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“Algumas coisas precisam ser acreditadas para serem vistas.” - Ralph Hodgson
Curiosidade da semana
A olho nu, é possível ver as estrelas como eram há 4.000 anos. Sem um telescópio, todas as estrelas que podemos ver estão a cerca de 4.000 anos-luz de nós . Isso significa que, no máximo, você está vendo as estrelas como eram há 4.000 anos, por volta da época em que as pirâmides estavam sendo construídas no Egito.
Curiosidade da semana repetida, já foi melhor kkk