Sejam bem-vindos a mais uma Carta do Condado! Sua edição semanal de conhecimento com uma dose de humor e tempero com caldo de mercado financeiro. Essa semana, nossa saúde cardíaca foi testada com notícias vindas da terra do Tio Sam, que fizeram a bolsa americana chacoalhar mais que pandeiro na Sapucaí.
O governo americano anunciou novas tarifas sobre produtos chineses, mirando setores que vão de carros elétricos a produtos médicos. A justificativa oficial é proteger empregos e interesses estratégicos. Mas a verdade, que todo mundo sabe, é outra: o sucesso chinês está incomodando – e muito.
A ironia é quase poética, porque esse sucesso que hoje tanto ameaça os EUA foi, em boa parte, uma consequência direta do plano original. Ou melhor, do plano que os próprios americanos lideraram: a globalização. A China jogou o jogo do livre comércio, seguiu o roteiro das vantagens comparativas, cumpriu todas as etapas do capitalismo global – e ganhou. Ganhou tanto que virou um problema.
A Apple é o símbolo perfeito desse paradoxo: seus produtos carregam a assinatura “Designed in California”, mas todo mundo sabe que são montados em na China, com peças de Taiwan, chips coreanos e vidro japonês. Isso é a materialização da divisão internacional do trabalho, baseada na lógica de que os países ricos pensam, projetam, patenteiam; e os países em desenvolvimento montam, executam, costuram. O centro criativo no Norte Global, a mão de obra no Sul. Simples, eficiente, lucrativo… até dar certo demais.
Acontece que a China não quis ser só montadora: quis ser engenheira, inovadora, provedora de tecnologia. Enquanto o Ocidente achava que estava terceirizando apenas produção, terceirizou também o aprendizado, a escala, a inovação. Foi um MBA industrial completo, pago em dólar e com bônus de produtividade. Hoje, a China quer projetar as peças, ditar o ritmo, definir os padrões. Quer jogar no mesmo tabuleiro — só que sem pedir licença. Os carros chineses são um exemplo disso: lembra quando, lá atrás (não muito tempo atrás – 10 anos, talvez?), carro chinês era sinônimo de carroça? Então, agora carro da BYD desfila pela Faria Lima como sinônimo de tecnologia e inovação.
E agora os EUA descobrem, tardiamente, que produzir tem custo. Que reindustrializar um país depois de décadas de desmonte é mais difícil do que um discurso em ano eleitoral. Que não dá pra competir com alguém que já tem escala, integração e disciplina. O desconforto americano é, no fundo, a frustração de quem fez o jogo e agora está perdendo em suas próprias regras. A China não virou uma democracia liberal pró-Ocidente, como tanto se esperava nos anos 2000: virou uma superpotência econômica com ambições globais – e o pior: com resultados concretos.
As teorias econômicas liberais, que sustentaram a abertura comercial, continuam sólidas nos livros-texto. Ricardo, Heckscher-Ohlin, Stolper-Samuelson, Krugman: todos mostraram que o comércio gera ganhos mútuos, eficiência, especialização e inovação. E, de fato, por um tempo funcionou:
David Ricardo (1817): mostrou que mesmo países menos produtivos ganham com o comércio, desde que se especializem.
Heckscher-Ohlin: teorema que mostra como comércio beneficia os fatores de produção abundantes de cada país (trabalho na China, capital nos EUA).
Stolper-Samuelson: outro teorema, que mostra como o comércio internacional gera crescimento econômico, mas também muda quem ganha o quê dentro de um país. Ou seja: o mesmo comércio que aumenta o bolo também o redistribui (e aqui começam os problemas).
Nova Teoria do Comércio (Krugman): abrir ao comércio ainda é bom porque a concorrência internacional pressiona as empresas a inovar mais.
A globalização diminuiu custos, expandiu mercados, gerou crescimento. Mas os modelos não contam o que acontece quando um dos parceiros resolve escalar o jogo e desafiar o comando do sistema. E menos ainda explicam o impacto político de ver fábricas fechando, empregos migrando e rivais estratégicos prosperando.
Hoje, a divisão do trabalho global é clara: a China fabrica, a China inova, a China escala. E os EUA? Recorrem ao protecionismo como quem tenta apertar Ctrl+Z na história. Circula por aí um meme tragicômico que resume bem esse espírito: o americano médio — obeso, sedentário e emocionalmente despreparado — “voltando” a operar uma prensa hidráulica no esforço de reindustrialização nacional.
O protecionismo atual não é sobre estratégia, é uma tentativa de voltar ao tempo em que os EUA dominavam a manufatura, os fluxos de capital e a narrativa moral do capitalismo. Mas o tempo não volta: a China não vai desaprender a fazer drones, carros elétricos e chips de IA só porque os EUA não querem mais que seja assim.
O que estamos vendo não é só uma guerra tarifária, é uma crise de hegemonia. A ordem liberal internacional, construída pelos EUA e para os EUA, está sendo desafiada de dentro – por um país que jogou o jogo conforme o criador e agora incomoda o criador. Os americanos venceram quando a globalização funcionou. Mas agora que ela amadureceu e deu frutos em outras mãos, o jogo virou. E aí vem a pergunta incômoda: o que acontece quando você perde… por ter ganho?
Enquanto pensamos na resposta, treinamos nossos corações e mentes com esse barata voa de mercado, esse vai-e-vem da bolsa americana conforme vão saindo as notícias de tarifas comerciais.
Um beneficiado nessa história? Em um cenário de guerra tarifária, onde o comércio internacional se torna mais caro, imprevisível e politicamente carregado, o Bitcoin pode emergir como um ativo alternativo de refúgio e transferência de valor global. À medida que países impõem tarifas, controlam exportações e fragmentam cadeias de suprimento, cresce o apelo por uma moeda descentralizada, neutra e resistente à interferência estatal, especialmente entre agentes econômicos que operam em ambientes de alta incerteza geopolítica. Além disso, se medidas protecionistas alimentarem a inflação – como já se observa em ciclos anteriores – o Bitcoin, com sua oferta limitada e narrativa digital de “ouro 2.0”, pode atrair capital como hedge contra a desvalorização das moedas fiduciárias.
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