Quer ser dono de um clube de futebol?
Definição básica: ter uma ação é ser “dono” de uma pequena fração de uma empresa (ok, os brasileiros levam essa definição e a zoeira longe demais ao enviar email para o RI das empresas cobrando explicação sobre a performance da empresa quando tem apenas algumas unidades de ações). E, no supermercado da bolsa de valores, há ações de todos os tipos: mineradoras, farmacêuticas, frigoríficos, até… clubes de futebol!
Isso mesmo: tem clube de futebol com capital aberto na bolsa de valores. Já parou pra pensar o porque um clube de futebol abriria capital na bolsa?
Manchester United fez IPO na NYSE em 2012
Bem, o prospecto do IPO do Manchester United na Bolsa de Nova York (NYSE) dá a resposta, que passa que por dinheiro, governança, crescimento de marca e um jogo de xadrez de longo prazo. Dá pra elencar 4 principais motivos:
1. Capitalização: contratações e infraestrutura custam caro
O futebol virou um dos setores mais intensivos em capital do planeta. Contratar estrelas, reformar estádios, expandir centros de treinamento, investir em base... tudo isso custa centenas de milhões de euros/dólares. Abrir capital é uma forma de levantar recursos sem depender apenas de dívidas bancárias ou do bolso de um magnata.
Tomemos o caso do Manchester United: quando abriu capital em 2012, parte relevante dos recursos foi usada para reduzir o endividamento, resultado da aquisição alavancada pela família Glazer anos antes. O IPO levantou cerca de US$ 233 milhões.
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2. Profissionalização e governança corporativa
Ao abrir capital, o clube é obrigado a cumprir regras de governança, divulgar balanços auditados, adotar maior transparência e respeitar o direito dos minoritários (ao menos em tese). Isso melhora a credibilidade com patrocinadores, parceiros comerciais e a própria torcida. (Embora, para alguns clubes, seja esse justamente um dos motivos para o time se manter bem longe da bolsa de valores e do IPO…)
O Borussia Dortmund, por exemplo, é frequentemente citado como benchmark de gestão profissional entre clubes europeus. Seu modelo de capital aberto é usado para sustentar um futebol competitivo e, ao mesmo tempo, saudável financeiramente.
3. Monetização da paixão do torcedor
Não se trata apenas de grandes fundos: milhares de torcedores compram ações dos seus clubes como forma de "pertencer" à história e ser “dono” do time. Isso cria uma base de investidores extremamente leal e disposta a segurar ações mesmo em momentos ruins.
Em termos de comportamento, é um ativo único: poucos setores conseguem transformar emocionalmente seus clientes em acionistas tão engajados. Aqui, temos literalmente fãs das ações (uma relação quase parecida com a sua com aquele mico que você tem em carteira desde 2020, na esperança que retorne ao preço de compra…).
4. Expansão internacional e fortalecimento de marca
Futebol é o esporte mais popular do mundo, e os clubes das grandes ligas regionais hoje querem ser reconhecidos na Ásia, nas Américas e na África. Abrir capital internacionalmente, como o Manchester United fez na Bolsa de Nova York, é uma estratégia de fortalecimento de marca global, não apenas uma questão de funding. Na prática, abrir capital é mandar um recado: "nós jogamos num palco global, não apenas local".
O calcio italiano talvez seja um dos mais próximos do futebol brasileiro em termos de malandragens: conhece essa figura polêmica aqui?
Mas nem tudo são flores (ou dinheiro em caixa pós-IPO), então é bom lembrar: clubes de futebol são ativos extremamente voláteis. Resultados esportivos influenciam diretamente receitas de transmissão, patrocínios, venda de produtos e até o humor do investidor. Basta um ano ruim, uma eliminação precoce na Champions League, e a ação despenca. Exemplo? A Juventus viu suas ações sofrerem após fracassos europeus recentes. (Falando em JUVE, o calcio italiano talvez seja um dos mais próximos do futebol brasileiro em termos de malandragens, e alguns dirigentes do time italiano foram investigados por fraudes contábeis e manipulação das ações do time). Além disso, estruturas como a do Manchester United são criticadas: a família Glazer reteve controle absoluto através de ações com supervoto (Classe B), deixando minoritários sem poder direto sobre a gestão do time.
Além do Manchester United, que abriu capital na Bolsa de Nova York em 2012, outros clubes de futebol famosos também realizaram IPOs nos últimos anos. A Juventus, da Itália, fez seu IPO na Bolsa de Milão em 2001 e permanece uma referência entre os clubes italianos listados, ainda que com ações de baixa liquidez. O Borussia Dortmund, da Alemanha, se destacou como o primeiro e único clube da Bundesliga a ter ações negociadas na Bolsa de Frankfurt, desde seu IPO no ano 2000, mantendo uma gestão relativamente sólida após superar dificuldades financeiras. Na Turquia, grandes clubes como Galatasaray, Fenerbahçe e Beşiktaş também possuem ações negociadas na Borsa Istanbul, consolidando o mercado turco como um dos mais ativos nesse modelo, embora com alta volatilidade. Em Portugal, o Sporting CP também tem parte de sua estrutura listada, seguindo o formato de Sociedade Anônima Desportiva (SAD), o que é comum entre clubes portugueses.
Existe até um índice para medir o desempenho das ações de clubes de futebol: o Dow Jones Stoxx Football Index. Lançado para acompanhar clubes listados na Europa, ele agrega times de vários países. E, curiosamente, os estudos mostram que investir no índice não é tão atraente assim para investidores profissionais: segundo Aglietta, Andreff e Drut (2010), o Football Index tem um perfil risco-retorno fraco: alta volatilidade, retornos médios baixos e alta correlação com o mercado acionário geral, o que limita a diversificação.
O estudo mostrou que o Sharpe Ratio das ações de clubes de futebol foi negativo (-0,01) entre 1991 e 2009, indicando que o risco não foi compensado por retornos consistentes no período. A volatilidade dessas ações foi mais alta do que a do índice de ações tradicional Euro Stoxx 50, tornando-as ainda mais arriscadas. A correlação com o mercado de ações tradicional foi de apenas 27,5%, o que é relativamente baixa, mas ainda assim insuficiente para torná-las bons ativos de diversificação. Além disso, o valor de mercado dos clubes representa menos de 0,06% do valor do DJ Euro Stoxx 50, mostrando como o setor é pequeno em comparação com o mercado financeiro global. Outro insight importante da pesquisa foi que o desempenho das ações é altamente sensível aos resultados esportivos (esperado, não é mesmo?), com vitórias e derrotas impactando fortemente os preços.
Por fim, apesar da expectativa de que a abertura de capital profissionalize os clubes, o estudo mostra que muitos continuam com governança fraca: há forte correlação entre aumento de direitos de TV e inflação salarial dos jogadores, criando um ciclo vicioso de dívidas e crises financeiras. Quando os clubes conseguem negociar contratos de transmissão mais lucrativos, em vez de reforçar sua sustentabilidade financeira, frequentemente usam o novo caixa para inflacionar suas folhas salariais e contratar jogadores a valores elevados. Isso gera uma espiral: os salários e transferências aumentam, os custos fixos se elevam, e qualquer oscilação negativa nos resultados esportivos ou na arrecadação de TV futura compromete rapidamente a saúde financeira do clube. Estudos indicam que essa prática não apenas torna os clubes vulneráveis a crises financeiras, mas também reduz a eficácia da governança corporativa, uma vez que decisões de longo prazo são sacrificadas por pressões imediatistas de performance esportiva e manutenção de receitas. Em contextos de "soft budget constraint", como ocorre em muitos clubes europeus, essa dinâmica é agravada pela expectativa de resgates financeiros, seja por bancos, patrocinadores ou governos locais.
No fim das contas, abrir capital é uma faca de dois gumes. Por um lado, pode ser uma ponte para mais profissionalização e crescimento internacional, mas, por outro, expõe os clubes às mesmas armadilhas que derrubam empresas comuns: má gestão, dívidas excessivas e decisões de curto prazo para agradar aos acionistas. Para o investidor, comprar ações de um clube é mais emoção do que razão: você não está só apostando em vitórias no campo, mas em resultados financeiros num setor que mistura paixão, política, vaidade e muito, mas muito improviso e malandragem. Portanto, antes de achar que está virando “dono” do seu time do coração, vale lembrar: no jogo da bolsa, como no futebol, nem sempre o melhor time vence. E, muitas vezes, o sócio minoritário fica só no banco de reservas.