Rali? Por quê? - Condado View
EUA - Eba! Finalmente desemprego
Soltar fogos de artifício em comemoração a dados de desemprego maiores é uma característica no mínimo peculiar do setor econômico. O mercado de trabalho tem sido uma das principais preocupações da economia e inflação americanas, mas os dados do Payroll de outubro, divulgados na sexta-feira, vieram dar boas notícias dessa vez.
As folhas de pagamento não-agrícolas arrefeceram no mês de outubro, com aumento de 150.000 novos empregos líquidos durante o mês, totalizando uma taxa de desemprego de 3,9%.
Já entendemos que o dado veio abaixo das expectativas (180.000), mas por quê?
Ao longo dos três primeiros trimestres deste ano observamos um equilíbrio entre oferta e procura de emprego, causando pressão na taxa de desemprego. Em outubro houve uma melhoria na oferta de trabalho em um contexto de um ritmo mais lento de contratação, o que resultou em uma moderação de crescimento salarial. Só para dar uma magnitude aqui, o rendimento médio por hora aumentou 0,2% no mês, o ritmo mensal mais lento em mais de um ano.
O relatório veio tão disposto a fazer as pazes que até os dados do mês passado foram revisados para baixo, passou a ser 297.000 ao invés de 336.000 empregos criados.
Com o Payroll levantando e chacoalhando a bandeirinha branca, o mercado decidiu fazer sua contrapartida em movimentos positivos também. No mesmo dia da divulgação do relatório, as Treasuries de dez anos caíram para os menores níveis em cinco semanas, já as de dois anos atingiram o menor patamar desde o início de setembro. Além, e como consequência, da apreciação na bolsa americana, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq na sexta-feira.
Na terça-feira tivemos leilão de T-notes de três anos, que veio com uma sinalização positiva também, já que teve taxa máxima menor do que taxa negociada no mercado secundário, indicando boa demanda. Já podemos esquecer as dificuldades das ofertas do Tesouro Americano ao longo do terceiro trimestre? Provavelmente não.
As bolsas de Nova York estão surfando a onda, os índices S&P 500 e Nasdaq tiveram, na quarta-feira, sua maior sequência positiva desde novembro de 2021.
Brasil - Pode escrever, só não escrevam em pedra
O alívio da pressão do mercado de trabalho americano também derrubou a sua chuva de otimismo no mercado doméstico. Por aqui, após o Payroll, o Ibovespa subiu 2,7% e o dólar recua para R$4,89 no fechamento do mesmo dia.
O resultado do déficit primário consolidado de setembro foi de R$18,1 bilhões, um tanto pior do que as expectativas de superávit de R$14,5 bi.
Todos os esforços na construção de credibilidade do atual governo escorrem pelos dedos com a declaração do Presidente de que o déficit passará de zero para algum? Independente da resposta para essa pergunta, a discussão agora é sobre a magnitude do déficit e o quanto essa mudança de regra do jogo no meio do jogo desancora as expectativas.
As empresas não esperaram o assunto explodir - igual aos postes em SP após os ventos de mais de 100 km - para tomar uma atitude. Com a recorrente ventilação sobre a taxação de proventos e vendo os desdobramentos das contas públicas, as empresas se anteciparam e distribuíram 31% a mais em juros sobre capital próprio do que em todo o ano passado - no mood deixa eu garantir o meu logo - além disso a proporção em relação a dividendos cresceu de 25% para 47% do total.
Esse assunto entrar em voga antes de termos certeza que o Congresso vai aprovar as medidas que aumentam a receita, demonstra alguma confiança do governo. De qualquer forma, agora temos um prazo, vamos saber de quando será a v2 da meta para o déficit até dia 16 de novembro.
O tom mais dovish do FED deu uma injeção de ânimo no mercado doméstico, mas em contrapartida o cenário fiscal brasileiro segue sendo um ponto de atenção. Como sempre.
Apreensão sobre o conflito na faixa de Gaza continua, mas o pula pirata a respeito desse tema se deu no Brasil essa semana. A Polícia Federal interrompeu atos preparatorios de terrorismo de brasileitos suspeitos de integrarem o grupo libanês Hezbollah em um planejamento de ataques contra a comunidade judaica no Brasil. O Embaixador de Israel, Daniel Zonshin, deu seu diagnóstico e lembrou do ataque, há cerca de 30 anos, na Argentina, que na época foi financiado pelo Irã.
China - bom, mas nem tanto
Para quem achou que com a recente divulgação do resultado do PIB chinês em 4,9% tudo já estava resolvido, volte duas casas. Apesar da recente recuperação do crescimento, o desafio em relação à crise imobiliária ainda existe. Os investimentos e o consumo continuam sendo comprimidos. Por ora, os esforços em estímulos têm surtido certo efeito nas importações, mas não podemos dizer o mesmo das exportações.
Em outubro as exportações chinesas caíram 6,4% em comparação com 2022, para 275 bilhões de dólares, queda mais acentuada do que a de 6,2% em setembro.
Sabemos que o mar não está para peixe, todo mundo enfrenta uma desaceleração e custos de financiamentos mais elevados. Uma comparação justa é Coreia do Sul e Taiwan demonstrando vendas fracas no exterior também.
Com o setor externo mais seco, a mágica vai ter que ser feita dentro de casa mesmo.
Curiosidade da semana
Após observar que ordenhadores eram imunes à varíola, Edward Jenner em 1796 inoculou o pus presente em uma lesão de uma ordenhadeira chamada Sarah Nelmes, que possuía a doença cowpox, em uma criança de oito anos chamada James Phipps. A criança adquiriu cowpox de forma leve.
Posteriormente, Jenner inoculou em Phipps pus de uma pessoa com varíola, e o garoto não sofreu nada. Assim surgiu a primeira vacina.
Frase da Semana
"Não é suficiente ter uma boa mente: o principal é usá-la bem."
René Descartes