E aquilo que todos sabiam, todos comentavam, começou a se materializar: uma onde dos chamados "influencers" foram presos essa semana, por suposta ligação com esquemas de lavagem de dinheiro através dos jogos de apostas online. Era toda semana uma plataforma nova que estava dando muito dinheiro. Pois bem: estamos descobrindo que esse dinheiro não era muito só proveniente dos apostadores, não…
É, meus amigos, Michel Temer implementou boas reformas econômicas, mas deixou alguns "presentes" que estão dando dor de cabeça (e nem estamos falando de ministros do STF…). Nos dias finais de seu mandato, o então Presidente da República Michel Temer sancionou a MP 846/2018, que regulamentava as apostas esportivas no modelo de quotas fixas – as famosas como apostas esportivas.
A medida prévia distribuição dos valores arrecadados para áreas da educação, cultura, esporte e segurança pública, mas o que não esperava (ao menos não oficialmente) fosse a dor de cabeça que isso fosse causar: 0,2% do PIB está sendo drenado para jogos como o "Tigrinho", valor que representa pouco mais de 0,3% da renda das famílias ou quase 2% da massa salarial, de acordo com um estudo do Itaú.
E se sai de um lado, entra de outro: a maioria esmagadora das casas de apostas esportivas está sediada no exterior, o que significa que essa grana (cerca de 24 bilhões de reais líquidos, de acordo com o estudo do Itaú) está aparecendo no balanço de pagamentos e dando goodbye em direção às terras estrangeiras.
Por isso mesmo, nós, da FLAM – Faria Lima Asset Management – especialista em investimentos e também em picaretagem, aproveitamos esse feriado da independência para apoiar a indústria nacional: rejeite a modernidade das bets e do tigrinho e apoie a indústria nacional, abrace a tradição e aposte com o bicheiro do seu bairro.
Pela volta da tradição e do jogo do bicho
No momento, realizar aportes em investimentos alternativos tradicionalmente brasileiros através do nosso consagrado fundo “Corotinho e Jurupinga FICFIM” – que investe apenas em atividades comprovadamente resilientes a qualquer crise e que favorecem a indústria local: agiotagem, jogo do bicho, cerveja batizada, churrasquinho de carnes alternativas, rendas de serviço de flanelinha, despachantes e cartório – está fechado para novos aportes, mas você pode comprar deixar seu dinheiro "investido" diretamente nas mãos do bicheiro mais próximo.
Mas tá achando que esse problema de apostas esportivas é só do Brasil? Nada disso, tem trouxas jogadores em todos os lugares.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as apostas esportivas eram limitadas desde 1992 (o Congresso aprovou o Professional and Amateur Sports Protection Act (PASPA), que basicamente proibiu apostas esportivas em grande parte do país, exceto em estados que já permitiam esse tipo de atividade, como Nevada (Las Vegas). Mas em 2018, a Suprema Corte dos EUA revogou o PASPA, permitindo que cada estado tivesse autonomia para decidir se legalizaria ou não as apostas esportivas: a consequência foi que muitos estados começaram a legalizar e regulamentar as apostas esportivas – tanto em cassinos físicos quanto em plataformas online – gerando um mercado em rápida expansão.
Isso sem falar no Reino Unido (um dos países com maior tradição em apostas esportivas), Espanha, Itália, e por aí vai… Em todos eles, uma preocupação com o vício dos apostadores e a propaganda agressiva das casas de apostas tem gerado amplos debates – embora nenhuma solução definitiva tenha sido encontrada.
E o mercado financeiro, como fica nisso tudo?
Bem, parece que "apostas" é um problema de dois lados: além da oferta realizada pelos sites de apostas online, existe uma demanda por essa adrenalina dos jogos, que também se materializa na forma como algumas pessoas investem seu dinheiro (de "investir", mesmo, porque site de apostas não é investimentos).
A literatura financeira já até achou um termo para isso, as "lottery-like stocks", que são ações que apresentam características semelhantes às de uma loteria, oferecendo uma chance de alto retorno com uma probabilidade muito baixa de sucesso. Essas características atraem investidores que buscam "dar sorte" com um investimento de baixo custo e com um grande potencial de lucro, semelhante à compra de bilhetes de loteria, mesmo que as chances de sucesso sejam baixas e com risco envolvido é bastante elevado.
Estudos de 2009 mostrou que a propensão para jogar e as decisões de investimento estão correlacionadas: em níveis agregados, os investidores individuais preferem ações com características de loteria e, tal como a procura de tíquetes de loterias, a procura de "lottery-like stocks" aumenta durante as crises econômicas.
O estudo mostrou ainda que fatores socioeconômicos que induzem maiores gastos em tíquetes de loterias também estão associados a maiores investimentos em "lottery-like stocks".
Além disso, os níveis de investimento que se parecem com loterias são mais elevados em certas regiões, além de mostrar que as loterias estaduais e as ações lotéricas atraem clientelas socioeconômicas muito semelhantes. Isto é: da mesma forma que investem em tíquetes de loteria, tem gente "investindo" da mesma forma em ações que se comportam como loterias.
Tudo isso só nos faz concluir uma coisa: todo dia saem de casa um malandro e um trouxa, e quando eles se encontram, dá negócio. E ultimamente, nem precisa sair de casa, é só baixar a nova plataforma "que tá pagando muito dinheiro".
Sensacional 👏
Aqui no Brasil soma o imediatismo como um dos problemas do sucesso das apostas esportivas.