Seu bônus foi de quanto? - Condado View
Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa de almoço.
Brasil - deixamos tudo para última hora?
A mão invisível do mercado continua alegrando os investidores neste fim de ano. Cenário externo e interno sinalizando que o pior, no quesito inflação, já passou e agora é só alegria.
Já chegaram até você os comentários do trabalho incrível que o atual governo fez para colocar o Ibovespa no nível de recorde histórico? É novidade para mim que as expectativas sobre a política monetária nos EUA (um dos principais motivos da euforia recente) respondem às decisões políticas brazucas.
Quem está mais soltando mais rojão, o Faria Limer que recebeu um bônus gordo essa semana ou o investidor de RV que viu o Ibov bater 131 mil pontos?
O fim de ano está agitado também para o pessoal do congresso - não é diminuindo gasto que a meta de déficit zero vai se tornar realidade, é aprovando aumentando os impostos.
A reforma tributária foi aprovada, depois de longos 30 anos. Ela visa unificar os impostos sobre o consumo. Nasce em um imposto sobre o valor agregado (IVA) que vai ser dividido em um imposto federal e outro estadual. Os impostos federais IPI, PIS e Cofins vão ser transformados na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), já os impostos estaduais/municipais ICMS e ISS vão virar o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A reforma tributária tem o compromisso de nascer neutra, o que significa que a tendência é de ficar no zero a zero em termos de arrecadação. O principal valor é tentar resolver o famoso manicômio tributário que é evidenciado pelo probleminha abaixo:
Fonte: Jornal Valor
Para você que assim como o meu estagiário demorou para entender, o diminuto traço verde e vermelho representam OCDE e LATAM, respectivamente.
A mudança evidencia o fato de que o Brasil pode ter um dos maiores IVAs do mundo. O valor exato só será sabido conforme a transição do atual sistema para o novo avance, mas ventila-se que a alíquota deve ficar na casa dos 27%.
A medida provisória que regula as subvenções (incentivos fiscais concedidos pelos estados às empresas) foi aprovada pelo senado e agora só falta a sanção do presidente. Essa é a principal proposta da agenda fiscal do Haddad, estima-se que a iniciativa possa gerar uma arrecadação de R$ 35,3 bilhões no ano que vem.
Teve também, a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, essa é a lei que serve de base para a formulação do orçamento do ano que vem. Outro recorde aqui, R$ 48,8 bilhões reservados para emendas parlamentares - olha seus 27% de IVA para onde estão indo.
Só não tem conversa quando o tema é desoneração da folha de pagamento. O congresso derrubou, de lavada, o veto presidencial que encerrava as desonerações em folha de pagamento para os 17 setores que mais geram emprego no Brasil - pouco poder desses setores, né? Não é o primeiro governo que tenta e falha miseravelmente.
O banco Safra resolveu colocar suas barbas de molho e voltou atrás. Aderiu ao plano de recuperação judicial das Lojas Americanas. O banco demorou para ligar o mood mais vale um bilhão na mão do que dois voando. Finalmente o plano de recuperação judicial da varejista foi aprovado pela assembleia de credores. Final feliz - para quem? - na novela que se iniciou em janeiro e se "encerrou" em dezembro.
A S&P Global Ratings elevou a nota de crédito soberano do Brasil de BB- para BB e manteve a perspectiva estável. O presente de natal não foi de graça e a agência de rating deixou claro que a reforma tributária teve forte contribuição para alteração.
O cenário de reformas econômicas ajudou o Brasil ficar bonito na foto lá fora. Nos últimos 7 anos temos feito reformas vistas como pró-mercado como a reforma trabalhista, reforma da previdência, reforma tributária e marco do saneamento.
É nesse cenário otimista que vemos o dólar chegar ao patamar de R$4,87, na quinta. As empregadas domésticas na Disney agradecem.
EUA - boom e basting
Só alegria no mercado americano também. A declaração do Presidente do Fed de que os juros estão “provavelmente no seu pico ou perto dele” ecoa pelos mercados. Não em vão, o yield das treasuries de 10 anos agora namora as redondezas dos 3.8% (vindas de um pico de 5% em outubro). Os principais índices americanos estão performando bem, e essa semana o Dow Jones bateu recordes consecutivos.
Pra não dizer que só falei das flores, no sábado um Destróier americano derrubou 14 drones lançados do Iêmen, no mar Vermelho, em áreas controladas pelo houthis - grupo político-militar que é ideologicamente alinhado ao Hamas e ao Hezbollah e que faz oposição à existência do Estado de Israel. A tensão na região aumentou, o que causou um aumento dos preços do petróleo (2% na segunda).
China - a pouco vapor
Estamos acostumados a ver a China batendo recordes de crescimento, ano após ano. Mas nas últimas semanas vimos um misto de resultados, que sugere uma economia estável ao invés de forte. O crescimento das vendas no varejo e na produção industrial acelerou em novembro - sabemos que teve a ajudinha da atividade bem fraca em 2022. Para dar uma magnitude, as vendas do varejo registraram um ganho de 10,1% em relação ao ano anterior, enquanto a previsão era de 12,5%. Já a produção industrial aumentou 6,6%, o que foi melhor do que o ganho esperado de 5,7%. Essa mistura de perspectiva demonstra um crescimento estável, mas não robusto.
Frase do dia
"Se o investimento for divertido, se você estiver se divertindo, você provavelmente não estará ganhando dinheiro. O bom investimento é chato."
George Soros
Curiosidade da semana - Na Islândia quase não existem mosquitos.
A ausência de mosquitos na Islândia, segundo o Icelandic Web of Science (IWOS), é atribuída às suas condições climáticas peculiares. As rápidas e repentinas variações de temperatura e umidade no país impedem que as pupas dos insetos completem seu ciclo de maturação, criando um ambiente desfavorável para o ciclo de vida completo dos mosquitos.