Status do Relacionamento: É complicado
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
A carta de hoje é em homenagem a você que ainda não comprou presente algum, mas está colocando a culpa na baixa confiabilidade dos Correios para explicar por que a sua amada (ou amado) está de mãos abanando no Dia dos Namorados. E, já que estamos falando de relacionamentos atritados, começamos pelos desdobramentos de um telefonema que deixou todo mundo esperançoso no mercado financeiro.
Trump e Xi resolveram flertar com fazer as pazes na guerra comercial e quebraram o gelo depois das acusações de traições nos acordos envolvendo terras raras e chips. Fontes que escutavam por trás das portas da Casa Branca juram que ouviram a frase “eu prometo que não faço de novo” sendo dita mais de uma vez.
O telefonema desencadeou uma nova rodada de negociações que está sendo realizada no Reino Unido, e os burburinhos têm sido positivos e já começam a refletir nos preços. Na sexta-feira (06) o S&P 500 subiu 1,0 %, mas os yields das Treasuries seguem em alta, com o rendimento do T-note de 10 anos chegando a bater 4,51% na sexta.
O papo sobre a fraqueza do dólar, ironicamente, segue perdendo força, com poucos desdobramentos a respeito da Big Beautiful Bill (outro BBB, mas que coincidentemente também distribui dinheiro). Mas o que veio foram notícias boas, uma vez que o payroll de sexta-feira (6) registrou 139 mil vagas vs. projeção de 130 mil e os dados de inflação vieram abaixo do esperado, 2,4% ao ano vs. 2,6% projetado.
O payroll representa o número de empregos não rurais criados no mês anterior e é um termômetro importante que tende a movimentar bastante o mercado no dia em que é anunciado. Pela própria natureza do dado, ele é muito propenso a revisões e, como o jornal de ontem embala o peixe de hoje, o impacto dessas revisões nem se compara ao do dado no dia. Desta vez foram duas revisões: março caiu 65 mil vagas (de 185 mil para 120 mil) e abril, 30 mil (de 177 mil para 147 mil), mas é preciso ir à segunda página do Google para achar gente falando sobre isso.
Mas esse é o lado bom e já dá para entender que o impacto do nível atual de tarifas não está sendo tão catastrófico quanto se estimava num passado recente. Não é a primeira vez que os agentes reagem de maneira exagerada a um evento político e certamente não será a última. Só quem não tem a vida facilitada é o Fed, porque embora crescimento sem inflação seja notícia boa, do ponto de vista de política monetária a informação é ambígua e obriga os diretores a continuar repetindo que “ainda são necessários mais dados para decidir cortar ou não os juros”. Toda a vida esse papo.
No Brasil, o relacionamento atritado é entre o governo e, bem… todo mundo. O dado do IPCA de maio saiu na terça-feira (10) e foi positivo para os mercados, com alta de 0,26% no mês, contra 0,34% esperados pelo mercado, levando a inflação acumulada em 12 meses a 5,32% (de 5,53% em abril). Seguimos desconfortavelmente acima da meta de 3% anuais, mas já fica clara uma tendência de redução no acumulado do índice de preços.
Obrigado, BC, você é 10! Ou melhor, 15, porque ainda tem gente dizendo que 14,75% é pouco e que mais 25 bps na semana que vem seriam de bom tom para fechar com chave de ouro este ciclo de altas.
E de onde vem tamanha sede de juros? Do fiscal, é claro. E se tem uma coisa que a política fiscal garante é que o comentarista econômico-financeiro não fique sem assunto: desde o dia 23 não se fala em outra coisa senão de onde mais será tirado dinheiro do contribuinte brasileiro.
Na noite de ontem (11) o governo soltou uma Medida Provisória que deu mais clareza às intenções da máquina arrecadatória. Um destaque relevante é o fim da isenção de uma série de ativos muito bem representados na carteira do investidor brasileiro (LCI, LCA, CRI e CRA), que passariam a ter a alíquota de 5% sobre seus rendimentos. O alívio é que isso só valeria emissões a partir de 2026, seus estoques estão a salvo.
Além disso, uma série de regras tributárias também seria condensada numa única alíquota, de 17,5%. Quem ganha com isso são os investidores viciados no secundário de corretoras que vivem comprando pequenas quantidades de CDBs de vencimento curto em ofertas relâmpago nas prateleiras e que vão deixar de pagar as alíquotas mais altas do IR regressivo. Quem perde são os investidores planejados e, claro, aqueles que ganham dinheiro explicando aos outros como reduzir os impostos de seus investimentos, já que as regras ficam mais simples.
A MP organiza um pouco mais a conversa, o que é positivo, mas ela precisa ainda ser ratificada pelo Congresso, já que vale por 120 dias, mas seus efeitos só estão previstos ter início no começo do ano que vem. Ou seja, a intenção está sinalizada, mas ainda muda nada.
No fim das contas, é a solução de quem não quer ter a conversa difícil de cortar gastos ou a hombridade de olhar para as políticas de incentivo fiscal e fazer alguns inimigos retirando subsídios aqui e ali (estou olhando para você, Zona Franca de Manaus!).
Tentando manter a frieza de um comentário técnico, parece-me um cenário melhor do que usar o IOF para arrecadar alguns poucos bilhões e deixar todo mundo, com o que resta, de cabelo em pé falando de controle de capitais. A barra estava baixa, o avanço existe, mas não dá para esperar uma reversão na tendência de aprovação política de um governo cujas manchetes geralmente envolvem você acordar e descobrir que mais uma parte do seu dinheiro deixou de ser sua.
E se seu relacionamento tivesse pesquisa de aprovação, o que ela diria? Comenta aí embaixo.
Dados de Mercado
Data-base: 11 de junho de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
“O aspecto mais triste da vida agora é que a ciência reúne conhecimento mais rápido do que a sociedade reúne sabedoria.” - Isaac Asimov
Curiosidade da semana
Os pinheiros sabem quando vai chover. Da próxima vez que vir uma pinha, observe-a atentamente. Se estiver fechada, é porque o ar está úmido, o que pode indicar que a chuva está a caminho.