Muita coisa causa polêmica no mercado financeiro: da altura das calças masculinas (convenhamos que calça pula-breja sem meias é, no mínimo, de gosto duvidoso) e abotoaduras de camisa, até o nível do produto potencial ou da taxa de câmbio “de equilíbrio”. O mercado financeiro vive de polêmicas
Mas, sem sombra de dúvidas, a maior de todas as polêmicas são eles: os famosos COE. Amados e defendidos com unhas e dentes por uns, odiados e alvos de textões nós linkedin por outros, os Certificados de Operações Estruturadas são alvos constantes de debates.
A maior e de todas refere-se aos incentivos e é bem famosa: que os assessores de investimentos “empurram” esses investimentos relativamente complexos para clientes, na promessa de que não haverá perda nominal do dinheiro investido caso o cenário-base do investimento não se realize.
O cerne da questão são os incentivos do modelo de negócios de assessoria: de modo simples, os assessores de investimentos tem meta de vendas e os COE acabam sendo uma opção atrativa para ofertar aos clientes e bater a meta. É o famoso modelo comission-based.
Nos modelos de comission-based, a remuneração do assessor vem dos produtos que eles vendem ou nas contas que são abertas. Os produtos vendidos incluem instrumentos financeiros, como seguros, fundos e outros instrumentos mais complexos, como os próprios COE. Quanto mais transações eles concluem ou mais contas eles abrem, mais eles recebem. Daí vem, também, outra crítica ao modelo: a falta de transparência nos custos, devido a muitos custos embutidos dentro do preço dos produtos.
Mas esse não é um problema apenas de Terra Brasilis: um estudo recente da Vanguard analisou o mercado de investimentos de Alemanha, Inglaterra e Itália. Dentre os achados do paper, mostraram que há uma prevalência do modelo comission-based nesses mercados e que empresas independentes de investimentos (em contraposição àquelas ligadas a grandes instituições financeiras) geravam retorno maior para os clientes.
O estudo da Vanguard mostrou, também, como a adoção de uma estrutura fee-based poderia gerar economia de custos para o investidor:
Fonte: “Total cost of investing: Improving outcomes for Europe’s retail investors”. Vanguard (2024).
No modelo fee-based, a assessoria cobra uma taxa pré-determinada por seus serviços; geralmente, uma taxa fixa calculada com base no patrimônio do cliente sob sua custódia. Essa seria uma forma de resolver o problema de eventual conflito de interesses do modelo alternativo.
O modelo de comission-based é bem conhecido e estabelecido no mercado de investidomentos. Porém, um estudo da Cerulli Associates, de 2019, mostrou que, nos EUA, 87% das famílias orientadas por consultores de investimentos preferiam a baseada em fees. Esse mesmo estudo mostrou como o cenário de assessoria/advisory americano estava se movendo para um modelo mais focado em fees do que em comissões.
Fonte: Cerulli Associates
A pesquisa da Cerulli descobriu que a porcentagem de ativos baseados em fees nos EUA aumentou de 26% para 45% entre 2008 e o final do ano de 2017. No comunicado, a empresa global de pesquisa e consultoria diz que espera que essa mudança continue, pois os consultores se posicionam cada vez mais como "parceiros dos clientes na busca de objetivos de longo prazo, em vez de facilitadores de transações".
Um relatório mais recente, o “Envestnet’s 2024 Advisor Perspectives Survey”, da Envestnet (empresa com mais de US$ 6 trilhões em ativos sob custódia em sua plataforma, fornece tecnologia e serviços de gestão de patrimônio para consultores e investidores), conduzida no início deste ano e incluindo 290 consultores financeiros no mercado americano, confirmou essa tendência: os entrevistados na pesquisa recebem em média 71,1% de sua remuneração no modelo fee-based e esperam aumentar para 76,7% até 2025 — em grande parte às custas de comissões.
O modelo fee-based está longe de ser perfeito, porém: com o pagamento de taxas fixas, o incentivo para os assessores vai no sentido oposto, e podem ficar menos pró-ativos na oferta de produtos (pois existe um custo de capital humano na pesquisa de ativos para o portfólio), por exemplo.
Como o Brasil costuma seguir a tendência dos mercados mais avançados, é de se esperar que em um futuro não muito distante esse modelo de negócio ganhe algum espaço no mercado brazuka. To fee or not to fee? That’s the question.
O Presidente Mais Longevo da História Americana
Imagina a situação: os EUA estavam afundados na Grande Depressão, milhões de pessoas sem emprego, economia no fundo do poço. Aí entra o Franklin D. Roosevelt com o famoso New Deal. Ele, inspirado pelas ideias de John Maynard Keynes, decide que o governo tem que gastar pesado para reaquecer a economia. Foi algo completamente novo na época. O governo começou a construir estradas, pontes, investir em programas sociais, e isso foi injetando dinheiro na economia, ajudando a criar empregos e reverter a crise.
Aí vem o ponto interessante: essas políticas deram tão certo que Roosevelt ficou extremamente popular. Ele se tornou o presidente que "salvou" o país da Grande Depressão, e o pessoal foi reelegendo o cara uma, duas, três, até quatro vezes. Isso nunca tinha acontecido antes e, pra ser sincero, deixou a classe política preocupada. Eles começaram a pensar: "Pô, se a gente não colocar um limite nisso, qualquer presidente que for bom em manipular o gasto e a opinião pública pode ficar no poder pra sempre".
Foi então que, após a morte de Roosevelt, o Congresso decidiu criar a 22ª Emenda à Constituição, que limita o mandato presidencial a dois períodos de quatro anos. A ideia era evitar que um presidente ficasse no poder por tanto tempo de novo, como aconteceu com Roosevelt, que, com suas políticas fiscais populistas e intervencionistas, dominou o cenário político por mais de uma década.
Ou seja, a história de Roosevelt mostra como uma crise econômica, junto com políticas públicas certas, pode não só salvar um país, mas também mudar para sempre as regras do jogo político.
Essa foi uma história relembrada no último episódio do PodInvestir para analisar a bala de canhão utilizada pelos governos para evitar uma crise econômica durante a pandemia. O PodInvestir, podcast original da Inteligência Financeira, traz os maiores gestores do mercado para debates o cenário de investimentos. Confira agora!
Correções. Muita coisa causa polêmica no mercado financeiro: da altura das calças masculinas (convenhamos que calça pula-breja sem meias é, no mínimo, de gosto duvidoso) e abotoaduras de camisa, até o nível do produto potencial ou da taxa de câmbio “de equilíbrio”. O mercado financeiro vive de polêmicas (.)
O modelo de comission-based é bem conhecido e estabelecido no mercado de (investimentos). Porém, um estudo da Cerulli Associates, de 2019, mostrou que, nos EUA, 87% das famílias orientadas por consultores de investimentos preferiam a baseada em fees. Esse mesmo estudo mostrou como o cenário de assessoria/advisory americano estava se movendo para um modelo mais focado em fees do que em comissões.
Faltou a polêmica de com se pronuncia EBITDA