Triplo A - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Pela primeira vez na história, os EUA perderam a nota máxima de crédito nas três principais agências de classificação. A Moody’s se juntou à Fitch e à S&P ao rebaixar o rating do país de AAA para Aa1.
Fonte: Investing
Muitos esperavam um pânico nos mercados com essa notícia, mas o impacto foi bem mais contido. No fim do dia, o S&P 500 fechou praticamente estável (0,32%), e os yields dos Treasuries recuaram modestos 3 bps na segunda-feira (19).
A principal preocupação da Moody’s foi o cenário fiscal americano. A dívida pública segue em trajetória ascendente, os déficits continuam elevados e os custos com juros só aumentam. Além disso, surgem sinais de desaceleração tanto no crescimento econômico quanto na produtividade - uma combinação que compromete a sustentabilidade fiscal no médio prazo. Para completar, a atual política comercial dos EUA, com foco em reindustrialização doméstica e menor integração global, pode reduzir o volume de dólares que circula no sistema internacional. Isso levanta o risco de menor reciclagem desses recursos por países superavitários - ou seja, menos demanda estrangeira por ativos americanos, incluindo os títulos do Tesouro.
Além disso, a proposta de reconciliação orçamentária em discussão no Congresso americano reacendeu o temor de um déficit persistente. Estimativas indicam que, se aprovada, essa proposta poderá elevar a dívida pública dos EUA para cerca de 120% do PIB até 2034. Isso ocorre devido à combinação mágica de cortes de impostos e aumentos de gastos.
A aparente calma dos mercados talvez reflita mais uma pausa do que uma calma de fato. Os investidores devem estar aguardando os detalhes das propostas orçamentárias dos republicanos, que devem ser divulgadas até o fim da semana.
Diante desse cenário o apetite por risco estava em alta, tanto lá fora, quanto por aqui. Na terça-feira (20), o Ibovespa resolveu bater recorde, alcançando a marca psicológica dos 140 mil pontos.
A reviravolta no fim do pregão foi cortesia do bom humor dos gringos. O Morgan Stanley elevou sua recomendação para ações brasileiras de “neutra” para “overweight”. Traduzindo: agora eles acham que está barato demais para ignorar - e talvez, só talvez, as coisas por aqui melhorem. Segundo o banco, há sinais de que o Brasil pode estar ensaiando uma virada fiscal positiva, especialmente com o calendário eleitoral logo ali. Que venha o fluxo.
Mas nem tudo foi culpa do gringo. Nosso presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também entrou em cena e agradou. Em evento do Goldman Sachs, ele avisou que a Selic deve continuar alta por um bom tempo ainda, mas o mercado está acreditando que acabou o ciclo de alta (ufa!). O mercado, que anda carente de estabilidade, gostou do tom firme e previsível.
E o dado de atividade do primeiro trimestre só reforçou essa narrativa. O IBC-Br, a prévia do PIB, cresceu 1,3% no acumulado de janeiro a março, acima das expectativas. A tração veio do agro e da indústria, que seguem puxando a economia mesmo com os juros ainda fazendo força contrária. A interpretação de um dado como esse depende muito do contexto, e quanto mais inflacionário o regime mais feliz a gente fica com o desaquecimento da economia. Dessa vez a reação não foi ruim.
Se por um lado o pessoal do Goldman Sachs está apostando numa melhora fiscal com a aproximação das eleições, por outro, o fim da semana passada trouxe um lembrete de que o populismo não tira férias. Voltaram a circular rumores sobre um possível aumento no Bolsa Família. Mas calma: o Ministério da Fazenda já negou oficialmente qualquer intenção nesse sentido. Ficou mais calmo?
E se você achou que os 140 mil pontos iam durar, senta que lá vem a correção. No dia seguinte (21), o Ibovespa devolveu boa parte do entusiasmo e voltou para a casa dos 137 mil pontos. O mau humor lá fora, agora sim digerindo o rebaixamento da Moody’s com a devida atenção, acabou respingando por aqui. E, para completar o combo, o presidente Lula assinou uma MP ampliando a gratuidade da conta de luz.
E, falando em gastos públicos, o fantasma d’O Fiscal voltou a circular pelo mercado. um novo pacote de medidas fiscais foi divulgado pelo governo agora há pouco (22). Como de costume, os boatos saem antes do anúncio oficial e bagunçam os preços dos ativos de risco. E para quem ainda pertencia ao seleto grupo de pessoas que acreditava que a gana arrecadatória do governo não alcançaria o IOF, parabéns, a vida te deu mais uma lição.
Como sempre, as únicas certezas da vida seguem sendo os impostos, a volatilidade e as comissões dos brokers.
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