Ah, o capitalismo! Esse sistema que rege nossas vidas, nossa economia e nossos boletos a pagar. A gente ouve falar dele todo santo dia, mas nem sempre é fácil entender como ele surgiu e para onde ele vai. Então, se ajeite na cadeira e bora por um passeio pela história do capitalismo recente.
Capitalismo 101
Back to basics: o que é capitalismo? Resumidamente, é um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção e que a produção e distribuição de bens e serviços é organizada por meio do mercado, com o objetivo de gerar lucro. A ideia é simples: você investe, trabalha, vende e, se tudo der certo, sai com mais dinheiro do que entrou. Parece um jogo, mas com consequências reais para a vida das pessoas. As principais alternativas ao capitalismo são o socialismo, onde os meios de produção são controlados pelo Estado ou pela coletividade, e o comunismo, aquela utopia que tenta abolir a propriedade privada e criar uma sociedade sem classes (spoiler: o socialismo era a fase intermediária até que se chegasse ao comunismo e uma ideia que não deu muito certo nos experimentos do século XX).
A spinning jane: a geringonça que é o marco da Revolução Industrial
Historiadores econômicos costumam apontar para a Revolução Industrial como o momento em que o capitalismo, tal como conhecemos, realmente ganhou corpo. Antes disso, existia um proto-capitalismo, com comerciantes e manufaturas, mas foi com as máquinas a vapor e as fábricas se espalhando inicialmente pela Inglaterra e que o jogo mudou de vez. Surgiu uma nova classe social, os famosos burgueses (sim, aqueles que Marx adorava criticar – e embora a burguesia já existisse anteriormente, foi durante a Revolução Industrial que ganharam um papel central no sistema econômico capitalista), que investiam em indústrias e transformavam recursos naturais e mão de obra em produtos, gerando lucros cada vez maiores.
Revoluções e as bases do estado liberal
A Revolução Industrial não foi apenas sobre máquinas a vapor e produção em massa. Ela também trouxe consigo a urbanização, já que milhares de pessoas deixaram o campo e migraram para as cidades em busca de oportunidades nas fábricas. Era o famoso proletariado, que se mudava para a cidade com uma mão na frente e outra atrás e trabalhava por horas a fio nas fábricas europeias. A vida nas cidades não era fácil: jornadas exaustivas, salários baixos e péssimas condições de trabalho eram a regra. Foi nesse cenário que as primeiras ideias de regulação e organização trabalhista começaram a surgir, pavimentando o caminho para movimentos sociais e sindicatos que pressionariam por melhores condições no futuro.
Com esse cenário de mudanças econômicas e sociais, surge o Estado Liberal, inspirado pelas ideias de Montesquieu, que sistematizou, em 1748, o princípio da separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário. Mas o que é exatamente o Estado Liberal? Esse modelo de Estado propõe um governo mínimo, com funções restritas à vigilância da ordem social e à proteção contra ameaças externas. Era uma reação ao Estado monárquico absolutista, em que o poder do rei prevalecia sobre tudo e todos. No Estado Liberal, o indivíduo passou a ter mais valor, suas liberdades e direitos eram, pelo menos na teoria, protegidos. Essa valorização do indivíduo foi fundamental para o progresso econômico acentuado e para o surgimento das condições que levariam à Revolução Industrial. No Estado Liberal, os cidadãos podiam buscar seus próprios interesses econômicos, acreditando-se que essa busca individual, quando somada, levaria ao bem-estar da sociedade como um todo.
O barão de Montesquieu, responsável por pensar na divisão dos poderes como conhecemos hoje: executivo, legislativo e judiciário
O Estado Liberal era importante e teve apoio popular porque prometia maior liberdade para os cidadãos, reduzindo o controle do Estado sobre suas vidas e promovendo direitos individuais. Essa ideia era especialmente atraente em um contexto onde muitos países estavam saindo de sistemas monárquicos absolutistas, em que o poder era concentrado nas mãos de poucos e o povo não tinha voz. As promessas do liberalismo inspiraram revoluções populares, como a Revolução Francesa e outras lutas por independência ao redor do mundo. As pessoas estavam dispostas a lutar pela ideia de que podiam ter maior controle sobre suas próprias vidas e que a liberdade individual deveria ser respeitada. Foi assim que o Estado Liberal se consolidou como uma alternativa atraente, proporcionando tanto progresso econômico quanto o reconhecimento de direitos civis.
Estado liberal e o capitalismo
Um dos pilares mais importantes do capitalismo é o sistema de preços livres. Esse sistema de preços livres é fundamental porque é a forma como o mercado se regula. Os preços dos bens e serviços são determinados pela interação entre a oferta e a demanda. Se um produto é muito procurado, mas pouco ofertado, o preço sobe. Se há muita oferta e pouca demanda, o preço cai. Esse mecanismo de preços não só coordena a produção e o consumo de bens e serviços, mas também fornece informações importantes para produtores e consumidores, ajudando-os a tomar decisões econômicas. No capitalismo, o sistema de preços livres atua como um sinalizador, orientando recursos para onde eles são mais necessários e permitindo que a economia se ajuste às necessidades das pessoas. Em resumo, é uma forma descentralizada e eficiente de alocar recursos, algo que diferencia o capitalismo de sistemas mais centralizados, como o socialismo. Nas economias planificadas, como a União Soviética, não havia um mercado de bens e preços livres: os preços eram determinados pelo governo e, via de regra, um elemento presente na vida da população era o desabastecimento e escassez de produtos básicos.
O sistema de preços é um dos elementos-chave do capitalismo. Seu mau funcionamento, ou até sua falta completa, levam à filas, desabastecimentos e falta de produtos.
Mas, como acontece com qualquer sistema, o Estado Liberal não era a prova de falhas. Havia uma grande ênfase no individualismo, o que acabou gerando um comportamento egoísta e a concentração de riquezas nas mãos dos mais habilidosos e audaciosos (ou, se preferir, dos menos escrupulosos). A desigualdade social aumentou e a economia acabou enfrentando uma grande crise no final do século XIX, que se somou às tensões da Primeira Guerra Mundial. A necessidade de mudanças era evidente, ainda mais se lembrarmos que muitos países já eram democracia popular e o direito ao voto estava sendo ampliado.
Do liberalismo ao keynesianismo
Assim, entramos no século XX, quando percebemos que o capitalismo também sabia se reinventar. Com a Grande Depressão de 1929, ficou claro que deixar o mercado solto, sem regras, poderia levar a grandes desastres. Foi aí que John Maynard Keynes apareceu com suas ideias, basicamente dizendo: "Ei, pessoal, que tal o Estado dar uma mãozinha?" (entendedores entenderão, rs). Assim surgiu o keynesianismo, que propõe um Estado mais ativo na economia para evitar crises e promover o crescimento. A ideia de Keynes era simples: quando a coisa ficasse feia, o governo deveria gastar mais para estimular a economia e garantir empregos. Nos anos pós-guerra, o keynesianismo levou ao Estado de bem-estar social, especialmente na Europa: a ideia era garantir que, mesmo em um sistema capitalista (isto é, com propriedade privada dos meios de produção e economia de mercado e preços), as pessoas tivessem acesso a saúde, educação e uma aposentadoria fornecida pelo governo, ao menos parcialmente – um jeito de acalmar os trabalhadores e evitar uma revolução. Isso, claro, não sem custo: gastava-se de um lado, arrecadava-se imposto de outro.
Alíquota de Imposto nos países desenvolvidos (% PIB)
Estado do Bem-Estar Social: a gente usa, mas a gente também paga. Fonte: Our World in Data.
O keynesianismo reinou por algumas décadas, e foi responsável por um período de crescimento econômico e prosperidade, especialmente nos países desenvolvidos. Mas, como a vida é feita de altos e baixos, essa fase keynesiana não durou para sempre. Nos anos 70, o mundo enfrentou uma crise do petróleo, a inflação disparou e o modelo de bem-estar social começou a ser questionado. Era a crise fiscal do estado de bem-estar social: afinal, there is no free lunch e a enfermeira do SUS precisa receber o salário. Por outro lado, a alíquota de imposto poderia estar sufocando a atividade produtiva privada.
Do keynesianismo para o neoliberalismo
É nesse contexto que o neoliberalismo surge: inspirado por economistas como Milton Friedman e a Escola de Chicago, o neoliberalismo defende menos intervenção estatal e mais liberdade para o mercado, retomando ao empreendedor a figura de fio-condutor do desenvolvimento econômico (um ideia que, de certa forma, tinha perdido a força desde as ideias de Keynes).
Políticas neoliberais se espalharam pelo mundo nos anos 80 e 90, com figuras como Ronald Reagan e Margaret Thatcher liderando o movimento. Eles acreditavam que o mercado livre e a iniciativa privada eram a melhor forma de garantir crescimento e eficiência, então houve uma onda de privatizações, desregulamentação de setores importantes e cortes em programas sociais. Enquanto isso, o discurso era de que "o governo é o problema, não a solução". Esse período também pode ser visto como uma tentativa de mesclar a ideia do Estado Liberal (com seu governo mínimo, focado em fornecer segurança, justiça e outros serviços que a iniciativa privada não consegue fornecer) com o Estado de bem-estar social (incorporando as ideias e instituição já estabelecidas, como os sistemas de previdência social, saúde e educação pública, por exemplo), tentando ajustar as finanças públicas e manter um equilíbrio econômico. O estado neoliberal mistura a ênfase do Estado Liberal da liberdade econômica e da menor intervenção possível nos mercados, com a necessidade de garantir uma rede mínima de proteção social que possa estabilizar a sociedade e proporcionar algum grau de igualdade de oportunidades, buscando manter o dinamismo da economia de mercado, mas com a preocupação de evitar um colapso social.
Até hoje, o debate segue acalorado. Alguns dizem que o neoliberalismo trouxe mais eficácia e crescimento, enquanto outros culpam essa abordagem pelo aumento da desigualdade social e pela precarização do trabalho. De fato, uma das marcas do capitalismo recente é justamente a desigualdade: embora tenhamos visto o desenvolvimento tecnológico crescer de forma exponencial, parte dos benefícios se concentrou nas mãos de poucos – os famosos 1%. Por outro lado, nunca antes na história da humanidade tanta gente foi retirada da pobreza. Aparentemente, com o capitalismo o mundo ficou desigualmente mais rico.
População mundial vivendo em condição de extrema pobreza
Aparentemente, com o capitalismo o mundo ficou desigualmente mais rico. Fonte: Our World In Data
Em que ponto estamos?
Quando olhamos para a evolução do capitalismo e suas interações com os modelos políticos, podemos perceber um padrão de retroalimentação. Assim como no Império Romano, onde o crescimento econômico e a expansão territorial sustentavam o poder político, o capitalismo se sustenta pela sua capacidade de se transformar e se adaptar às necessidades políticas e sociais. Ray Dalio, por exemplo, tem uma tese interessante sobre a “Pax Americana” e a “Pax Sinica”, comparando a hegemonia dos Estados Unidos e da China com a paz e prosperidade que Roma trouxe durante seu apogeu: assim como Roma, os Estados Unidos se beneficiaram do capitalismo para manter sua influência global. Com o declínio americano – algo que Dalio vê como inevitável – viria o gigante chinês para ocupar o seu lugar e ditar as regras de como a banda toca.
Os Estados Unidos, como epicentro do mundo ocidental e bastião do capitalismo moderno, dita as regras de como o mundo se organiza. O declínio americano é algo que ninguém tem resposta nem certeza, mas que ganhou um novo capítulo com a eleição de Donald Trump e, especialmente, com o ministério meio meme, meio coisa séria demais: o DOGE, Department of Government Efficiency (Departamento de Eficiência Governamental). Esse ministério tem a com a missão de reduzir burocracias e otimizar a máquina pública, e se tudo ocorrer como planejado, tem a capacidade de balançar o pêndulo do capitalismo americano como foi quando das ideias de Keynes (que nos EUA se materializaram na figura de Franklin Roosevelt) e com a revolução neoliberal implementada por Ronald Reagan. Até porque, desde as medidas neoliberais de Reagan, o governo americano cresceu seus tentáculos, a dívida americana cresceu mais ainda e muitos sistemas de serviço público têm deixado os analistas preocupados com sua saúde financeira – uma situação parecida com o cenário pré-anos 70 (aliás, previdências e sistemas de serviço público ao redor do mundo são uma preocupações recorrentes, mas isso é tema para outras Carta do Condado…).
Enquanto isso, o capitalismo segue, sempre mudando, se adaptando e, claro, gerando controvérsias. Se ele é o melhor sistema possível? Depende de quem você perguntar. Alguns dizem que é imperfeito, mas ainda o melhor que temos. Outros acreditam que precisamos de uma alternativa completamente nova. De qualquer forma, parece que o capitalismo ainda vai estar por aqui por um bom tempo, nos desafiando a encontrar um equilíbrio entre crescimento econômico e qualidade de vida. Da próxima vez que você ouvir falar sobre "crise econômica", "políticas neoliberais" ou "crescimento sustentável", lembre-se de que tudo isso faz parte da longa e complicada história do capitalismo tentando se reinventar – e, às vezes, tropeçando no caminho. Afinal, como disse Keynes, “a longo prazo, todos estaremos mortos”.
Dica da boa: e por falar em sistema previdenciário…
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Para concluir .
O que acaba com a pobreza e mais riqueza !!!
E jamais sera igualitaria .
Se e para ser tudo igual pergunto :
Por que nao escrevo como Machado , componho como Heitor ou Antonio, dirijo como Ayrto, jogo como Cristiano , Ronaldo, Kobe ou Curry ...
Vamos trabalar para dar educação basica de alto nivel a TODOS, oportunidade de trabalho, possibilidade de andar com as proprias pernas em vez de ser tutelados por um estado vampiro elefante .
Saudações .
Algumas observaçoes .
Lei da oferta e procura foi inventada mais ou menos na mesma epoca da lei da gravidade . Felizmente nao tentam revogar a lei da gravidade por decreto ....
Evidencia . Se em um determinado ecosistema existe uma super população de presas, aumenta a população de predadores . Se for reduzido o nro de presas , cai o nro de predadores .
Ha uma tendencia ao equilibrio . Sempre fugidio ...
A mão de Keines, visivel e grosseira , tem atras um braço, um corpo obeso e um cerebro ( obtuso e cheio de interésses , geralmente escusos, com vies de nomenklatura ).
A mao de Smith e sutil,l e, imagino, como aquela da familia Adams . Não posso afirmar por não te-la visto .
A luta da sociedade e ( deveria ser ..) por uma igualdade de oportunidade .
E uma minima rede de proteção para os REALMENTE necessitados .
Data venia , sou liberal .
Sorry, not sorry .
A total incongruencia e o odio da esquerda por quem gera riqueza , sendo que eles nao sabem produzir riqueza . E sao especialistas no oposto .
Que lhes serve , pois a nomenklatura nao aguenta quem nao e integralmente a favor .
Ou seja empresarios , imprensa livre , opiniões contrarias, liberdades civis , de expressão, sociedade civil , imperio da lei ...
Para concluir, Marx e seus descendentes adoram as benesses , as dachas, os vinhos , macallan , etc , enquanto cultivam seu odio e inveja de quem trabalha , produz , faz . Mas so para eles . Os demais devem ser seus escravos .