Nos últimos meses, alguns personagens tenebrosos do nosso passado não tão distante tem voltado aos jornais. Uma construtora, condenada por lavagem de dinheiro e que devolveu bilhões de reais desviados aos cofres públicos ganhou uma licitação para uma obra da Petrobras. O ex-ministro da Fazenda responsável pelo plano que mergulhou o país em uma recessão econômica e despertou o dragão inflacionário está fazendo de tudo para voltar a capitanear uma estatal. Por fim, e não menos importante, aquele que já foi o empresário mais poderoso do país e um dos homens mais ricos do mundo – deu declaração à mídia afirmando sua vontade de voltar aos negócios.
Como sabemos que brasileiro tem memória curta – e apostamos, também, que seus estagiários não conhecem essas figuras pitorescas – fizemos uma carta para relembrar não apenas o garoto do Rio, mas outros grandes escândalos financeiros que chacoalharam o mercado. Vamos aos “causos”:
(1) Eike Batista e as Empresas X - Eike foi capa dos jornais de business e de fofoca do Brasil no final da década de 90 até o início dos anos 2000. De playboy milionário, filho de um ex-ministro, que a esposa desfilava no Carnaval com uma coleira com seu nome (os anos 90…) e que tinha uma Lamborghini como item de decoração na sala, Eike construiu para si um império de empresas — o grupo X, formado por empresas de mineração, energia, construção naval e logística — que o levou ao topo do ranking da Forbes como a pessoa mais rica do Brasil e a 7a mais rica do mundo, em 2012, com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões. A EBX, empresa petrolífera do grupo, era vista como “rival” da Petrobras, enquanto a MMX, de mineração, era tão querida pelos investidores quanto uma Vale ou uma CSN. Isso sem contar os projetos de logística, da LLX, que incluíam, dentre outros projetos, um super porto marítimo.
Até que no ano seguinte veio o tombo no preço das commodities, seguido por investigações por parte da CVM de fraudes nas empresas X por omissão de fatos e manipulação de mercado e derrubaram o preço das ações das empresas X (em 2014, seu patrimônio caiu para menos de US$ 300 milhões) e teve a operação Lava Jato como o prego no caixão do império X, quando Batista e outros diretores da empresa foram acusados e punidos por itens como corrupção e lavagem de dinheiro, que o levou ao afastamento da gestão de suas empresas e à prisão.
(2) Caso Theranos e a nova Steve Jobs: a Theranos era uma biotech da Califórnia, liderada por Elizabeth Holmes e que pretendia revolucionar a indústria médica ao oferecer o Edison, um dispositivo que prometia eliminar o problema de fazer várias coletas de sangue da forma tradicional (com agulha e seringa) e substituí-los por uma simples picada no dedo que, a partir da tecnologia de microfluidos, seria o suficiente para identificar diversas doenças.
Antes mesmo de colocar o produto na rua, a empresa conseguiu contrato com grandes redes farmacêuticas dos EUA e chegou a captar mais de US$400 milhões com investidores, o que fez a empresa ser avaliada em cerca de US$ 9 bilhões. Tudo isso enquanto criava-se um hype ao redor da figura de Holmes, em que muitos apontavam ser a nova Steve Jobs (e que depois ficamos sabendo que ela se vestia no estilo de Jobs e forçava um tom de voz mais grosso para reforçar esse hype).
Na prática, entretanto, os testes quanto à eficácia do Edison mostravam resultados inconsistentes e a empresa guardava sob 7 chaves a tecnologia por trás do aparelho, afirmando ser uma estratégia de negócios. Até que especulações sobre fraudes na empresa começaram a surgir, com direito a batalhas judiciais e suicídio de cientistas da empresa.
Até que em 2015 começaram as denúncias que culminaram com o Wall Street Journal publicando uma reportagem expondo as fraudes da empresa com dados que levaram a uma investigação por parte do judiciário americano. Vários sócios e funcionários da empresa foram punidos judicialmente e a CEO da empresa foi condenada a 80 anos de prisão em uma sentença dada no início de 2022.
(3) Enron, o mais esperto da sala: esse caso virou até documentário e é sobre uma empresa de energia do Texas que fraudou, com a ajuda de bancos e empresas de auditoria (Arthur Andersen), os balanços da empresa e cometeu crimes fiscais por volta dos anos 2000. Após denúncias, as fraudes foram descobertas e como consequências a Enron pediu concordata, a empresa de auditoria foi dissolvida e diversos casos judiciais foram instaurados por investidores da empresa e consumidores, além da lei Sarbanes-Oxley (SarbOx) ter sido criada para fazer frente a casos de escândalos financeiros como este.
(4) Bre-X Minerals e sua mina de ouro: Este caso aconteceu com uma empresa de mineração listada na bolsa do Canadá no final dos anos 90. Tudo aconteceu quando no final de 1995 a Bre-X anunciou ao mercado que havia encontrado uma grande jazida de ouro em uma de suas reservas no sul da Indonésia. Logo em seguida a empresa firmou parceria com uma gigante americana de mineração, a Freeport MacMoRan Cooper & Gold, e começou a lançar sucessivos relatórios que culminaram com estimativas da mina indonésia totalizar cerca de 200 milhões de onça de ouro, o que equivaleria a maior jazida de ouro já encontrada na história. Nessa brincadeira, em meados de 1996 a pequena empresa canadense já era avaliada em mais de US$ 6 bilhões.
Tudo começou a dar errado quando a sócia americana desconfiou constantes relatórios geológicos e pediu uma due dilligence com outra empresa de geologia, que concluiu que a mina era, na verdade, muito pequena e insignificante. A história termina com os papéis da empresa sofrendo uma queda de mais de 80% e o geológo originalmente responsável pelas grandes estimativas desaparecendo, com alguns relatando que ele havia sofrido um acidente na selva indonésia e outros apontando suicídio ou até assassinato. Pesado, roteiro de cinema.
(5) Volkswagen e o ESG: na onda dos carros elétricos e das políticas ESG, a Volkswagen — a maior empresa automobilística do mundo até 2020 e com capital aberto na bolsa de NY — passou por um grande escândalo empresarial na última década. Tudo aconteceu quando, em 2015, após investigações do órgão ambiental americano, descobriram que a empresa fraudou seus testes de emissão de gases poluentes no intuito de permanecer dentro dos padrões americanos, quando na verdade as emissões eram muito maiores que o permitido. Como consequência, a empresa teve que pagar uma multa de US$14,7 bilhões, uma das maiores da história para uma empresa de capital aberto.
Mudando de assunto…
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O caso 4 realmente foi roteiro de cinema.
Gold 2016 com Matthew McConaughey.
Excelente texto, grato pela aula