Voo de galinha? - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - Dos males o menos pior
A notícia de unanimidade na decisão da política monetária deu uma animadinha no mercado desde o fim da semana passada.
Mas o mercado adora uma incerteza para chamar de sua. E a bola da vez é a sucessão do presidente do Banco Central. Nomes como Gabriel Galípolo e André Lara Resende - este com o apoio do PT - estão no centro das discussões.
Tem um dos dois que acredita que o déficit nas contas públicas não é um problema para economias que emitem sua própria moeda. Afinal, no limite, é só ligar a impressora de dinheiro. E no kit com a impressora vem a tesoura mágica que corta a inflação automaticamente também?
Para quem não entendeu, essa é a linha de pensamento que o possível próximo presidente do Banco Central, André Lara Resende - se depender do PT-, já defendeu por aí. Fica clara a ressalva que o mercado faz a tê-lo como o banqueiro central, né?
E aí temos o outro nome da lista, Gabriel Galípolo, que participou de uma live de uma hora essa semana. Claro que em uma hora inteira ele tinha que soltar pelo menos uma pérola que o mercado adoraria não ouvir. Pois bem: segundo ele, cabe ao poder eleito definir a meta de inflação e, ao BC, criar as condições para atingir. Sim, em termos práticos é isso pode acontecer, mas o tom de passividade diante de um governo com histórico de pressão sobre o Banco Central não pegou bem.
Para dar uma acalmada no coraçãozinho da galera, o governo decidiu publicar, depois da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), o decreto que diz que a meta contínua de inflação vai ser de 3% a partir de 2025. Ah, e o Galípolo, que atualmente é diretor de política monetária do Banco Central também participou da reunião.
Observamos a arrecadação federal de impostos crescer cerca de 10% em termos reais no mês de maio, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, ajustado pelo IPCA. O resultado foi o melhor para o mês em toda a série histórica, iniciada em 1995, alcançando R$202,9 bilhões. No acumulado do ano, o aumento real foi de 8,72%.
Dois pontos importantes influenciaram esse resultado:
R$7,2 bilhões arrecadados pela União devido à atualização de recursos em fundos offshore.
Perda estimada de R$4,4 bilhões decorrente da calamidade pública no Rio Grande do Sul.
Claramente, o lado da receita não é um grande problema para o atual governo. Já já a gente chega no lado das despesas…
Nos indicadores, o IPCA-15, prévia da inflação, veio abaixo das expectativas do mercado financeiro, registrando 0,39% no mês de junho. Este mês o indicador já sofreu o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. Em comparação com o mês de maio, o indicador apresentou uma desaceleração de 0,05 ponto percentual.
Fonte: valor
A notícia do IPCA-15 abaixo das expectativas é, teoricamente positiva, mas não se esqueça que o mercado vive de expectativas. A inflação corrente pode estar dando sinais de melhora, mas as perspectivas de que as despesas não vão se alinhar no médio e longo prazo já são suficientes para acender o alerta de inflação futura. E, como sabemos, qualquer possibilidade de inflação no futuro abafa os motivos de comemoração sobre o desaquecimento da economia hoje.
Na quarta-feira (26), no mesmo dia em que o IPCA-15 foi divulgado ligeiramente abaixo das expectativas, o dólar ultrapassou R$5,50, desvalorizando mais de 1% - maior valor em mais de 2 anos. An?
Vou te contar o que causou essa surra no real: 1) o cenário externo com as declarações dos dirigentes do FED; 2) Lula anunciando que o ajuste fiscal deve vir através do aumento de receita e não de corte de gastos - tributação dos fundos offshores fazendo escola; 3) o déficit primário batendo quase R$61 bilhões em maio, o pior resultado para o mês desde 2020 - só para manter a tradição, né?
No entanto, nem tudo são lágrimas: o nosso querido Ibovespa está em um verdadeiro voo - de galinha? - acumulando alta na semana e mantendo-se acima dos 122 mil pontos.
EUA - O Gigante caiu
Lá fora, o que realmente chamou a atenção foi o tombo da Nvidia esta semana. As ações da empresa chegaram a perder cerca de 13%. Mas ao longo da semana chegou a recuperar parte das perdas, subindo quase 7%. Não houve nenhum grande motivo para essa movimentação brusca, parece que os investidores só queriam colocar um pouco de dinheiro no bolso.
Além de Jensen Huang, CEO da Nvidia, perdendo US$5 bilhões - só na segunda-feira -, o mercado ainda teve que digerir as duras declarações dos dirigentes do Fed.
Sobre as "duras declarações", veja o exemplo de Michelle Bowman. Em maio, ela havia dito que não via espaço para corte de juros nos EUA este ano. Agora, em conversa com jornalistas após um evento em Londres na terça-feira (25), declarou que não acredita numa redução das taxas de juros na maior economia do mundo nos "anos futuros".
Os índices de ações seguiram a montanha-russa da gigante de tecnologia, exceto o Dow Jones, que ficou um pouco aquém de toda essa volatilidade e só teve impacto negativo somente na terça-feira (25), puxado pelas falas dos dirigentes do Fed.
Dados de mercado
Data-base: 26 de junho 2024.
Fonte: Yahoo Finance
Frase do dia
"Os mercados financeiros são notoriamente instáveis, em parte porque os mercados reagem de maneira exagerada a informações que são, na verdade, ruído." - Robert J. Shiller
Curiosidade da semana
Estrelas do mar não têm corpos. Junto com outros equinodermos (como ouriços-do-mar e dólares de areia), seus corpos inteiros são tecnicamente classificados como cabeças .